Maria João Marques
E, de repente, depois de uma
entrevista de António Borges, um coro de vozes se levantou apontando O problema
da falta de competitividade das empresas portuguesas (i.e., do país): os altos
salários pagos. Por acaso (ou não) o coro de vozes fez-se mais ouvir em
jornalistas, comentadores e políticos do que em empresários.
Ora bem: sendo certo que os
salários em Portugal aumentaram mais nos últimos anos do que a produtividade -
o que tornou as empresas portuguesas progressivamente menos competitivas - só
alguém alucinado pode supor que o problema dos salários é o fulcro da falta de
competitividade nacional. Tirando na administração pública, nas empresas
públicas, em institutos e fundações públicas e nas grandes empresas privadas
geridas como se fossem públicas, a política de ordenados é geralmente
conservadora e anda perto da produtividade de cada um (e se alguém pensa que
todos os custos das empresas com a absurda legislação laboral do país - que
pouco mudou com este governo - não se reflectem também em ordenados mais
baixos, esse alguém vive noutro planeta).
O problema fulcral da falta de
competitividade das empresas é o Estado gordo e mastodôntico que temos, não os
salários. O problema da falta de competitividade do país são as leis absurdas,
muito lindas em teoria e catastróficas na prática (onde se enquadra, com
direito ao quadro de honra, a legislação laboral), não os salários. A TSU é um
problema de competitividade do país. A legislação laboral é outro. A
(In)justiça, que tudo faz para penalizar as empresas, mais um. Os custos
fiscais das empresas (sejam em IRC, taxas e taxinhas, impostos sobre produtos
petrolíferos que tornam tudo mais caro por via das matérias-primas ou dos
custos de transporte, IVA em taxas alucinantes, e um largo etc.) são pouco
menos que mortais. A hiper-regulamentação controleira asfixia
qualquer empresa. E por aí adiante.
Mas, claro, como já passou
quase um ano desde a tomada de posse deste governo e ainda nada foi feito para
reduzir de forma estrutural a despesa pública (apenas se implementaram medidas
pontuais e facilmente reversíveis de redução de despesa), nada faz prever que o
governo pretenda prescindir da sua colecta. Donde: é necessário tapar o sol com
a peneira e distrair os tolinhos com um suposto problema nacional, para que
ninguém perceba que o problema é e continua a ser o estado, que faz tudo e
culpa todos para evitar emagrecer.
Enfim, esta discussão dos
salários tem um bom resultado. Geralmente considera-se que o estado socialista
que temos apenas vai atrás dos 'ricos' (e 'ricos' do ponto de vista de quem
ganha o ordenado mínimo). Talvez agora se perceba que o estado (ou quem dele se
aproveita), para evitar reformar-se, irá atrás de quem seja necessário, mesmo
de quem ganha 700 euros brutos por mês. Chama-se a isto socialismo e é nisto
que temos votado.
Título e Texto: Maria João Marques, no blogue “Cachimbo de Magritte”,
11-06-2012
Edição: JP
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