Celso Ming
Uma velha história conta qual
foi o resultado de uma sindicância instaurada em algum ponto da França no
início do século 19.
Ao passar por uma aldeia,
Napoleão Bonaparte ficara indignado porque os sinos da igreja local não
repicaram em sua homenagem, como era de praxe. Imediatamente, mandou instaurar
um inquérito para apurar responsabilidades. Os mais velhos do lugar se reuniram
e apresentaram uma longa exposição de motivos para tentar explicar por que não
acontecera o que deveria ter ocorrido.
A lista começava com a
informação de que o sacristão estava doente e, sendo assim, se encontrava
impedido de cumprir suas funções. E prosseguia: a escada de madeira que dava
acesso ao campanário estava deteriorada e nela faltavam alguns degraus; havia
cinco anos, a cordinha do sino tinha sido danificada e, dois anos depois, o
sino perdera o badalo... A relação se estendia por mais e mais explicações. A
última delas era de que não existia mais sino, por impossibilidade de uso,
tinha sido removido.
Será mais ou menos o que a
Agência Nacional de Aviação Civil vai encontrar no relatório que, dentro de
alguns meses, lhe será encaminhado com as razões pelas quais um estouro de um
pneu de avião cargueiro na pista de Viracopos paralisou o aeroporto por 46
horas, causou o cancelamento de nada menos que 495 voos, bagunçou a vida
pessoal e profissional de cerca de 40 mil passageiros e impôs prejuízos milionários
às companhias de aviação.
Se for até às suas últimas
consequências, a sindicância acabará concluindo que a administração deste país
não se comove com os problemas de infraestrutura pelos quais passa a economia,
mesmo tendo de entregar serviços de Primeiro Mundo durante a Copa do Mundo de
2014 e a Olimpíada de 2016.
A administração atual do
Brasil entende que concessões e parcerias com o setor privado não passam de
privataria e que tudo o que não é estatal ou não serve ou não presta. É a mesma
que segue imaginando que estimular o consumo seja o suficiente para assegurar
automaticamente os investimentos do setor privado e o aumento da produção
nacional.
O apagão dos aeroportos é
somente um dentro de uma lista enorme de apagões de logística que emperrem o
avanço da economia. Há os apagões elétricos, das ferrovias, dos metrôs, das
rodovias, dos portos e das comunicações (em especial da telefonia). Há o apagão
do trânsito das grandes cidades, o da segurança pública, o dos sistemas de
saúde e o da educação e do ensino. E há, ainda, o apagão da produção de
petróleo e derivados, da Previdência Social, do sistema tributário, os
provocados pela poluição do ar e da água, o dos licenciamentos ambientais, o
dos marcos regulatórios, o das agências de regulação, o do Judiciário, o apagão
da governança pública, o do sistema político - e ninguém deixe de incluir nesta
lista o apagão moral.
Eis por que um simples estouro
de pneu no aeroporto de melhores condições meteorológicas do País pode provocar
um pandemônio. O Brasil vive uma situação em que os serviços públicos operam no
limite. Qualquer imprevisto ou qualquer imponderável pode ser suficiente para
provocar o colapso de tudo... e a falta de badaladas.
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