A China continental, depois de
mais de décadas de afastamento e tensões com a República Democrática de Taiwan
(Formosa), na ilha de mesmo nome ao largo do litoral sul do gigante amarelo,
parece ter definitivamente desistido de querer fazer a reunificação das duas
Chinas no peito e na marra.
O estreito de Taiwan sempre
representou uma barreira, mais simbólica do que física, a manter a
independência do país fundado por Chiang Kaichek após a revolução comunista
liderada por Mao Tsé Tung. A reunificação das duas Chinas pelo uso da força,
sempre foi uma ameaça constante a pairar sobre a ilha e só não se deu graças ao
apoio intenso do Ocidente.
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Barcos lançadores de mísseis da Patrulha Costeira de
Taiwan nas águas do Estreito de Taiwan num exercício militar em maio último.
Foto: AFP/Getty Images
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O resultado desse apoio foi o
crescimento e enriquecimento formidável que ocorreu no novo país insular, ao
ponto de a China atual deixar de desejar a sua anexação como província da República
Popular da China e buscar uma abordagem mais cooperativa com o intuito de ter
Taiwan mais como um aliado econômico do que como um território arrasado pela
guerra anexado à força ao país. Taiwan é hoje uma potência econômica que à
China não interessa de forma alguma ver decair, com seu regime capitalista
privado e democrático próprio, mas receber a ilha como uma aliada, respeitando
seu regime tal como fez com Hong Kong, quando da devolução da possessão
britânica a Pequim no fim do século XX.
Ao longo de sua história,
Taiwan mudou de mãos entre diversos de seus ocupantes coloniais, incluindo
europeus e japoneses, antes de se tornar a República de Chiang Kaichek e num
‘campo de batalha potencial’ com o gigante do norte, como ocorreu na segunda
metade do século XX.
Nos últimos anos, pelos fatos
expostos acima, as tensões militares entre China e Taiwan se arrefeceram e se
flexibilizaram, com Pequim na espera de o reforço da integração econômica e de
infraestrutura física ocorra com esse “tigre asiático” de modo pacífico e
construtivo, cada lado respeitando suas soberanias. Para tanto, Pequim se
propõe a construir em cooperação com Taipé, em breve, uma infraestrutura de
ponte sobre o Estreito de Taiwan ligando os dois países fisicamente, para
cumprir um imperativo geossocial (geopolítico e geoeconômico) de reunificar-se
com a ilha em bases semelhantes às levadas a termo com Hong Kong.
O jornal chinês “South China
Morning Post” publicou uma matéria na qual informa que, em 05 de agosto próximo
passado, no seu Plano Rodoviário Nacional, recentemente aprovado para o período
de 2013 a 2030, o Conselho de Estado incluiu dois projetos de rodovias que
ligarão Taiwan ao continente.
Uma delas envolve a proposta
da criação da Via Expressa Pequim - Taipé, que começaria em Pequim, passaria
por Tianjin, Hebei, Shandong, Jiangzu, Anhui, Zhejiang e Fuzhou Fujian, antes
de cruzar o estreito de Taiwan e chegar Taipei, a capital da República
Democrática de Formosa (Taiwan).
Outra via terrestre proposta
começaria concomitantemente em Chengdu e passaria por Guizhou, Hunan, Jiangxi e
Fujian Xiamen, antes de atravessar o estreito em direção ao arquipélago de
Kinmen administrado por Taipé, e, eventualmente, terminando em Kaohsiung, no
sul de Taiwan.
O plano, por enquanto, não especifica que tipo de infraestrutura – uma ponte ou um túnel, por exemplo – seria usado para ligar o continente ao país insular separado do continente por mais de 180 km (111 milhas), mas, desde 1996, se não antes, Pequim vem apelando publicamente para a construção dessa infraestrutura.
Uma proposta chegou a envolver
a construção de um túnel submarino de 122 km, o que foi considerado preferível
por causa da relativa estabilidade sísmica do local e por seu trajeto estar em
área de águas mais rasas. Este túnel ligaria a província de Fujian Pingtan à
Ilha de Hsinchu, no norte de Taiwan – a uma distância de quase três vezes maior
do que a do EUROTÚNEL, que liga a Grã-Bretanha à França – e teria um custo
estimado de 400 a 500 bilhões de yuan (65 a 81 bilhões de dólares) para
construir.
Outra proposta envolve a
ligação do município de Chiayi, no sul de Taiwan, com a ilha próxima de Kinmen,
via túnel ou ponte, onde a via se conectaria com a infraestrutura prevista que
acabaria ligá-la com a cidade chinesa de Xiamen, na província de Fujian.
Tais construções, além de
representarem investimentos maciços por parte de ambos os países, principalmente
nos trechos de travessia do Estreito de Taiwan, envolvem preocupações com
segurança, com vulnerabilidades geológicas (devido aos terremotos) e com toda a
extensão da largura do estreito, um verdadeiro desafio tecnológico à sua
execução.
Hoje Formosa tem uma
identidade nacional forte e diferente da China Continental. O seu IDH é muito
melhor e o seu PIB, proporcionalmente ao tamanho do seu território é também
maior e a República Democrática da China (nome oficial de Taiwan) é considerada
como sendo um dos “tigres asiáticos”, mantendo, no entanto ainda fortes elos
culturais com o Continente.
A mudança de postura da China
continental em relação a Taiwan, na medida em que o seu interesse de que Taiwan
continue como está, com seu florescente capitalismo privado e sua autonomia
política democrática, poderá não apenas possibilitar a consecução de todas
essas formidáveis obras, como também representar mais um foco de progresso e
geração de riqueza e trabalho, que junto com Hong Kong e possivelmente com outras
“áreas com regimes especiais”, possam ser o modelo chinês de sepultamento
progressivo do socialismo no país com o enriquecimento crescente e melhoria da
qualidade da cidadania no país, até desembocar numa democracia superior, uma
vez que o capitalismo privado no país asiático está em franco desenvolvimento,
embora os seus capitais privados ainda estejam sendo aplicados em outros
países, justamente pela falta de segurança jurídica típica do comunismo.
Uma vez que a reunificação tem
sido sempre um imperativo para Pequim, até que ela realmente ocorra, a
infraestrutura proposta é um importante passo simbólico para sua estratégia de
integração. Padrões comerciais podem mudar rapidamente em conformidade com os
interesses econômicos e políticos de parte a parte, especialmente agora que a
economia chinesa em si mesma passa por mudanças internas maciças.
Consequentemente, uma conexão física com Taiwan pode ter uma importância
considerável no que parece ser uma mudança extraordinária que pode estar
surgindo no horizonte como um novo tipo de pensamento estratégico de Pequim até
mesmo com relação à China que seus dirigentes querem ter no futuro.
Título e Texto: Francisco Vianna, (das agências de
inteligência), 10-8-2013
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