Ser economista hoje na
Argentina é ter uma profissão de alto risco e perigosa; se for muito honesto e
íntegro, pior ainda, pois tais virtudes podem acarretar um telefonema à
meia-noite feito pelo governo ameaçando-o de prisão.
Orlando Ferreres, um
respeitado economista de Buenos Aires, foi o mais recente economista a ousar
dizer aos seus leitores que a inflação oficial do país não passa de um pacote
de mentiras.
Naturalmente, matérias como as
do jornal Financial Times (FT),
contam que ele recebeu uma chamada de Guillermo Moreno, o Secretário de
Comércio de Cristina de Kirchner, ameaçando-o de prisão pelo seu artigo
publicado nesse jornal em que descreveu a inflação real do país situando-se em
mais de 23,8 por cento nos últimos 12 meses, contra o índice governamental do
desacreditado INDEC de 10,6 por cento no mesmo período.
Ferreres poderá agora ser
preso por até dois anos sob a acusação de – segundo Moreno – “publicar ‘números
falsos’ sobre a economia argentina que poderão desencadear um aumento ou queda
da dívida pública argentina”, capacitando seus clientes a ultimar seus negócios
e obterem bons lucros sem que o estado portenho possa fazer qualquer coisa para
impedi-los.
Isso já é um negócio comum e
usual para o governo de Cristina de Kirchner, que prefere antes eliminar
acionistas, ao manter os números da inflação artificialmente baixos, do que ter
o nariz esfregado na bagunça profana que ela está fazendo da economia
argentina. Melhor manietar e controlar pela coação os economistas
independentes, mesmo a custa da fuga de capitais e de mão-de-obra qualificada
do país, do que sofrer ao ter que assumir a responsabilidade pelos seus erros.
Na visão populista e fascista
do moderno socialismo peronista, pelo menos algo de bom deve emergir da
investigação de economistas e de jogá-los na cadeia: no futuro, isso vai ajudar
os investidores a identificar na Argentina quem está realmente dizendo a
verdade.
Título e Texto: Francisco Vianna, (com base em matéria
do jornal Financial Times), 13-9-2013
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