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Foto: Nelson Jr, SCO/STF |
O presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, contestou informações da
reportagem “Não serei candidato a presidente”, publicada na edição 823 de
ÉPOCA. Um extrato de sua carta foi publicado na edição 825, que está nas
bancas. A íntegra é transcrita abaixo, seguida de nota da redação.
"A matéria ‘Não serei candidato a presidente’, divulgada
na edição nº 823 dessa revista, traz em si um grave desvio da ética jornalística.
Refiro-me a artifícios e subterfúgios utilizados pelo repórter, que solicitou à
Secretaria de Comunicação Social do Supremo Tribunal Federal para ser
recebido por mim apenas para cumprimentos e apresentação. Recebi-o por pouco
mais de dez minutos e com ele não conversei nada além de trivialidades, já que
o objetivo estabelecido, de comum acordo, não era a concessão de uma
entrevista. Era uma visita de cunho institucional do Diretor da Sucursal de
Brasília da Revista Época. Fora o condenável método de abordagem, o texto
é repleto de erros factuais, construções imaginárias e preconceituosas, além
de sérias acusações contra a minha pessoa.
A matéria é quase toda
construída em torno de um crasso erro factual. O texto afirma que conheci o
ministro Celso de Mello na década de 90, e que este último teria escrito
o prefácio do meu livro ‘Ação Afirmativa e princípio Constitucional da
Igualdade’. Conheci o ministro Celso de Mello em 2003, ano em que
ingressei no STF. Não é dele o prefácio da obra que publiquei em 2001, mas sim
do já falecido professor de direito internacional Celso Duvivier de Albuquerque
Melo, que de fato conheci nos anos 90 e foi meu colega no Departamento de
Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Mais grave, porém, é a
acusação de que teria manipulado uma votação, impedindo deliberadamente que um
ministro do STF se manifestasse. O objetivo seria submeter o
ministro a pressões da ‘mídia’ e de ‘populares’. Isso não é verdade. Ofensiva
para qualquer cidadão, a afirmação ganha contornos ainda mais graves quando
associada ao Chefe do Poder Judiciário. Portanto, antes de publicar informação
dessa natureza, o repórter tinha a obrigação de tentar ouvir-me sobre o
assunto, o que pouparia a revista de publicar informação incorreta sobre
minha atuação à frente da Corte.
No campo pessoal, as inverdades narradas na matéria são ainda mais ofensivas e revelam total desconhecimento sobre a minha biografia. Minha mãe nunca foi faxineira. Ela sempre trabalhou no lar, tendo se dedicado especialmente ao cuidado e à educação dos filhos. O texto, que me classifica como taciturno, áspero, grosseiro, não apresenta fundamentos para essas afirmações que, além de deselegantes, refletem apenas a visão distorcida e preconceituosa do repórter. O autor da matéria não apresenta elementos que sustentem os adjetivos gratuitos que utiliza.
Também desrespeitosa é a
menção aos meus problemas de saúde. Ao afirmar que a dor causou ‘angústia e
raiva’, o jornalista traçou um perfil psicológico sem apresentar os elementos
que lhe permitiram avaliar o impacto de um problema de saúde em uma pessoa com
a qual ele nunca havia sequer conversado.
Outra falha do texto é a
referência à teoria do ‘domínio do fato’. Em nenhum momento a teoria foi
evocada por mim para justificar a condenação dos réus no julgamento da Ação
Penal 470. Basta uma rápida leitura do meu voto para verificar esse fato.
Finalmente, não tenho
definição com relação ao momento de minha saída do Supremo e de minha
aposentadoria. Muito menos está definido o que farei depois dessa data, embora
a matéria tenha afirmado - sem que o jornalista tenha sequer tentado
entrevistar-me sobre o tema - que irei dedicar-me ao combate ao racismo.
Triste exemplo de jornalismo
especulativo e de má-fé.
Joaquim Barbosa, presidente do Supremo Tribunal Federal”
Revista ÉPOCA, 25-03-2014, 17h04
Nota da Redação: ÉPOCA
se pauta sempre pelos Princípios Editoriais das Organizações Globo, repudia as
acusações de desvio ético e má-fé – e lamenta os erros factuais contidos na
reportagem, pelos quais pede desculpas.
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só sei que ele for um dia candidato a qualquer cargo político não votarei nele e faço campanha contra.
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