Cesar Maia
1. Pode-se compreender o estresse na forma de desabafo, do prefeito
do Rio, à imprensa nacional e estrangeira sobre a segurança pública no Rio.
Afinal, o recrudescimento dos índices de criminalidade no Rio ocorre exatamente
no momento da Olimpíada.
2. O prefeito sonhava com a consagração de sua administração tendo
como emblema os Jogos Olímpicos. Isso não ocorrerá mais. E não apenas em função
da segurança pública. Não é um ciclo favorável. A começar pela crise econômica,
política, ética e social que atinge especialmente o Rio.
3. As taxas de desemprego afetam duramente o Rio. A aposta nos
royalties do petróleo e no endividamento ruiu. Poderia se prever em 2014? Se
sim, o próprio prefeito deveria ter alertado. O fato é que os serviços públicos
foram muito atingidos por essa crise e, é claro, a segurança pública.
4. A crise ética chegou ao Rio e as investigações e delações
começaram a ter também sotaque carioca. Problemas com obras que não ficarão
concluídas no prazo criaram um clima de insegurança. O Metrô e a fotografia da
ciclovia partida ganharam destaque.
5. Mas com a criminalidade crescendo, a segurança pública foi
escolhida pelo prefeito para lavar as mãos e dizer: não tenho nada com isso, é
problema dos outros do Estado em primeiro lugar. E escolheu palavras fortes
para dizer isso: vergonha na cara, desmando, terrível, horrível.
6. Mas se ele acompanhasse os ciclos de segurança pública no Rio
veria que essa ciclotimia é comum e, por isso mesmo, esperada. Basta entrar no
site do Instituto de Segurança Pública da Secretaria de Segurança Pública no
link de estudos. Há uma análise de 35 páginas sobre a criminalidade no Rio
entre 2003 e 2015.
7. Ali vai se ver, e as conclusões do estudo vão sublinhar, que o
último desses ciclos ocorreu entre 2013 e 2014, quando a criminalidade cresceu
e muito no Rio. Mas o ano de 2015 foi de refluxo, ou seja, os índices de
criminalidade voltaram a cair de forma intensa, especialmente os homicídios.
8. Com estes números destacados pelos governos e pela imprensa
durante 2015 e no início de 2016, criou-se a sensação que o ciclo de 2015
prosseguiria por 2016 formando um contra-biênio a 2013-2014. Entrevistas, estatísticas,
gráficos, fotos e comemorações. Entusiasmo.
9. O prefeito estava calmo e alegre, excluindo a segurança pública
de suas preocupações olímpicas e -como consequência- eleitorais. Mas o ciclo
positivo foi curto e o contra-ciclo voltou com intensidade. E se não bastasse o
crescimento dos índices de criminalidade, estes vieram acompanhados das crises
econômica, social e administrativa do governo do Estado.
10. Com um explosivo choque de expectativas e a proximidade dos
Jogos Olímpicos, o prefeito estressou e buscou o máximo destaque lavando as
mãos e focalizando culpados. E se a imagem pré-olímpica não ia bem, com o
estresse do prefeito, piorou. Afinal, depois de 7 anos, desde a escolha do Rio
para a Olimpíada, é a primeira vez que isso ocorre. Antes eram afagos e agora
agressões. Todos juntos! E agora?
Título e Texto: Cesar Maia, 5-7-2016
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