segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

A revolução não dorme

Alberto Gonçalves

Em Cuba, de madrugada, três jornalistas do Expresso e da Sic saíram da casa onde se hospedavam para testemunhar a vigília final do "povo" ao sr. Fidel. Um telefonema do proprietário bastou para que, mal trespassaram a porta, caíssem nas mãos da polícia. Não se trata, ao contrário do que refere a enviada do Expresso, da "insólita situação de detidos pela polícia cubana". São apenas os comportamentos triviais em regimes totalitários: a vigilância, o medo, a desconfiança, o segredo, a denúncia, a prisão sem motivo aparente. Em lugares como aquele, a situação nada tem de insólito.

Nem é insólita a indiferença que, por cá, a maioria dos colegas das pessoas envolvidas dedicou ao episódio. Seria até esquisito que, após dias a fio de louvores ao "líder histórico" e à "revolução triunfante", os nossos media acabassem por admitir que, afinal, Cuba é uma barbárie sem grandes rivais no hemisfério norte. Quando o assunto é a prepotência, os jornalistas daqui gostam imenso de recordar os interrogatórios (alguns superiores a meia hora - o horror!) que ocasionalmente sofreram à entrada dos EUA. E se um se visse encarcerado em qualquer país democrático, ainda que por atropelar uma velhinha, a classe desceria a avenida com archotes. Mas uma ditadura de esquerda pode, com total discrição, fazer o que quiser com eles. E, em certos casos, é bem feito.
Título e Texto: Alberto Gonçalves, Diário de Notícias, 8-12-2016

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