Luciano Ayan
Ai, ai…
Sempre é bom coletar
evidências de nossas teses.
Este blog sempre afirmou que a
direita brasileira possui dois flagelos:
(1) a negação da política,
(2) a fé cega na crença.
A partir da fé cega na crença,
o indivíduo começa a dizer que seu adversário socialista “errou” quando na
verdade… ele acertou. O problema é que o acerto dele – mesmo que seja
totalmente imoral – não é percebido. A partir daí, a conversa geralmente vira
papo de maluco.
Por exemplo, quando alguém
vende um bilhete premiado falso da loteria e engana sua vítima, isso não
significa que o fraudador “errou no projeto de transformar o comprador num
milionário”, mas acertou taticamente em sua intenção imoral de surrupiar o dinheiro
de seu alvo. Quando um sujeito estupra mulher, ele não “errou no projeto de
deixá-la com boas lembranças de uma sedução”, mas levou a cabo sua real
intenção: praticar uma violência que traumatizaria sua vítima. Após a morte de
Fidel Castro, sabemos que ele não “errou no projeto de criar uma sociedade
próspera e sem classes”, mas acertou em sua intenção de criar um curral de
gente para que ele pudesse se aproveitar do povo e viver como um nababo.
Sem a fé cega na crença, vemos
as pessoas como elas são, ao invés de cairmos nas superfícies de discursos que
normalmente nos levam à interpretação infantil dos fatos. Como diria Lênin,
quem tem crença em discurso nem sequer participa de verdade da política.
Um dos fatores para
compreender como podemos nos livrar da fé cega na crença é entender o que
podemos chamar de segundo padrão do fraudador. É bem simples: todo fraudador
possui dois modos de operação. No primeiro, ele aplica sua fraude. No segundo,
após ser descoberto, ele tentará convencer o público de ter “errado”. E para
que ele faz isso? É que ele compreende que as sanções morais e legais aplicadas
a alguém que “errou” são muito menores do que aquelas aplicadas a quem tem dolo.
Muito provavelmente por isso os socialistas tenham historicamente convencido
algumas pessoas de direita a dizerem que eles “erraram” ou que “o socialismo
errou”.
Mas não podemos cair no
truque: não podemos ser vítimas de um fraudador, mas, quando ele é pego com a
boca na botija, igualmente não podemos rotulá-lo de “enganado”. Precisamos
apontar a fraude.
E eis que a Odebrecht estará
publicando nesta sexta (2) um pedido de desculpas pelos atos de corrupção
que praticou e que levaram a companhia a assinar o maior acordo de leniência já
feito no mundo, no valor de R$ 6,7 bilhões. Levando em conta os juros que serão
aplicados durante os 20 anos nos quais a multa foi parcelada, o desembolso vai
superar R$ 8,5 bilhões.
O texto utiliza vários métodos
de controle de frame, a começar pela substituição da palavra corrupção por
“práticas impróprias”. Mas o frame mais importante (e desonesto) é a adoção do
segundo padrão do fraudador. A nota tem o título: “Desculpe, a Odebrecht
errou”.
Tem mais: “Foi um grande
erro, uma violação dos nossos próprios princípios, uma agressão a valores
consagrados de honestidade e ética. Não admitiremos que isso se repita”.
Claro que não foi erro. Assim
como o socialismo não foi “um erro”. Acreditar que a Odebrecht “errou” é fé
cega na crença, tanto quanto acreditar que “o socialismo fracassou”.
A Odebrecht sabia exatamente o
que estava fazendo. Ela ganhou muita grana com a corrupção. Após ser pega e não
ter mais escapatória, agora vem com a conversinha de “desculpe, erramos”, mas
só poderíamos aceitar qualquer desculpa se eles não lançassem o segundo padrão
do fraudador. Eles seriam honestos se dissessem algo do tipo: “Desculpe, nós
aplicamos até o fim um padrão de corrupção, em alinhamento com um projeto
totalitário de poder, que iria transformá-los em escravos. Vocês iriam ser
condenados ao racionamento de alimentos, desemprego endêmico, destruição de sua
liberdade e ao aprisionamento de divergentes. Tudo era parte do projetão. Não
foi um erro. Tudo foi planejado. Se aconteceu um erro, ele foi apenas no nível
tático, pois não conseguimos transformar vocês em gado dentro de um curral,
como vivem os cubanos e venezuelanos. Agora pedimos desculpas, pois não
faremos isso de novo, por que ficou mais difícil de fazer”.
Mas como tentaram enganar o povo
com a narrativa farsesca dizendo “ah, eu errei”, eles não merecem perdão.
E que fique a lição: nunca,
por hipótese alguma, chame seu oponente fraudador de “enganado” ou de alguém
“que errou”. Isso é tudo que ele quer. Ele depende deste frame – quando é pego
– para se sair bem.
Título, Imagem e Texto: Luciano Ayan, Ceticismo Político, 1-12-2016
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