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No mundo da geopolítica, as narrativas têm poder. Elas moldam percepções, influenciam decisões e, muitas vezes, distorcem a realidade para atender a interesses específicos. Recentemente, a Rede Globo, por meio de seu apresentador Luciano Huck, contribuiu para uma dessas narrativas ao promover uma entrevista com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky. Na conversa, Zelensky teria afirmado que a Ucrânia estaria disposta a devolver terras russas recentemente conquistadas e que proporia um plano de paz até novembro para encerrar o conflito com a Rússia. Essas declarações, que poderiam parecer otimistas e conciliatórias em outro contexto, são na verdade parte de uma narrativa cuidadosamente construída para criar uma falsa impressão sobre a realidade do conflito em curso.
Divulgação |
A Realidade no Terreno
Antes de qualquer análise, é
crucial lembrar que a Ucrânia não conquistou terras na Rússia. Pelo contrário,
as forças ucranianas têm enfrentado grandes dificuldades desde o início da
invasão russa em fevereiro de 2022. A chamada “contra-ofensiva” ucraniana, que
era esperada como um grande movimento militar para retomar territórios,
resultou em pesadas baixas e perdas significativas para as tropas ucranianas,
que foram rapidamente repelidas pelas forças russas.
O que se tem visto no campo de
batalha é uma devastadora resposta de Moscou, que intensificou seus ataques à
infraestrutura ucraniana, especialmente às redes de energia e abastecimento de
água, preparando o terreno para um inverno rigoroso que se aproxima. Essa
estratégia russa, se não quebrar a resistência ucraniana, certamente tornará a
vida no país ainda mais insustentável.
A Narrativa de Huck e a
Globo
Ao divulgar a entrevista com Zelensky, Luciano Huck e a Globo ajudam a perpetuar uma narrativa que serve aos interesses ocidentais, especialmente dos Estados Unidos e da OTAN, de que a Ucrânia ainda tem condições de ditar os termos de um possível acordo de paz. Essa narrativa, no entanto, está desconectada da realidade dos fatos. A Ucrânia, em sua situação atual, não está em posição de negociar ou impor condições; pelo contrário, a continuação do conflito só parece agravar ainda mais a situação do país.
A guerra, longe de ser uma
disputa que a Ucrânia pode vencer, tornou-se uma luta de sobrevivência em que o
povo ucraniano é, em grande parte, uma vítima de interesses geopolíticos
maiores. O conflito, que começou com a intenção de enfraquecer a Rússia por
meio de uma guerra por procuração, agora se volta contra a própria Ucrânia, que
enfrenta uma destruição sistemática de sua infraestrutura e um êxodo contínuo
de sua população.
A Proposta de Paz de
Zelensky
A ideia de que Zelensky possa
propor um plano de paz que tenha qualquer chance de ser aceito é igualmente
ilusória. A Rússia, sob o comando de Vladimir Putin, deixou claro que não
recuará e que os interesses russos na Ucrânia são de caráter existencial para a
segurança do país. Propor um plano de paz sem ter vantagem no campo de batalha
é, na melhor das hipóteses, uma estratégia desesperada, e na pior, uma ilusão
vendida ao público ocidental para manter a fachada de que a Ucrânia ainda tem
alguma margem de manobra.
O Papel da Mídia e a
Manipulação das Narrativas
Ao divulgar essa entrevista e
reforçar a narrativa de uma Ucrânia em posição de força, a Globo e Luciano Huck
não apenas distorcem a realidade dos fatos, mas também contribuem para a
manipulação das percepções públicas sobre a guerra. Isso não é apenas irresponsável,
mas também perigoso, pois alimenta expectativas irreais que podem prolongar
ainda mais o sofrimento do povo ucraniano.
A verdade é que a guerra na
Ucrânia já foi decidida em muitos aspectos, e o que resta agora é um cenário de
destruição e desolação. A única coisa que a Ucrânia pode realmente fazer é
buscar uma forma de minimizar suas perdas, mas para isso, seria necessário um
reconhecimento honesto da realidade no terreno – algo que a atual narrativa
promovida pela mídia ocidental se recusa a fazer.
Conclusão
A entrevista com Zelensky
promovida por Luciano Huck e divulgada pela Globo é um exemplo claro de como as
narrativas podem ser manipuladas para servir a interesses específicos, em
detrimento da verdade. O povo ucraniano merece mais do que ser usado como peão
em uma guerra por procuração; merece uma abordagem honesta e pragmática para
pôr fim a um conflito que já causou danos irreparáveis. Enquanto a mídia
continuar a perpetuar ilusões de vitória e propostas de paz fantasiosas, o
sofrimento continuará – e a responsabilidade por essa tragédia será, em parte,
de quem ajudou a alimentar essas narrativas enganosas.
Título e Texto: Agência de Notícias ABJ – Associação Brasileira dos Jornalistas, 29-8-2024
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