Irritado com a Globo, Eurico Miranda, ex-presidente do Vasco da Gama, mandou confeccionar camisas com a logo do SBT para final do Brasileiro
Aniele Lacerda
Silvio Santos faleceu, aos 93
anos, neste sábado por volta das 4h, em São Paulo. De acordo com o comunicado
do hospital Albert Einstein, Silvio Santos morreu em decorrência de
broncopneumonia após infecção por Influenza (H1N1).
O empresário era carioca e
torcedor do Fluminense, mas teve ligação curiosa com um rival.
Na tarde de 18 de janeiro de 2001, uma cena ficou marcada antes mesmo de a bola rolar na final da Copa João Havelange entre Vasco e São Caetano, no Maracanã. Quando o time da casa entrou no gramado, um segredo foi revelado a milhões de pessoas que assistiriam ao jogo na Globo: a equipe disputaria a decisão com a marca do SBT na camisa. A TV de Silvio Santos.
Romário |
Os bastidores dessa história
foram revelados em detalhes na série documental “A Mão do Eurico”, disponível
no Globoplay.
A série exibe imagens de
acervo e depoimentos de ex-jogadores, funcionários do clube à época e
jornalistas. Eles contam que a surpresa ao ver a logo do SBT na camisa não se
restringiu aos torcedores.
– Quando a gente sai da sala
de aquecimento do Maracanã e a gente chega para pegar a camisa, está aquele
símbolo grandão do SBT. A primeira coisa em que a gente pensou foi que o Silvio
Santos estivesse patrocinando e que a gente ia receber os salários atrasados –
diz Pedrinho, ex-meia e atual presidente eleito do clube.
Próximo aos dirigentes do Vasco da época, Romário diz na série que havia escutado uma sugestão dias antes. Mas até minutos antes do jogo ele não sabia qual atitude seria tomada.
Eu não sei se foi o Euriquinho
(filho de Eurico Miranda) ou alguém que deu essa ideia. A frase foi assim: “Bem
que a gente podia foder a Globo”.
A guerra de Eurico com a Globo
começou no dia 30 de dezembro de 2000, quando caiu parte do alambrado de São
Januário durante a final entre Vasco e São Caetano. O dirigente se sentiu
injustiçado com a cobertura do episódio feita pelos telejornais da emissora.
Repórter da Globo no gramado
de São Januário naquele dia e atual diretor de Conteúdo do Esporte da empresa,
Renato Ribeiro explica na série os bastidores da relação na época.
– No sábado (dia do jogo), a
reportagem do Jornal Nacional foi ao ar e não houve contestação dos vascaínos,
do Eurico ou do Vasco. O problema se deu nas reportagens de domingo. Por causa
dessas reportagens, o Vasco fez uma reclamação formal à Globo. E, nesse caso, o
Vasco tinha razão. As reportagens foram infelizes, porque elas não obedeceram à
ordem cronológica dos fatos. Mas não houve uma intenção deliberada da Globo de
vilanizar o Eurico. Tanto que na segunda-feira pediram para que eu fizesse uma
reportagem contando de forma bem didática e na ordem cronológica tudo que tinha
acontecido no jogo – diz Renato.
No lado vascaíno, Euriquinho
revelou à série que a ideia original não era incluir a logo do SBT na camisa.
– O objetivo inicial era botar
o Ratinho. Tinha um bonequinho que tinha um bigodinho, igual ao do Ratinho. Era
para botar esse bonequinho na camisa. Acabou que ele (Eurico) achou por bem ser
o símbolo da SBT.
Quando o Vasco entrou no
gramado do Maracanã em 18 de janeiro de 2001, um sentimento de choque tomou
conta inclusive de executivos do SBT.
– Aqui dentro do SBT ninguém
sabia. Foi uma surpresa total – revelou Fernando Pelegio, diretor da emissora à
época.
Disputa de colecionadores
Depois de vencer o jogo no
Maracanã por 3 a 1, o Vasco nunca mais usou a camisa com a marca do SBT. E aí
começou a disputa dos colecionadores para conseguir o uniforme. As
circunstâncias tornaram aquela peça uma relíquia. Utilizada em um único jogo,
ela nunca foi vendida em lojas e guarda memória do quarto título brasileiro do
clube.
A dificuldade para encontrá-la
desperta a curiosidade: que fim levaram as camisas usadas pelos jogadores
vascaínos na conquista do título brasileiro de 2000? A reportagem do ge buscou
a resposta com os próprios campeões.
Não se sabe exatamente quantas
camisas com o patrocínio do SBT foram produzidas – os colecionadores acreditam
em pelo menos três para cada jogador, com a possibilidade de haver mais
exemplares destinados a dirigentes e funcionários.
Para evitar fraudes, quem
entende do assunto sabe identificar rapidamente se uma camisa é autêntica.
Enquanto as réplicas podem ser vistas nas arquibancadas, a original foi
confeccionada com o número (frente e costas) em tecido aveludado.
– A primeira coisa é pegar a
camisa, sentir o tipo de tecido, os bordados. A marca da Kappa no peito é
bordada. Geralmente nas réplicas eles adesivam, então dá para ver a diferença.
O veludo o pessoal consegue fazer hoje em dia, mas o próprio veludo é diferente,
você sente pegando uma e outra. Tendo o conhecimento mínimo de camisa de
futebol, você vê de cara se é atual ou de antigamente – explica o colecionador
Paulo Pires, dono da página “Museu Vascaíno” no Instagram.
Escalação do Vasco na final
Helton, Clebson, Odvan, Júnior
Baiano e Jorginho Paulista; Jorginho (Henrique), Nasa, Juninho Pernambucano
(Paulo Miranda) e Juninho Paulista (Pedrinho); Euller e Romário
Fonte: Globo Esporte
Título e Texto: Aniele Lacerda, Vasco Notícias, 17-8-2024
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