Paulo Hasse Paixão
Um cidadão britânico de 40
anos foi preso e acusado criminalmente por publicações nas redes sociais que
continham “retórica anti-establishment”.
Sim, é verdade.
"Anti-establishment rhetoric" is a criminal offence? If so, a lot of BLM, pro Palestine protesters and anyone with a SWP placard should have been jailed. #TwoTierBritain pic.twitter.com/FH6vxozqBn
— Chris Rose (@ArchRose90) August 14, 2024
Wayne O’Rourke tornou-se-se o
mais recente exemplo da onda de histeria autoritária a afectar a liberdade de
expressão no Reino Unido, na sequência dos recentes motins contra a imigração
em massa.
O’Rourke foi detido no domingo
por “publicações feitas a partir de uma conta nas redes sociais”, segundo a
polícia de Lincolnshire. e de acordo com a BBC,
“o Tribunal de Nottingham
soube que os posts continham alegadamente retórica anti-muçulmana e
anti-establishment”.
O’Rourke tinha quase 100.000
seguidores no X e previu a sua própria detenção dias antes.
When I’m inevitably arrested for having an opinion and they ask if I speak English I’ll just say no, and they will let me go
— Sick Of It 🇬🇧🇬🇧🇺🇸🇺🇸 (@WayneGb88) August 11, 2024
No Reino Unido de agora, és condenado a penas de prisão por "retórica anti-sistema".
— ContraCultura (@Conta_do_Contra) August 15, 2024
Adeus Magna Carta, Adeus 'Revolução Gloriosa', olá Outubro Vermelho. pic.twitter.com/758e0T6wN9
Os dados disponíveis sobre o
caso não revelam quaisquer pormenores sobre o que o criminoso de pensamento
realmente publicou, a não ser que ele
“alegadamente expressou
apoio aos recentes motins e ofereceu conselhos sobre como permanecer anónimo
aos seus 90.000 seguidores”.
O’Rourke comparecerá hoje no
Lincoln Crown Court para ser acusado de “publicar material escrito online para
incitar ao ódio racial”.
Entretanto, um homem de 61
anos foi condenado a 18 meses de prisão por ter gritado “quem é
Alá, fo**-se?” e ter dito aos agentes da polícia que “já não são ingleses”
durante um protesto à porta de Downing Street.
Um outro cidadão foi detido e condenado a dois meses de prisão apenas por ter publicado no
Facebook as palavras “coming to a town near you” (“a chegar a uma cidade perto
de si”) juntamente com imagens de homens muçulmanos.
A polícia britânica já prendeu
mais de 1000 pessoas, e o aparelho judicial já condenou mais de
575, entre as quais duas crianças de 12 anos por participarem nos protestos, uma
mulher por ter empurrado repetidamente caixotes do lixo na direcção de uma
barreira de polícias, um casal homossexual por ter gritado com a polícia, um
jovem de 18 anos por ter “assistido” a um motim, um sexagenário por se ter
recusado a dispersar de uma manifestação e uma mulher de 55 anos por “uma
publicação nas redes sociais que continha informações inexactas”. As penas de
prisão têm variado entre dois meses e dois anos e meio.
Com o claro intuito de
intimidar a população, a imprensa corporativa britânica tem feito uma cobertura
contínua das condenações de pessoas, a esmagadora maioria sem antecedentes
criminais, que publicaram conteúdos “ofensivos” nas redes sociais, informação
que, em circunstâncias normais, os servos dos poderes instituídos procurariam
omitir. Mas neste momento, no Reino Unido, a máscara caiu completamente. Está
instalada – e foi assumida – uma ditadura sobre aquela que era a mais antiga
democracia do mundo.
Título e Texto: Paulo Hasse
Paixão, ContraCultura,
16-8-2024
“Pense antes de postar”: a crise cultural e política do Reino Unido
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