Marçal está retendo a atenção do eleitor enquanto seus adversários observam incrédulos sua performance exótica e seu crescimento nas pesquisas
Clarissa Garotinho
O DIÁRIO DO RIO é um portal
carioca. O foco do noticiário é no Estado do Rio, mas precisamos falar sobre o
fenômeno Pablo Marçal. E se você está lendo esta coluna, é porque o nosso
editor não me censurou.
A participação de Pablo Marçal nos debates para a prefeitura de São Paulo tem despertado o interesse de políticos, jornalistas e eleitores de todo o Brasil. Sem receio, ele joga para o tudo ou nada! E tem recebido apoio entusiasmado de uma multidão de seguidores nas redes sociais, onde costuma postar recortes das suas performances em estilo lacrador.
Analistas mais tradicionais
julgam sua atuação com a mesma régua dos políticos convencionais. Consideram
seu estilo uma bizarrice. Mas o fato é que Marçal está crescendo nas pesquisas,
especialmente entre eleitores bolsonaristas e jovens.
Marçal já entendeu que existe um espaço enorme para outsiders. Ao mesmo tempo, sabe que, apesar de o atual prefeito ter recebido o apoio formal de Bolsonaro, o ex-presidente não está empenhado na candidatura de Ricardo Nunes. Mais do que isso, Nunes não tem identidade com o eleitor bolsonarista. Encurralado por Marçal, o prefeito tenta apostar no lado “gestor”, mas o que Nunes, que assumiu a cadeira sem votos, reflete mesmo é insegurança.
Uma insegurança que contrasta
com a combatividade do oponente que está à sua direita. Marçal ataca o
candidato do PSOL, Guilherme Boulos, usando expressões marcantes como: “PT
Kids”, “apoiador do Hamas”, “escória da sociedade”, “aspirador de pó”, para delírio
da torcida bolsonarista. Marçal já conseguiu desestabilizar Boulos. No debate
promovido por “Estadão”, “Terra” e “FAAP”, os dois quase foram às vias de fato
após Marçal provocar Boulos com sua carteira de trabalho. Os vídeos postados
nas redes sociais de Marçal usam a situação para fazer alusão a um “exorcismo”
do candidato da esquerda e, ainda, um duelo entre o “Comedor de Açúcar” e
“Ultraman”.
O fato é que Marçal está
retendo a atenção do eleitor enquanto seus adversários observam incrédulos sua
performance exótica e seu crescimento nas pesquisas. Pablo Marçal não é bobo e
seus métodos são calculados. Ele sabe que, para governar São Paulo, é preciso
mais do que lacração na internet. Mas também sabe que existe um árduo caminho
até o segundo turno. Seu primeiro desafio é chegar lá, e ele construiu uma
estratégia para isso. E se não for “desconstruído”, ouso apostar que ele vai
alcançar o objetivo e, finalmente, poderá se dedicar a um debate propositivo e
de maior qualidade.
Título e Texto: Clarissa
Garotinho, Diário do Rio, 15-8-2024
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