Em Portugal a política e a
comunicação social vivem de tal forma dependentes que não podem viver uma sem a
outra. O que deixa de fora todo o pensamento sobre as grandes questões que
influenciam o futuro dos portugueses e do resto do globo.
Como sempre, prefiro a pedagogia dos exemplos como a melhor via de demonstrar aquilo que penso e deixo aqui mais alguns desses exemplos, pouco ou nada tratados na comunicação social.
Democracia
Portugal está longe de ser uma
democracia, basta o exemplo dos deputados serem escolhidos pelas direções
partidárias e não pelos eleitores, para que a democracia portuguesa seja
uma miragem.
Esta tem sido a base do poder
discricionário dos partidos, porque os deputados escolhidos têm como objetivo
principal a fidelidade a quem os escolheu e pode mandá-los para casa no
final do mandato.
Como é óbvio, trata-se de uma limitação fundacional do funcionamento democrático da atividade política portuguesa.
Ideologia
Domina toda a política e toda
a comunicação social através de padrões pré-estabelecidos, o que conduz a que
grande parte do debate existente na sociedade portuguesa e potenciado pela
comunicação social seja de base ideológica, e que a generalidade das
notícias e dos comentadores sejam escolhidas e escolhidos por corresponderem às
ideologias das direções políticas e editoriais.
(Noutras palavras, como tantas vezes por mim escrito: são militantes político-partidários, não jornalistas).
Economia
Em Portugal, o crescimento
econômico está estagnado há mais de vinte anos em relação a todos os países da
União Europeia, mas o debate, fortemente influenciado pelas diferentes
ideologias, passa ao lado de quaisquer análises sérias das causas.
Por exemplo, as pequenas e
médias empresas são muito elogiadas e preferidas pelos governos e pela
imprensa, quando, de fato, o seu número excessivo de mais de 90% de todas as
empresas portuguesas é ignorado, ainda que a falta de maior número de empresas
de alguma dimensão e de maior crescimento, nomeadamente na indústria, esteja na
base do fraco crescimento da economia.
Ética
A ausência de conceitos
éticos na política e em muitos meios de comunicação é por demais evidente, e a mentira circula livremente.
Um exemplo entre muitos:
apesar do governo espanhol ter anunciado recentemente mais investimentos na
ferrovia de bitola europeia no valor de 17 mil milhões de euros, nomeadamente
no corredor Mediterrânico, onde reside a maioria da economia espanhola, o
administrador da empresa pública IP, Carlos Fernandes, afirmou com a maior
naturalidade a seguinte pérola: “que a Espanha começou a fazer a migração
para bitola europeia, mas já não está a fazer e não tem planos para a mudança
nas próximas décadas, pelo que, se Portugal adotasse a bitola europeia, os
comboios chegariam à fronteira e paravam”.
Igual ausência de valores
éticos reside no fato do ministro Pinto Luz aceitar as mentiras da IP, e a
mídia silenciar esta óbvia mentira.
Sabedoria
Os melhores especialistas e
mais reputados acadêmicos portugueses em áreas como a economia, a energia, a
saúde, a justiça e a administração pública, raramente surgem na generalidade
dos meios de comunicação. Em seu lugar abundam os especialistas de sofá que
falam de tudo e de mais um par de botas com a naturalidade dos grandes
conhecedores.
Muitos deles em programas
risíveis que sobrevivem há muitos anos e que atravessam os diversos poderes
políticos através da mudança da cor política de um ou de mais participantes.
Futurologia
Portugal não tem, ou sequer
debate, uma qualquer estratégia orientadora do nosso futuro como Nação, mas nos
jornais e nas televisões não faltam diariamente opiniões sobre os mais
diversos futuros de Portugal, cada um deles alinhado com as ideologias
dominantes nas redações.
Trata-se, por vezes, de um
jogo de sombras, onde a análise do futuro como disciplina modernamente
determinante está ausente.
Uma experiência: em 2003
participei com o professor Veiga Simão na elaboração de uma síntese estratégica
sobre o futuro de Portugal, que foi publicada com a Carta Magna da AIP
(Associação Industrial Portuguesa) e olimpicamente desconhecida pela maioria dos
meios de comunicação ao longo de vinte e um anos.
Apatia
A ausência de participação
democrática da grande maioria dos portugueses, em que uma das bases reside nas
leis eleitorais, bem visível no escasso número de votantes em cada eleição,
serve bem os diferentes partidos e ideologias, à custa do progresso e do
desenvolvimento do país.
Um exemplo: segundo as últimas
notícias, o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, está atento à
possibilidade de o Almirante Gouveia de Melo pretender se candidatar ao Palácio
de Belém e intenta usar a sua condição militar para dificultar essa
possibilidade. (Não entendi quem intenta, se
Marcelo ou Gouveia de Melo).
Vários meios de comunicação
deram a notícia, mas, que eu tenha tido conhecimento, nenhum falou ou escreveu
dobre a imoralidade política de tal possibilidade, para mais de um presidente
dito de todos os portugueses. Igualmente, a comoção pública inexistiu.
Demografia
As famílias portuguesas tardam
em ter filhos e as dificuldades da vida em Portugal não ajudam. Muitos jovens
saídos das universidades, ditos os mais qualificados de sempre, abandonam o
país, mas não há problema, abrem-se as fronteiras sem limite e sem critério
como solução. A preocupação de que as baixas qualificações reduzam ainda mais a
produtividade nacional não existe.
Assim vai a política
portuguesa sem destino certo que não seja a cauda da União Europeia. Mais de
vinte anos de estagnação econômica e uma i9nvariável fuga à realidade e à
verdade, com partidos políticos e governos incapazes de olhar e de compreender
os grandes desafios nacionais e internacionais.
Além de um presidente da República entretido em malandrices e em fotografar o país.
Título e Texto: Henrique
Neto, O Diabo, nº 2492, 4-10-2024;
Digitação e Marcações: JP, 5-10-2024
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