quinta-feira, 31 de outubro de 2024

[Daqui e Dali] Como nasceram as "palavras cruzadas"

Humberto Pinho da Silva

Encontrava-se Victor Orville encarcerado em escasso cubículo de prisão sul-africana.

Sentia-se depressivo, angustiado entre quatro paredes, em doentia ociosidade, contando dia a dia com amargura, os solitários meses de prisão.

Era preso educado, respeitador, bem diferente dos demais, que permaneciam no cárcere.

Aventurou-se certo dia solicitar papel e lápis. De pronto foi atendido. Estavam convencidos que desejava escrever suas tristes memórias.

Ficaram, todavia, estupefactos, ao verificar que o preso apenas formava pequenos quadrados, cruzando linhas horizontais com as verticais, enchendo-os com letras, que formavam palavras. 

Depois pediu dicionário, e como não havia motivo de o negar atenderam ao pedido.

Orville passava todo o santo dia a preencher quadradinhos e a consultar o dicionário.

Pensaram que o preso estivesse a enlouquecer e chamaram o médico.

O clínico conversou demoradamente e inteirou-se de que não havia vestígio de demência, muito pelo contrário –  a descoberta de novo passatempo.

Semanas depois, Orville enviou as "Palavras Cruzadas" para jornais. Foram aceites.

Decorrido meses já eram numerosas as publicações que lhe pediam mais e mais…

Ao ser libertado, o preso possuía considerável fortuna.

Ao falecer, deixou tudo que possuía à empregada, que cuidou dele na velhice.

Esta mandou gravar sobre o carneiro de Orville, o desenho de uma "Palavra Cruzada".

Como Victor Orville, sendo inglês, chegou à prisão de Africa do Sul?

A explicação é simples:

Vivia em Oxford. Certa noite foi com a mulher a uma festa, e bebeu demasiadamente.

Aconselharam-no a não dirigir o carro. Teimou. O piso estava escorregadio. Perdeu o controle da viatura e a esposa faleceu.

Julgado, foi considerado culpado e preso. Envergonhado e desgostoso, quis ausentar-se da sua cidade, e solicitou transferência para a África do Sul.

O leitor já conhece o que depois se passou.

Título e Texto: Humberto Pinho da Silva, outubro de 2024 

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