terça-feira, 22 de outubro de 2024

[Aparecido rasga o verbo] O sempre atual e ferocíssimo lobo da Fenris

Aparecido Raimundo de Souza

SENHORAS E SENHORES, pensem por um instante. Raciocinem com a cabeça fria. Ponderem apenas nesse único ponto que consideramos nevrálgico e de suma importância para o assunto extremamente sério que hoje trouxemos à baila. Os prezados saberiam explicar, em poucas palavras, a pequena e quase ínfima e insignificante diferença existente entre um cidadão pobre e um cidadão rico aqui em “nosso” país?  Vamos tentar deslindar, em poucas palavras, um do outro. Para tanto, se nos permitem, daremos um exemplo trivial, para melhor ilustrarmos as nossas assertivas. 

Mencionaremos, a título de particularizar o caso daquele cidadão de má sorte –, ou seja –, o desamparado e carente de tudo. Em outras palavras, aquele pobre de “marré de si,” que não foi benfazejado com as auspiciosidades de uma vida normal e tranquila. Falamos aqui, do Zé Mané do Olho Tapado. Coitado! Ele sofreu um corte profundo na cabeça e foi parar num desses “PA’s” (Picaretas Assustadores) ou melhor, numa das UPA’s ou (Unidades dos Parasitas Assassinos), ambas as espeluncas consanguineadas do deplorável e calamitoso SUS (Sistema Unificado de Surubeiros), na sofisticada, linda e bucólica cidade satélite do Núcleo Bandeirantes.

O desditoso ficou por lá, esquentando os colhões, em meio de uma outra multidão advinda de outras localidades, como Taguatinga, Gama e Candangolândia. Igual ao Zé Mané do Olho Tapado, essas outras criaturas tinham urgência em serem atendidas. Todos, sem exceção, esquentaram os bancos por mais de seis horas, depois de pegarem uma senha. Passaram com elas por uma triagem feita nas coxas subsidiadas por umas merdas de atendentes tipo as quengas das zonas de meretrício de Ceilândia. O Zé Mané do Olho Tapado, coitado, enrodilhado no saco escrotal desses outros companheiros de infortúnio, não teve nenhuma prerrogativa no atendimento.

Sem contar que, em seguida, enfrentou uma outra fila do caralho para falar com um especialista alcunhado de “médico.” Deixemos os outros sofredores e azarados de lado para nos concentrarmos unicamente no Zé Mané do Olho Tapado. É ele que nos importa no momento. Pois bem! Ao chegar nos pés desse pulha, o tal doutor, exatos cinco minutos depois, disse que o sofrido paciente não tinha nada de grave. Para despachá-lo de vez, receitou para seu desconforto, um remédio para dor de barriga (caganeira) e o mandou, incontinente, de volta. Esse modesto e miserável, além de depauperado singelo, um infeliz de carteirinha e sem sindicato, escafedeu da sala do médico trepado nos cascos, apesar de não ser cavalo, nem ter parentesco, ainda que distanciado com as “mulas e as éguas.”

Obviamente, os demais que o precederam, também foram embora a ver barquinhos e canoas de luxo às margens do Paranoá. Coincidentemente, mesmo dia e igual hora, o “noço presidiariodente,” senhor Luiz Estácio Ula da Selva Silva ou carinhosamente alcunhado pelos noiados como Ula da Silva, sofreu um tombozinho caseiro, após um acidentezinho doméstico. Ele preparava, segundo a sua assessoria, uma sopa misturada com miojo e picanha. De repente, ao se dirigir ao banheiro, a tampa da bacia do seu cagador “privado,” bateu feio em sua cabeça, formando um “cuágolo.” 

Por conta desse imprevisto, o caeteense nascido nos quintos dos infernos de Pernambuco, quase morreu de susto, e pasmem, senhoras e senhores, foi parar no hospital Sírio e Libanês em brauzzzzilia (grafada a capital fedemal assim mesmo) acompanhado de uma caralhada de seguranças. Seu atendimento no Sírio e Libanês (o melhor e mais sofisticado do “berço das maiores indecisões nacionais” não demorou o tempo de um peido enfezado que lhe escapou pelas nádegas que tamponam os recônditos da cueca. Final das contas, por recomendações médicas, num laudozinho de quase vinte folhas, a equipe médica que atendeu o marido de dona Manja, informou que ele, o chefe de estrado –, perdão de estado –, “precisava de repouso absoluto.”

Dessa forma, por conta do tal evento funesto, careceu cancelar, de última hora, uma viagem internacional importantíssima para a “ruscia” (palavra também escrita dessa forma). Ula iria participar do Cuquepula dos Brics em Kazan. Lembrando, para que os “trouxas” e babacas de plantão não se esqueçam, em face de referido entrave, Ula foi liberado, contudo, deveria permanecer engaiolado – perdão – senhoras e senhores, seguiria “s-e-n-d-o-o-b-s-e-r-v-a-d-o” pela mesma equipe médica no sentido de evitar que o transtornozinho caseiro não caísse na esparrela e por descuido de uns guarda-costas marotos fosse tomar umas cachaças num boteco nas imediações da W3 Norte, ou melhor dito, na adega exclusiva incrustrada nos subterrâneos do “Palhácio da Alvorada” e descambasse para um quadro mais devastador e extremamente alarmante.

Os diplomados especialistas que atenderam Ula foram os doutores Roeuaberto Kanil Trilho e a ilustradíssima especialista em doenças caseiras complexas, como pulos de cadeiras de duas pernas e trepadas em escadas sem degraus e suportes para cachaços no ombro esquerdo. Não outra, essa joia rara, senão a doutora Cana, perdão –, Ana Heaelena Gergermeumógrio. Enquanto isso, os imbecis apalermados dos cidadãos que pagam seus impostos em dia, comem arroz puro e perderam um tempão enorme na fila do SUS, lembrando (Sistema de Urubus Sacolejantes), voltaram para suas obrigações com uma mão na frente e a outra enfiada nos pandeiros dos retos profundos de suas retaguardas.

Sequer os esculápios que os atenderam (como no mesmo saco de urubus latindo, o nosso Zé Mané do Olho Tapado) se dignaram a contempla-los emitindo simples atestados médicos para que apresentassem no trabalho, fossem dispensados e cada um justificasse a respetiva falta e não perdessem o dia por ausência em seus serviços. O que gostaríamos de entender, senhoras e senhores, não outra coisa, senão os “senões” ou os motivos, as razões e os “porquês” de no “bruzzzil” existirem dois presos (desculpem, dois pesos e quatro ou mais medidas diferentes, ao invés de duas.) Seria pelo motivo dos debilóides não terem direito a bosta nenhuma?

No mesmo fôlego, o outro, o Maioral, o deus fajuto, por exercer um carguinho de “prisioneiro” (pelo amor de Deus, entendam a expressão “prisioneiro” como todo aquele “ser umano” que não pode sair de casa ou do seu local de trabalho para tomar uma média com pão e manteiga na padaria da esquina ou sentar o rabo numa pizzaria e degustar uma iguaria ou qualquer outra porra do cardápio com a esposa e filhos, se não estiver às suas costas cheirando seus profundos, um bando de cachorrinhos e lacaios armados e grudados em seus calcanhares. A pergunta que não quer calar: o que adianta ter um título honorífico de senador porreta, de deputado mandachuva, ou pior, de ministro boca de sapo ou de cabeça de ovo e viver tolhido da própria liberdade de ir e vir com medo de levar uma saraivada de tiros pelas costas?

O que adianta dar canetadas à torto e à direita, falar bonito, escrever de forma impecável, ser o centro das atrações entre seus pares, se o seu viver normal, o seu direito de ser feliz, de amar, de gozar a vida com a mulher e filhos, frequentar um motel, tomar um banho de mar, de correr no calçadão, de andar de bicicleta, de beber uma cerveja numa roda com os amigos mais chegados, se o seu cotidiano se transformou numa “cadeia de segurança máxima,” tipo a lendária Alcatraz, em São Francisco, ainda que dentro dela desfrute de todos os tipos de luxúrias e ostentações?

Vale a pena viver encarcerado, encurralado, amedrontado, prisioneiro da sua hipócrita filáucia, ou do seu egocentrismo medíocre? Mesmo sentido, adianta ser um eterno lacaio “lacraio”, um capacho, um subserviente, um pau mandado repletado de força e poder, sem ter a vida que o Pai Maior lhe concedeu em abundância, todavia, em paralelo, a bem da verdade nua e crua, não passar de um escravo empavonado e cativo, submissado como um metalúrgico da região do A, B, C, D, na Grande São Paulo, sem as perspectivas de um porvir maravilhoso onde possa viver com dignidade e respeito?

Como pode esses seres desmiolados e sem paz apesar da fama barulhenta, da glória suntuosa ou do desfrute magnânimo e aparatoso, de uma função que lhe arranca as pregas do fedegoso, usque lhe rouba a preciosidade de ser normal? De roldão, lhe afana a castidade, lhe tira e lhe descapacita do direito sublime e insubstituível de viver dignamente uma vida sossegada e normal?  O Ula deveria estar nas Terras de Andrei Rublev, Ivan 3º o Grande, Sofia Romanov, Mikhail Lomonossov, Nikolai Gógol e tantas outras figuras renomadas e lendárias que já partiram daqui (ou de lá) para as catacumbas dos pés juntos, curtindo as nossas custas e gastando o nosso suado dinheirinho.

Contrariando as suas pretensões afloradas e “aflorosas,”  por ordens médicas os seus planos foram levados por água abaixo. A sua participação no Cuquepula em Kagan –, mil desculpas –, em Kazan, será feita por videoconferência. O Palhaço do Planalto espera, sinceramente, que a videoconferência na hora agá não sofra nenhuma intervenção, ou no pior dos mundos, a transmissão não tenha uma crise de nariz entupido e precise ser interrompida. Para terminarmos, vale informar às senhoras e os senhores, que o brasileiro Zé Mané do Olho Tapado, passa bem.  Quanto aos demais, até o ponto final do presente texto, seus familiares, aos nossos telefonemas e mensagens via WhatsApp, não nos enviaram respostas, tampouco sinais de vida em forma de contato. Kikikikikikikikikiki...

Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, de Vila Velha, no Espírito Santo,  22-10-2024 

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Oração do desesperado para afastar mulher feia 
Ecos de um silêncio que não dava trégua 
Pequenas modificações na historinha do grande rei 
Sombras difusas como fantasmas do passado 

2 comentários:

  1. Texto muito realista mesmo sendo hilário em determinados trechos.Para quem tem compreensão de como nosso país está na atualidade o texto é um relato fiel.

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  2. Obrigado amiga Donaire, pelo carinho da sua participação. São esses mimos que me fazem continuar escrevendo.
    Aparecido Raimundo de Souza, de Vila Velha no Espírito Santo ES

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