Aparecido Raimundo de Souza
Mencionaremos, a título
de particularizar o caso daquele cidadão de má sorte –, ou seja –, o
desamparado e carente de tudo. Em outras palavras, aquele pobre de “marré de
si,” que não foi benfazejado com as auspiciosidades de uma vida normal e
tranquila. Falamos aqui, do Zé Mané do Olho Tapado. Coitado! Ele sofreu um
corte profundo na cabeça e foi parar num desses “PA’s” (Picaretas Assustadores)
ou melhor, numa das UPA’s ou (Unidades dos Parasitas Assassinos), ambas as
espeluncas consanguineadas do deplorável e calamitoso SUS (Sistema Unificado de
Surubeiros), na sofisticada, linda e bucólica cidade satélite do Núcleo
Bandeirantes.
O desditoso ficou por lá,
esquentando os colhões, em meio de uma outra multidão advinda de outras
localidades, como Taguatinga, Gama e Candangolândia. Igual ao Zé Mané do Olho
Tapado, essas outras criaturas tinham urgência em serem atendidas. Todos, sem exceção,
esquentaram os bancos por mais de seis horas, depois de pegarem uma senha.
Passaram com elas por uma triagem feita nas coxas subsidiadas por umas merdas
de atendentes tipo as quengas das zonas de meretrício de Ceilândia. O Zé Mané
do Olho Tapado, coitado, enrodilhado no saco escrotal desses outros
companheiros de infortúnio, não teve nenhuma prerrogativa no atendimento.
Sem contar que, em seguida, enfrentou uma outra fila do caralho para falar com um especialista alcunhado de “médico.” Deixemos os outros sofredores e azarados de lado para nos concentrarmos unicamente no Zé Mané do Olho Tapado. É ele que nos importa no momento. Pois bem! Ao chegar nos pés desse pulha, o tal doutor, exatos cinco minutos depois, disse que o sofrido paciente não tinha nada de grave. Para despachá-lo de vez, receitou para seu desconforto, um remédio para dor de barriga (caganeira) e o mandou, incontinente, de volta. Esse modesto e miserável, além de depauperado singelo, um infeliz de carteirinha e sem sindicato, escafedeu da sala do médico trepado nos cascos, apesar de não ser cavalo, nem ter parentesco, ainda que distanciado com as “mulas e as éguas.”
Obviamente, os demais que
o precederam, também foram embora a ver barquinhos e canoas de luxo às margens
do Paranoá. Coincidentemente, mesmo dia e igual hora, o “noço
presidiariodente,” senhor Luiz Estácio Ula da Selva Silva ou carinhosamente
alcunhado pelos noiados como Ula da Silva, sofreu um tombozinho caseiro, após
um acidentezinho doméstico. Ele preparava, segundo a sua assessoria, uma sopa
misturada com miojo e picanha. De repente, ao se dirigir ao banheiro, a tampa
da bacia do seu cagador “privado,” bateu feio em sua cabeça, formando um
“cuágolo.”
Por conta desse
imprevisto, o caeteense nascido nos quintos dos infernos de Pernambuco, quase
morreu de susto, e pasmem, senhoras e senhores, foi parar no hospital Sírio e
Libanês em brauzzzzilia (grafada a capital fedemal assim mesmo) acompanhado de
uma caralhada de seguranças. Seu atendimento no Sírio e Libanês (o melhor e
mais sofisticado do “berço das maiores indecisões nacionais” não demorou o
tempo de um peido enfezado que lhe escapou pelas nádegas que tamponam os
recônditos da cueca. Final das contas, por recomendações médicas, num
laudozinho de quase vinte folhas, a equipe médica que atendeu o marido de dona
Manja, informou que ele, o chefe de estrado –, perdão de estado –, “precisava
de repouso absoluto.”
Dessa forma, por conta do
tal evento funesto, careceu cancelar, de última hora, uma viagem internacional
importantíssima para a “ruscia” (palavra também escrita dessa forma). Ula iria
participar do Cuquepula dos Brics em Kazan. Lembrando, para que os “trouxas” e
babacas de plantão não se esqueçam, em face de referido entrave, Ula foi
liberado, contudo, deveria permanecer engaiolado – perdão – senhoras e
senhores, seguiria “s-e-n-d-o-o-b-s-e-r-v-a-d-o” pela mesma equipe médica no
sentido de evitar que o transtornozinho caseiro não caísse na esparrela e por
descuido de uns guarda-costas marotos fosse tomar umas cachaças num boteco nas
imediações da W3 Norte, ou melhor dito, na adega exclusiva incrustrada nos
subterrâneos do “Palhácio da Alvorada” e descambasse para um quadro mais
devastador e extremamente alarmante.
Os diplomados
especialistas que atenderam Ula foram os doutores Roeuaberto Kanil Trilho e a
ilustradíssima especialista em doenças caseiras complexas, como pulos de
cadeiras de duas pernas e trepadas em escadas sem degraus e suportes para
cachaços no ombro esquerdo. Não outra, essa joia rara, senão a doutora Cana,
perdão –, Ana Heaelena Gergermeumógrio. Enquanto isso, os imbecis apalermados
dos cidadãos que pagam seus impostos em dia, comem arroz puro e perderam um
tempão enorme na fila do SUS, lembrando (Sistema de Urubus Sacolejantes),
voltaram para suas obrigações com uma mão na frente e a outra enfiada nos
pandeiros dos retos profundos de suas retaguardas.
Sequer os esculápios que
os atenderam (como no mesmo saco de urubus latindo, o nosso Zé Mané do Olho
Tapado) se dignaram a contempla-los emitindo simples atestados médicos para que
apresentassem no trabalho, fossem dispensados e cada um justificasse a respetiva
falta e não perdessem o dia por ausência em seus serviços. O que gostaríamos de
entender, senhoras e senhores, não outra coisa, senão os “senões” ou os
motivos, as razões e os “porquês” de no “bruzzzil” existirem dois presos
(desculpem, dois pesos e quatro ou mais medidas diferentes, ao invés de duas.)
Seria pelo motivo dos debilóides não terem direito a bosta nenhuma?
No mesmo fôlego, o outro,
o Maioral, o deus fajuto, por exercer um carguinho de “prisioneiro” (pelo amor
de Deus, entendam a expressão “prisioneiro” como todo aquele “ser umano” que
não pode sair de casa ou do seu local de trabalho para tomar uma média com pão
e manteiga na padaria da esquina ou sentar o rabo numa pizzaria e degustar uma
iguaria ou qualquer outra porra do cardápio com a esposa e filhos, se não
estiver às suas costas cheirando seus profundos, um bando de cachorrinhos e
lacaios armados e grudados em seus calcanhares. A pergunta que não quer calar:
o que adianta ter um título honorífico de senador porreta, de deputado
mandachuva, ou pior, de ministro boca de sapo ou de cabeça de ovo e viver
tolhido da própria liberdade de ir e vir com medo de levar uma saraivada de
tiros pelas costas?
O que adianta dar
canetadas à torto e à direita, falar bonito, escrever de forma impecável, ser o
centro das atrações entre seus pares, se o seu viver normal, o seu direito de
ser feliz, de amar, de gozar a vida com a mulher e filhos, frequentar um motel,
tomar um banho de mar, de correr no calçadão, de andar de bicicleta, de beber
uma cerveja numa roda com os amigos mais chegados, se o seu cotidiano se
transformou numa “cadeia de segurança máxima,” tipo a lendária Alcatraz, em São
Francisco, ainda que dentro dela desfrute de todos os tipos de luxúrias e
ostentações?
Vale a pena viver
encarcerado, encurralado, amedrontado, prisioneiro da sua hipócrita filáucia,
ou do seu egocentrismo medíocre? Mesmo sentido, adianta ser um eterno lacaio
“lacraio”, um capacho, um subserviente, um pau mandado repletado de força e
poder, sem ter a vida que o Pai Maior lhe concedeu em abundância, todavia, em
paralelo, a bem da verdade nua e crua, não passar de um escravo empavonado e
cativo, submissado como um metalúrgico da região do A, B, C, D, na Grande São
Paulo, sem as perspectivas de um porvir maravilhoso onde possa viver com
dignidade e respeito?
Como pode esses seres
desmiolados e sem paz apesar da fama barulhenta, da glória suntuosa ou do
desfrute magnânimo e aparatoso, de uma função que lhe arranca as pregas do
fedegoso, usque lhe rouba a preciosidade de ser normal? De roldão, lhe afana a
castidade, lhe tira e lhe descapacita do direito sublime e insubstituível de
viver dignamente uma vida sossegada e normal?
O Ula deveria estar nas Terras de Andrei Rublev, Ivan 3º o Grande, Sofia
Romanov, Mikhail Lomonossov, Nikolai Gógol e tantas outras figuras renomadas e
lendárias que já partiram daqui (ou de lá) para as catacumbas dos pés juntos,
curtindo as nossas custas e gastando o nosso suado dinheirinho.
Contrariando as suas
pretensões afloradas e “aflorosas,” por
ordens médicas os seus planos foram levados por água abaixo. A sua participação
no Cuquepula em Kagan –, mil desculpas –, em Kazan, será feita por videoconferência.
O Palhaço do Planalto espera, sinceramente, que a videoconferência na hora agá
não sofra nenhuma intervenção, ou no pior dos mundos, a transmissão não tenha
uma crise de nariz entupido e precise ser interrompida. Para terminarmos, vale
informar às senhoras e os senhores, que o brasileiro Zé Mané do Olho Tapado,
passa bem. Quanto aos demais, até o
ponto final do presente texto, seus familiares, aos nossos telefonemas e
mensagens via WhatsApp, não nos enviaram respostas, tampouco sinais de vida em
forma de contato. Kikikikikikikikikiki...
Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, de Vila Velha, no Espírito Santo, 22-10-2024
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Texto muito realista mesmo sendo hilário em determinados trechos.Para quem tem compreensão de como nosso país está na atualidade o texto é um relato fiel.
ResponderExcluirObrigado amiga Donaire, pelo carinho da sua participação. São esses mimos que me fazem continuar escrevendo.
ResponderExcluirAparecido Raimundo de Souza, de Vila Velha no Espírito Santo ES