sexta-feira, 11 de outubro de 2024

[Aparecido rasga o verbo] Pequenas modificações na historinha do grande rei

Aparecido Raimundo de Souza

O PRESIDENTE daquela nação repletada de idiotas e atoleimados, embasbacados e lunáticos, resolveu sair do seu suntuoso palácio e seguir a pé pelas ruas calçadas de paralelepípedos para verificar (de corpo presente) se a sua fuça de calhorda ainda prosperava entre a melhor de todas, e, se em tempo real, gozava do mesmo prestígio do primeiro mandato. Os tempos tinham mudado. As condições de protestos e badernas se alteravam a cada dia. Diziam que alguns insatisfeitos não levavam à sério às relações de respeito à hierarquia. Corriam também, em paralelo, boatos de que uma parte da população estava organizada e coesa.

Falavam até em amotinação de alguns desses grupos que pretendiam sair de cidades próximas e protestar seguindo em passeata em direção ao centro da cidade, às margens do Rio do Ânus do Cu Fedido. A intenção principal dos subversivos: invadir a Câmera dos Deputados, o Senado Federal, e, se desse tempo, os ministérios. Não que restasse ao Maioral qualquer tipo de dúvida quanto a sua realeza, ou ao seu poder constituído, mas, por via das dúvidas, e igualmente por questões de honras, resolveu sair em campo e tirar a prova dos nove. Embora não soubesse somar dois mais dois, em face dos resultados obtidos serem diferentes, é bom lembrar, sempre havia um veado formado em matemática para lhe dar, a qualquer hora, a resposta correta.

Assim, o chefe da nação dispensou os protocolos, mandou à merda a segurança, encaminhou a primeira cama, – perdão –, a primeira dama para o salão de beleza e se pôs em marcha. Logo, de cara, encontrou o chefe do gabinete civil a quem, de chofre, inquiriu:
— Responda rápido, seu banana... quem é o seu presidente?
O chefe do gabinete civil não pensou nenhum segundo sequer para responder:
— É o senhor, o meu presidente...
Na rua, interpelou um sujeito que se beneficiava de uma tal de bolsa família:
— Filho de uma égua, quem é seu presidente?

A resposta do cidadão foi categórica:
— É o senhor, o meu presidente...
Satisfeito e cheio de si, o Todo Poderoso daquele pequeno reinado de patetas e desmiolados e seguiu adiante. Não cabia em si de contentamento. De repente, surgiu ao seu lado, um cara que lembrava o safado do Ferrando Calor do Marmelo:
— Diga, aí, ô Ferrandinho. Quem é o seu presidente?
— Preciso responder? Estou diante dele. Quanta honra!
Imponente, o Dono do Mundo continuou o seu caminho. A certa altura cruzou com o Ministro da Justissssssa:
— Diga, seu cara de elefante sem tromba, quem é o seu presidente?
— Estou olhando para ele...

— Currupaco Papaco. Isso é verdade?
— Currupaco Papaco, não tenho para que mentir, nem sou de puxar saco. Aliás, por falar em escroto...
Encontrou o presidente da ANAC. Agência Nacional dos Assopradores de Camisinhas contratado para dar assistência em socorro de um bando de velhotes com mais de noventa e nove anos:
— Responda sem pensar: quem é o seu presidente?
— Por todos os aviões do mundo é o Senhor...
Mais à frente, esbarrou com Reinando Calhordeiros:
— Reinando, quem é o seu presidente?
Reinando Calhordeiros passou a mão num apito que trazia no bolso do impecável palitó e mandou brasa. Apitou.

Do nada, uma única vez. Dois seguranças (um deles com a cara do dublê de palhaço Tiriripica e a outra, ou o outro, com a fisionomia metade Dilma, metade Ana Amarraria Praga) apareceram e, como vieram, partiram para cima do presidente. Aplicaram, assim, do nada, uma surra memorável em seus costados, tunda essa regada à socos e pontapés. Por alguns momentos, o sisudo presidente, fula da vida, pensou que estivesse sendo crucificado pelo povo em massa. Talvez uma rebelião de descontentes. Logo a ralé que ele tanto prezava e amava e jurara que não faltaria piranha na mesa. Felizmente, tudo não passou de uma visão deturpada, devido às porradas que levou pelo corpo e pelo focinho.

Em decorrência, se levantou mais sujo que mula jogada numa poça enorme cheia de merda. O pessoal do partido foi acionado, a segurança pessoal do sujeito, os dracagalhões da independência, as polícias Fedemal, Cirvil e até a Mamounamilitar. Na sequência, pintaram no pedaço os representantes do STF (Superior Tribundal dos Famigerados. Sem tirar nem pôr, seis ambulâncias do SUS (Sistema Único Sucateado) – imagine –, pintou na área. Todos, a uma só voz, uivaram:
— O senhor está bem, senhor presidente?
— Não “to” sabendo de nada, companheiros. Acho que me borrei todo ao sair daquele avião que ficou dando voltas sobre “eu e ele mesmo” por cinco horas, como se quisesse me mandar para os quintos...

O presidente passou a mão em um lenço de seda, soou o nariz, tomou um gole de uma purinha que um dos seus serviçais lhe ofereceu. E completou, a voz rouca:
— Vou matar aquele avião para o presídio da Pernuda, junto com seu comandante...
— Mas o que houve, senhor presidente? Sabe o nome do tal comandante?
— Só do avião. Estava escrivinhado, Repúpica Fuderativa do... do... não importa. Agora, mudando de pau prá cavalo, só quero saber do meu amigo que acabou de pintar no pedaço –, vem cá, ô cabeça de ovo –, quem é o seu presidente favorito? Me perdoa apertar a sua mão assim... como pode ver, acabei... cheio de titica de galinha, ou menstruação de canja, sei lá. Puta que me pariu!

Essa atitude amistosa de chamamento fez o Cabeça de Ovo, se achegar um pouco mais e vomitar:
— É o cara do Bolso... culpa dele...
— Traidor...
E o cabeça de ovo, após essas palavras, todo sorridente:
— Depois das armações que o senhor fez para ele...
Segundos depois, o presidente agora confortável, atendido pela galera de puxa-sacos, saltou para o Rolls–Royce com todas as insígnias de seu espetaculoso palácio:
— Se o Reinando Calhordeiros não sabia a resposta, não precisava ficar zangado. Afinal de contas – eu só comi uma única vez o rabo-traseiro daquela jornalistazinha meia-foda, amiguinha dele... alguém aqui lembra o nome?
— Eliza Viugostosa, senhor presidente...

Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, de Guarapari, no Espírito Santo, 11-10-2024 

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