terça-feira, 24 de setembro de 2024

[Aparecido rasga o verbo] O Tempo corre, passa e não retrocede

Aparecido Raimundo de Souza

O TEMPO, SEMPRE O TEMPO! Esse senhor misterioso que nos rodeia a cada dia, que passa, e avança. Ele não para. Vai em frente, segue emparelhado e sorrateiro, grudado em cada um de nós à tiracolo. O tempo, sempre o tempo! Essa criatura carrega consigo uma certeza inabalável. Cada segundo que se esvai é como uma gota de água que escorrega entre os nossos dedos. Portanto, impossível de ser recuperada. Desde o primeiro respirar, até o último, somos marionetes de suas cordinhas escondidas, como se fossem outros fantoches ocultados dançando ao som de uma melodia que nunca estanca. 

Às vezes, paramos para refletir. Nesses intervalos de quietude, percebemos como as memórias se acumulam iguais folhas caindo no outono. Cada uma delas traz fragmento de nós, tipo uma experiência que nos moldou e que embora distante, ainda ecoa em nosso “eu” encoberto. Mas o tempo inexorável não espera por ninguém. Não dá trégua, nem é adepto de um possível armistício. Não dorme, não come, não dá uma folga. Ele se move incessantemente, indiferente ao nosso anseio de reverter o relógio. Aliás, o relógio também não estanca para alicerçar um descanso quando todos os ponteiros se cruzam no mesmo ponto nevrálgico. 

Apenas se cumprimentam, trocam mensagens ocultas e seguem ambulando sem dizer coisa alguma. No entanto, se prestarmos a devida atenção, se não estivermos grudados na tela de um celular assistindo vídeos imbecilizados, notaremos que há uma beleza rara nessa transitoriedade. O tempo, entre tantas facetas que não percebemos, seja por descuido ou negligência, muitas vezes não atinamos por puro descaso. Apesar dos pesares, ele nos ensina a valorizar o agora, a saborear cada instante do hoje, como se fosse o nosso “já,” ou faz bailar aquele antigo jargão piegas, do “ei, cara, pega, agarra e não larga.” Certamente nos deslumbraríamos com um vivenciar edificante e magistral. 

É na urgência açodada de um minuto e outro que descobrimos que o viver que encontramos é exatamente onde se faz presente a verdadeira essência da vida. Cada riso, cada lágrima, cada amor e desilusão compõem uma tapeçaria rica e complexa que, mesmo a gente sabendo que não poderá ser desfeita, num perímetro ainda que fugaz, essa alfombra colocará uma chama de perspectiva em nosso descaso. Nesse tom, ao invés de temê-lo, talvez devêssemos abraçar o tempo com gratidão. Ele nos empurra para frente, nos desafia a evoluir, a deixar nossas marcas no ontem do mundo. O tempo corre, passa faminto de amanhã e não retrocede em busca de migalhas.

Todavia, deixa em seus calcanhares, um legado: somos todos, sem tirar nem pôr, parte integrante de uma história que continuará a ser escrita, onde cada capítulo nos mostrará uma nova oportunidade de transformação. Lá adiante, no final da caminhada, quando olharmos para o “de onde viemos”, nos será dada a chance, talvez a derradeira, para que possamos fazer tudo o que não fizemos e agradecer com um sorriso de retribuição no rosto, e o melhor de tudo, cientes de que cada instante vivido foi, de fato, precioso. O tempo não retrocede porque a sua natureza é linear e irreversível. Essa característica é intrínseca à forma como percebemos e medimos o tempo do nosso momento presente. 

Cada lance se sucede de maneira contínua. Essa linearidade é refletida em tudo que nos cerca: as estações mudam, as fases da vida se sucedem e as experiências se acumulam. Cada ação e escolha nos molda e deixa marcas que não podem ser apagadas. Essa irreversibilidade nos mostra, nos faz ver, nos ensina a importância de valorizar o presente, a agir com consciência e a aprender com o que deixamos na poeira do passado. Além disso, o tempo também é uma força que impulsiona o crescimento e a transformação. Ele nos dá a oportunidade de prosperar, de superar desafios e de redescobrir a nós mesmos a cada novo dia, toda vez que acordamos. 

Se pudéssemos retroceder, uau!... se pudéssemos descontinuar... talvez não apreciaríamos a beleza ímpar do agora, a riqueza maviosa desse vai e vem incansável e a opulência das lições aprendidas ao longo da estrada que nos trouxe até onde estamos. Por isso o tempo nos sucede, avança, e, nesse eclodir, nos convida a seguir em frente, a correr como ele e a construir uma sequência de coisas novas que não podem ser desfeitas. Em retribuição, nos oferece uma gama incalculável de aprendizado e crescimento. Assim, ao invés de temê-lo, talvez devêssemos abraçar o tempo, esse nosso tempo com o mais glorioso reconhecimento. 

Ele nos empurra com toda força para a frente, nos desafia a evoluir, a deixar nossas marcas no ontem do mundo. O tempo corre, repito, passa e não retrocede, mas deixa em seus passos, melhor dito -, acumula em nossas pegadas, um legado excepcional, qual seja, o de entendermos que somos todos, sem tirar nem acrescentar, parte integrante de uma história que continuará a ser escrita e onde em cada capítulo se consubstanciará em uma nova “porta-oportunidade” de transformação. Lá adiante, no final da caminhada, esperando, sempre que ela seja bem longa, oxalá, quando olharmos para os lugares onde passamos e vivenciamos coisas (todas as coisas) nos seja dada a chance para que possamos sentar à sombra de uma árvore de aconchego caridoso e agradecer com um sorriso vindo não do rosto, mas do mais profundo das nossas entranhas. 

E o melhor de tudo: cientes de que cada instante se fez excepcional, peregrino e privilegiado, usque especial e incontroverso. Pois bem! Enquanto o tempo avança e desbrava, e nos leva aos cuidados da dona morte, ele também nos convida a refletir sobre o que realmente importa. O que fazemos com os momentos que temos agora, as conexões que formamos e as experiências que adquirimos. Essas pequenas coisas formam “o todo,” ou alimentam tudo aquilo que dá significado à passagem pelo tempo. Em última análise, levando em conta que mencionamos a morte, falemos um tiquinho apenas dela. A morte pode ser vista não como um fim, como uma parte do ciclo da vida. 

O tempo, sempre o tempo, apesar disso, ele não "supera" a morte, bem entendido, não acepilha, ou não se nivela no sentido de reverter o processo. Contudo, nos incita a encontrar significado e beleza mesmo no repentino subitâneo da existência. Essa capacidade de renovar ou desfigurar foi, de fato (se pararmos para pensar e analisar friamente, chegaremos) à conclusão de que tudo o que vivemos e vivenciamos, se fez inesquecível e indubitavelmente precioso. Pense, pois, reflita friamente o que você tem feito com o seu tempo? Olhe em volta, ou melhor, espie para dentro do seu âmago e procure achar a reposta. Faça isso agora. Amanhã?! O amanhã... pode ser tarde demais.   

Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, de Vila Velha, no Espírito Santo, 24-9-2024 

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Os gritos dos candidatos a cargos públicos e as putarias que esses desqualificados deixam por onde passam 
A minha eterna prisão no cárcere de um tempo que nunca será meu 
Menina de Tranças 

6 comentários:

  1. Estamos vivendo atualmente o inferno de Dante Aliguiere na sua pirâmide invertida com devaneios insanos de Nicolau Maquiavel, onde a palavra honra foi substituída pela mentira escorrassesca nos transformando em humanos gelatinosas e de mentalidade de ódio e devaneios de louco!!!

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  2. EDUARDO NOVAES VILA VELHA ES

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  3. A podridão humana é cruel por demais com os pensantes. Vivemos um mundo idiotificado por risadas dantesca sem sentido. Atualmente, tenho vergonha de existir nessa época tão nefasta e de biodegradáveis de puro envenenamento. EDUARDO NOVAES, ESCRITOR, VILA VELHA ES

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  4. THYESSA EMILIO DA SILVA24 de setembro de 2024 às 17:49

    Este texto nos faz voltar no tempo. Pensar em tudo oque poderíamos ter feito diferente, como poderíamos ter aproveitado mais a companhia dos nossos, mas o foco aqui não é o arrependimento, e sim um alerta.
    Aproveite o hoje! Aproveite cada segundo de sua vida como se fosse o último.

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  5. Fico me questionando, o que será que as pessoas ou melhor, os leitores da Cão que Fuma entenderam com a publicação do texto de Aparecido Raimundo de Souza e o seu O tempo passa, corre e não retroage publicado nessa terça-feira, 24 de setembro? Vou tentar desvendar o mistério. Me desculpem se em algum momento parodiar as palavras do escritor, O tempo, sempre o tempo! Essa entidade que nos rodeia, sem pausa, nos ensina a apreciar a fragilidade do agora. Cada momento que se esvai é uma gota irrecuperável, como folhas no outono, carregando memórias que moldam quem somos. Em meio à pressa do cotidiano, muitas vezes esquecemos a beleza dessa transitoriedade. Até ai tudo bem. Esquecemos mesmo. Ponto pacífico. Refletir sobre o tempo nos convida a valorizar o presente. O presente nos desafia a crescer, a deixar marcas, e nos lembra que a vida é feita de escolhas que não podem ser desfeitas. A linearidade do tempo, com suas estações e ciclos, é um chamado à ação consciente, ou a um viver que celebra cada instante, principalmente aqueles que não voltam. Em vez da gente temer o passar dos dias, devemos abraçar o tempo com gratidão. Ele nos oferece oportunidades para a transformação, para o aprendizado e os adventos da sua conexão. Assim, quando olhamos para trás, é exatamente nesse instante que passamos a dar valor a ele e a quando fazemos isso com um sorriso genuíno, estamos cientes de que cada momento vivido foi um presente. Ao final da jornada, que a reflexão nos leve a reconhecer a beleza nas experiências, até mesmo na inevitável morte, que é parte do ciclo. Portanto, eu lhe pergunto. O que você tem feito com o seu tempo? O agora é tudo o que realmente temos? Será? O texto nos direciona observando que o amanhã pode ser tarde demais. Ok. Mas e ai? Qual a mensagem que o Aparecido Raimundo de Souza nos mostra? Fim da primeira parte. Segue o final na segunda e última parte.
    Tatiana Gomes Neves, Tati
    tatianagomesnevesistoegente@gmail.com
    Sitio Shangri-Lá, ES/MG

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  6. E aqui vai a segunda e última parte.
    O que é o tempo para ele? A mensagem do escritor é uma reflexão profunda sobre a natureza do tempo e a sua importância em nossas vidas. Para ele, o tempo é um senhor misterioso, que avança de forma inexorável, levando consigo momentos que nunca podem ser recuperados. Ele destaca a transitoriedade (amei essa palavra, a transitoriedade) da vida e a necessidade de valorizar o presente, encorajando uma apreciação consciente de cada instante. O tempo, segundo sua imaginação fértil, é tanto um desafio quanto uma oportunidade. Aparecido nos envolve e nos impulsiona a crescer, a deixar marcas e a encontrar significado em nossas experiências. Em vez de temê-lo, devemos abraçá-lo com gratidão, reconhecendo que, apesar de sua linearidade e irreversibilidade, o tempo nos oferece a chance de transformação e aprendizado. E nesse ponto, ele vai mais longe. Mostra claramente que o tempo é visto como um companheiro inevitável que nos convida a viver plenamente, a refletir sobre nossas escolhas e valorizar as conexões e experiências que nos moldam. Aparecido Raimundo vê a morte como uma parte natural do ciclo da vida, não como um fim absoluto, mas como um momento que traz significado à existência. Em sua reflexão, a morte não interrompe a passagem do tempo. Pelo contrário, ela acentua a importância de valorizar cada instante vivido. Sugere literalmente que, ao encarar a morte, somos chamados a encontrar beleza e significado, mesmo nas situações mais difíceis. A inevitabilidade da morte nos lembra da fragilidade da vida e nos incentiva a agir com consciência, aproveitando o tempo que temos. Assim, a morte é apresentada como um elemento que dá profundidade à experiência humana, ressaltando a necessidade de refletir com mais atenção e cuidado sobre o que realmente importa. O escritor vê a morte, portanto, como uma parte intrínseca do ciclo da vida, e isso influencia sua visão sobre o tempo. Ele sugere bravamente que a morte não supera o tempo, mas sim, o complementa. A passagem do tempo, com a sua linearidade e irreversibilidade, torna a vida e as experiências que vivemos ainda mais preciosas, uma vez que cada instante se torna uma oportunidade única. A morte, para ele, enfatiza a importância de valorizar o presente, pois nos lembra que o tempo é limitado. Assim, ele, Aparecido Raimundo de Souza, vê a morte como um convite à reflexão nos instigando a encontrar significado e beleza em nossas vivências, mesmo sabendo que elas são efêmeras. Em resumo, para o Aparecido, eu entendi (se estou errada me perdoem) a morte e o tempo estão entrelaçados, ambos moldando a nossa percepção da vida e das escolhas que fazemos.
    Tatiana Gomes Neves, Tati
    tatianagomesnevesistoegente@gmail.com
    Sitio Shangri-Lá, ES/MG

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