quarta-feira, 30 de outubro de 2024

Zózimo, entre a fromagerie e o catupiry, só queijo francês!

Roger Rocha Moreira

Na longínqua quarta-feira santa do ano de 1969, o jornalista carioca, Zózimo Barrozo do Amaral [foto], foi preso e levado para o Batalhão da Polícia do Exército, na Tijuca.

Foto: Joëlle Rouchou/Divulgação/Intrínseca

No segundo dia em que estava no local, sua esposa, Márcia Barrozo do Amaral, conseguiu visitá-lo e levou uma cesta da Lidador, fina loja de importados. A cestinha estava repleta de queijos camembert, brie, roquefort e outras estrelas da fromagerie francesa. Zózimo, morto de vergonha com a ostentação em pleno território dos que brigavam pela ascensão do proletariado faminto, colocou as iguarias no mesão socialista. Depois, cochichando, deu um toque em Márcia: "da próxima vez traz catupiry."

Dois dias depois daquele banquete lá estava novamente Márcia com outra cestinha de delicadezas. Dessa vez elas falavam o português mais carioca possível. Nada de importados. Tinha catupiry, queijo minas e mortadela. Tudo gostoso, e agora politicamente compatível com o cenário espartano do presídio. A turma comeu, agradeceu e foi dormir.

Bezze, "chefe" dos presos, um dos organizadores da célebre Passeata dos Cem Mil pela Avenida Rio Branco e membro do Centro Acadêmico Cândido Oliveira da Faculdade de Direito da UFRJ, percebeu a mudança de sotaque no cardápio.

No dia seguinte, chamou Zózimo no canto: "olha aqui, meu prezado colunista, nós estamos presos, jogados neste fim de mundo, mas nem por isso perdemos a nossa dignidade, compreendeu?" Zózimo ficou paralisado. "O que houve? O que foi que eu fiz?"

Bezze explicou: "da primeira vez a sua mulher trouxe camembert, brie, um banquete delicioso. Ontem foi catupiry. Antes que a coisa chegue ao Polenguinho, eu quero te dizer o seguinte: só queijo francês! Do bom! Nós somos socialistas, mas gostamos é de queijo francês, morou?!" Passados 47 anos desse episódio, nada mudou. A esquerda brasileira continua "caviar". E hipócrita.

PS: O episódio é verídico e consta da biografia de Zózimo Barrozo do Amaral. Muito boa, por sinal!

Título e Texto: Roger Rocha Moreira, X, 28-10-2024, 20h34 

Relacionados: 
29-10-2024: Oeste sem filtro – Gilmar Mendes livra José Dirceu de condenações 
Mais um dia em Banânia… 
Será possível, por meios democráticos e pacíficos, vencer a pressão crescente dos diversos aspirantes ao domínio global – califado islâmico, eurasianismo e globalismo ocidental? 
Pouco a comemorar 
Lula e o PT desistiram de fazer política através dos meios democráticos

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.

Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.

Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-