Henrique Pereira dos Santos
“Nós temos é que matar o homem
branco como sugeria o [Frantz] Fanon. O homem branco que nos trouxe até aqui
tem de ser morto. Para evitarmos – como dizia Orlando Patterson – a morte
social do sujeito político negro é preciso matar o homem branco, assassino,
colonial e racista“.
Esta é uma famosa frase de Mamadou Ba [foto], que os polígrafos desta vida dizem que não pode ser descontextualizada e que o próprio Mamadou Ba considera desonestamente citada, se tirada do contexto, mas a frase é mesmo esta e Mamadou Ba está (evidentemente em sentido figurado) a reconhecer razão a Fanon (que tinha sido referido por alguém da assistência a quem Mamadou Ba está a responder).
Agora imaginemos que uma frase
absolutamente simétrica (incluindo no contexto) era dita por alguém da
"extrema-direita".
Lembrei-me disto porque um
amigo meu ficou muito indignado por eu ter feito um post a perguntar qual era
mesmo o perigo da extrema-direita, tendo esse meu amigo ficado à espera que eu
escrevesse um post sobre as declarações de dirigentes e afins do Chega.
Como há milhares de pessoas a
sinalizar a sua virtude assinando uma petição para criminalizar a liberdade de
expressão, como eu não preciso de fazer essa sinalização e não tenho qualquer
razão para andar a comentar as tolices de Ventura e afins (sendo as tolices
auto-evidentes, para mim, não se ganha nada em andar a martelar na mesma tecla,
excepto no caso de achar que a liberdade de expressão deve ser limitada à
expressão da virtude), achei boa ideia passar antes os olhos pelo discurso da
extrema-esquerda sobre a gestão dos subúrbios pobres das grandes cidades.
Como disse, e muito bem, Rui Moreira, o discurso de que a única face do Estado nesses subúrbios é a polícia é falso, a habitação, ou pelo menos os serviços urbanos de água, electricidade e tratamento de resíduos, é providenciada pelo Estado, as prestações sociais são uma das grandes fontes de rendimento desses bairros (não há, nesta afirmação, qualquer juízo de valor, também é a Segurança Social o principal financiador do mundo rural, atualmente), os transportes públicos servem esses bairros, as escolas e creches existem, a prestação de cuidados de saúde existe, etc.
Mas mais, que não disse Rui
Moreira, boa parte das associações que trabalham com essas comunidades são
financiadas, pelo menos parcialmente, pelo Estado.
A esquerda insiste em
contestar sistematicamente o funcionamento das instituições, o que é
especialmente visível quando os tribunais decidem de forma diferente daquilo
que serviria melhor a agenda a extrema-esquerda, dando origem a comunicados inflamados protestando contra o racismo do sistema de justiça português.
"Em todos os casos de
brutalidade policial que resultou nas mortes de cidadãos negros, racializados,
a PSP nunca foi convincente sobre as condições e motivos destas mortes.
Portanto, num país cuja polícia está inegavelmente infiltrada pela extrema-direita
racista, as mortes de pessoas negras às mãos de agentes policiais levantam as
maiores dúvidas e preocupações sobre as reais motivações das intervenções
policiais que acabam nestas mortes".
O parágrafo citado é do SOS
Racismo, mas corresponde ao discurso dominante da extrema-esquerda, a mesma que
se ofende pelo facto de Israel falar da infiltração das agências da ONU pelo
Hamas.
Estranhamente, a
extrema-esquerda não se apercebe de que se é verdade que há uma sobre
representação de ciganos e não brancos nas vítimas das ações policiais, também
é verdade que essa sobre representação também se verifica em todo o percurso
relacionado com o crime, incluindo no sistema prisional.
E quando alguém estuda o
assunto, identifica rapidamente a principal (há várias) raiz dessa sobre
representação no mundo do crime: a pobreza.
É uma extrema-esquerda que
prefere falar da violência policial (o fim de linha), esquecendo-se de defender
seriamente as duas principais instituições que melhor defendem os deserdados da
vida dos contextos adversos em que sobrevivem: a família e a escola.
Por mim, uns e outros podem
dizer o que quiserem, não são as palavras que matam ou ferem pessoas e, na
maior parte dos casos o discurso é tão troglodita que autolimita os seus
efeitos mas, se tiver de escolher, eu diria que o discurso da extrema-esquerda
é bem pior que o discurso da extrema-direita, não no conteúdo, que é igualmente
cavernícola, mas no facto de ser muito mais levado a sério por muito mais
gente, que deveria ter muito mais juízo que o que tem.
Título e Texto: Henrique
Pereira dos Santos, Corta-fitas,
30-10-2024
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