terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Saindo do Hotel Plaza... (II)

Anterior:

O ônibus em alta velocidade passa por Botafogo e avisto o Hotel Glória. Quando havia algum problema com o vôo, ao dar pernoite, era aqui que os passageiros vinham se hospedar. Certa vez Andréia, funcionária que trabalhava no aeroporto trouxe duas meninas menores e, depois de jantarem colocou-as dentro do quarto para dormir. Responsabilidade total. Foi descansar no quarto ao lado. Não sei o que a fez telefonar altas horas para o quarto das meninas e nada, ninguém respondia. Dirigiu-se para lá e verificou que as meninas haviam saído. Andréia, desesperada pelo Aterro do Flamengo a procura das menores. Pela madrugada adentro percorreu toda a área e nada. Sabia que qualquer coisa que acontecesse ela estaria na rua e, adeus anos trabalhados e o emprego que tanto amava. No saguão do hotel, o sol a tudo clareando, viu descer de um táxi as meninas de dezesseis anos que chegavam de uma "boite". Andréia jamais esqueceria aquela noite.

Vamos, não sofra tanto, o homem nasceu para isto mesmo! Amar, odiar, alegrar, sofrer. Mas, será que temos que viver caminhando nos opostos? É a alma humana um abismo constante? Por que temos que estar todo tempo despencando nestes abismos? É isto o que Deus quer? Para que Deus quer que seja assim? Ou colocamos o nome de Deus para dar uma razão a tudo? Será que existe razão deveras? Digo para mim mesmo; sofro mais pelos outros que pelo meu próprio sofrimento. Estou sendo honesto? Não há uma auto-piedade camuflada nisto? Não devo mudar de opinião? Aprendi que o homem que sabe o que quer não deve mudar de opinião. Mentira! Temos sim que mudar de opinião. Se não mudarmos não haverá evolução. O que não queremos é evoluir, mudar. Ah, isto não! Mudar dá trabalho, desconforto, sofrer. Não queremos sofrer. Desejamos ser água estagnada, apodrecendo. Por que precisamos modificar? A mãe passando a mão em nosso rosto, penteando o nosso cabelo na infância. Enxugando a nossa lágrima e nos consolando que tudo é bobagem e tudo passa. Precisava modificar? Crescemos feitos uns desesperados, depois, desejamos voltar a infância. Ambicionando um parto as avessas, com medo do sofrer. Dizemos que só aprendemos com o sofrimento. Palavras para amenizar a dor. O que temos de apreender? Não estamos prontos? Falta algo na natureza humana. Recuso-me a esta verdade aceitar.

Lá adiante está o prédio da Varig. A principio não quero olhar. Sei que estão lá o presidente atual, Bottini, o futuro comprador, Lap Chan, o Juiz que está conduzindo a operação, Ayoub, muitos funcionários. Todos preocupados. Faz cinco meses que não recebem seus salários. Continuam trabalhando com uma dedicação invejável a qualquer patrão. O décimo terceiro, ainda, não receberam, e até café levam de suas casas para bordo. Muitos foram despejados de hotel no exterior, porque o gerente afirmava que não havia recebido as suas diárias. Lá está o prédio da Varig. Um aperto no peito dolorido. Tenho que lembrar algo agradável. Um líquido suave para descer esta pílula amarga. Urgente, Manoel Barbosa vem a memória, como se fosse um bálsamo.
Sede da Varig, Rio de Janeiro, 07 de julho de 2003, foto: Jim Pereira

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.

Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.

Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-