O suposto gênio estratégico do
Hezbollah conseguiu meter-se numa guerra contra extremistas ligados à Al Qaeda,
que pode vir a ser um mal ainda pior do que seu grupo é capaz de fazer.
Avi Issacharoff
Qualquer criança de quatro
anos de idade, no Líbano e certamente na comunidade xiita, sabe quem foi o
responsável pelo ataque de ontem, quinta-feira, no reduto do Hezbollah
conhecido como Dahieh, no sul de Beirute, e que matou pelo menos 18 pessoas.
Você não precisa ser um agente da inteligência ou um analista de Oriente Médio
para reconhecer que grupos sunitas extremistas, que operam como parte da
oposição síria, cumpriram sua promessa de atacar o Hezbollah e seus apoiadores
em sua própria casa.
O atentado terrorista foi uma
resposta à participação dominante do Hezbollah na luta contra os rebeldes na
Síria. Na quinta-feira de ontem à noite, a "Brigada de Aisha", chegou
mesmo a emitir uma declaração assumindo a responsabilidade pelo ato para de
deixar bem claro ao Hezbollah por que perpetrou o atentado a bomba.
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Libaneses chegam ao local onde
um carro bomba explodiu no sul de Beirute, no Líbano, na quinta-feira,
15-8-2013. Foto: Hussein Malla/AP
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E, no entanto, apesar disso,
uma série de políticos libaneses, nem todos xiitas, se apressou em insinuar que
Israel estava envolvido. Tais alegações são tão ridículas que até mesmo no
Líbano são também consideradas um insulto à inteligência – mesmo quando elas
são proferidas pelo Presidente Michel Suleiman, que alegou que a explosão tinha
as impressões digitais dos israelenses, ou do líder druso Walid Jumblatt, um
dos grandes oportunistas do Oriente Médio, que de forma similar levantou
acusações não menos ridículas.
A razão para estas alegações é
óbvia: esses políticos, incluindo Suleiman, estão preocupados que um ataque
como este suscitará uma retaliação por parte do Hezbollah particularmente
violento. Ao apontar o dedo para Israel, eles estão tentando fabricar um
inimigo comum para todos os libaneses. Suleiman, que há poucos dias exigiu o
desarmamento do Hezbollah, entende que um ataque como este em Dahieh poderia
eventualmente levar a uma tomada completa do poder pelo xiita Hezbollah no
Líbano e habilitar o grupo a fazer um expurgo de todos os focos de oposição –
sejam eles extremistas sunitas ou políticos rivais e implantar uma ditadura
ainda mais dura no Líbano.
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Coluna de fumaça vista do Monte Líbano em frente ao local
da explosão e que também pode ser vista em toda a cidade. Foto: Ahmad Omar/AP
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Como muitos no Líbano,
Suleiman reconhece que a guerra civil da Síria, que intermitentemente se
infiltra no Líbano, na quinta-feira de ontem sofreu uma escalada a um nível
ainda mais perigoso para o seu país. Notável foi que, no website da emissora de
TV do Hezbollah, Al-Manar foi rápido em divulgar os comentários do número 2 da
organização xiita, Naim Kassam, que disse que Israel está dissuadido de
confrontar o Hezbollah “e verifica mil vezes antes de arriscar qualquer
agressão contra nós”. Este foi Hezbollah dizendo a todos os políticos e à sua
própria gente que não, Israel não é o problema agora.
Mas o Hezbollah não tem muitas
opções boas neste momento. Para começar, ele não tem um alvo claro para revidar
ou punir. O atentado a bomba não foi uma surpresa em particular. O Hezbollah
disse só recentemente aos seus homens para estarem em alerta em áreas xiitas,
por medo de atentados suicidas, carros-bomba, ou ataques de mísseis.
Evidentemente, isso não ajuda e representa um amargo experimento de seu próprio
veneno.
Ontem, quinta-feira, cocorreu
um dos mais duros ataques de terror que Hezbollah já sofreu. E isso deixa de
calças curtas e pega mal para a ostensiva ‘sabedoria’ do secretário-geral do
Hezbollah, Hassan Nasrallah. Este suposto gênio da estratégia cometeu um erro
tolo, quando ordenou a seus homens, há dois anos, que aumentasse seu empenho na
luta em que se envolveu ao lado das forças de Bashar Assad, na Síria, um erro
semelhante ao que cometeu em 2006 quando aprovou o sequestro de soldados
israelenses, o que levou à Segunda Guerra do Líbano.
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Populares á procura de
sobreviventes na área da explosão. Foto: Ahmad Omar/AP
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Neste momento, no Líbano, a
emissora de TV afiliada ao Hezbollah, TV Al Mayadeen, transmitiu episódios
noturnos de uma série dedicada a mostrar essa guerra, que acabou precisamente
há sete anos. O próprio Nasrallah é entrevistado nos episódios finais e
reafirma sua assertiva de vitória do Hezbollah. Ele parece ter esquecido ter
reconhecido imediatamente após a guerra, publicamente, que os sequestros tinham
sido um erro e que, se soubesse o preço que o Líbano iria pagar, não os teria
aprovado.
É justo supor que na noite da quinta-feira
de ontem, também, Nasrallah tenha internalizado a dimensão do erro que cometeu
quando ele cedeu à pressão iraniana e concordaram em enviar suas tropas para
lutar ao lado de Assad na Síria. O atentado de ontem pode ser apenas o começo
para os grupos terroristas ligados à Al-Qaeda, que veem os xiitas – não menos
do que os judeus e os cristãos – como seu inimigo.
O líder Hezbollah, Nasrallah,
pode até estar começando a perceber que agora está em desacordo com as únicas
pessoas no Oriente Médio, cuja mentalidade pode ser ainda mais perniciosa do
que a sua própria.
Título e Texto: Avi Issacharoff
Tradução: Francisco Vianna, 16-8-2013
Tradução: Francisco Vianna, 16-8-2013
NT – A grande mídia brasileira
e sul-americana não disseram uma palavra sobre esse atentado. Cada vez mais,
temos que recorrer à mídia internacional se quisermos saber como as coisas
estão ocorrendo no mundo.
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