quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Cassandras e panglossianos

Luís Naves
Portugal conseguiu realizar uma emissão de dívida a cinco anos que só pode ser considerada um êxito. A procura foi três vezes maior do que a oferta, a taxa de juro diminuiu em relação à emissão anterior e os interessados em comprar dívida portuguesa são menos especulativos do que no passado.

Há crescentes sinais de que a situação económica do País está a mudar. As exportações cresceram 7,2% em Novembro, a poupança das famílias aumentou, o défice de 2013 será inferior à meta da troika, a confiança recupera e, na vertente do emprego, parece haver indícios de uma melhoria surpreendente, embora não seja ainda claro que tipo de postos de trabalho estão a ser criados (que sejam mini-jobs, só alguém com emprego pode achar mal).

Aqueles que sempre defenderam a desistência continuarão a dizer que a situação é desesperada.
Vivemos durante três anos embalados na narrativa da desgraça e agora, quando chegam as primeiras boas notícias, vão aparecer os habitantes do outro lado do espelho, os panglossianos, que só verão o lado róseo da realidade.

O que temos perante nós não será inferno nem paraíso, mas antes uma aborrecida e lenta recuperação, com altos e baixos, avanços e recuos, momentos de alegria e também de desalento. Quem agora vender novas ilusões de uma recuperação rápida estará a cometer o mesmo erro das cassandras. A saída da troika não mudará um aspecto essencial: a longo prazo, Portugal terá de manter contas públicas equilibradas e orçamentos de rigor. É isso ou saída da zona euro.

Para os portugueses sem emprego e com pouca esperança, o facto de baixarem as taxas de juro da dívida não dirá grande coisa. No entanto, não podemos esquecer as razões desta crise: o Estado português esteve em pré-falência e a alternativa ao resgate internacional foi a bancarrota e, então, não haveria dinheiro para pagar as reformas, os salários ou as importações. A alternativa à troika foi sempre, e continua a ser, a saída do euro, esse sim o verdadeiro cataclismo.
Título e Texto: Luís Naves, Fragmentário, 09-01-2014

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