quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

O primeiro sequestro de um avião de passageiros

As time goes by…
Depois de ter transportado em sonhos Ingrid Bergman, o avião de Casablanca para Lisboa protagonizou uma das mais espetaculares ações antissalazaristas.
Luís Almeida Martins

Todos os dias, nesse outono de 1961, iam até ao porto de Tânger e fingiam observar atentamente barcos e tripulantes. Mas aqueles portugueses, inimigos de Salazar, o que pretendiam era iludir os agentes da PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado) que os vigiavam a todo o momento, mesmo ali no estrangeiro. Palma Inácio, Camilo Mortágua e os outros queriam dar a entender aos polícias do ditador que preparavam um desembarque de guerrilheiros na costa algarvia, semelhante ao dos barbudos de Fidel Castro em Cuba. Na realidade, a sua ideia era desencadear uma ação não marítima, mas aérea, lançando sobre o país panfletos contra o regime.

Eludindo a vigilância dos “pides”, no dia 10 de novembro embarcaram em Casablanca no avião da TAP com destino a Lisboa – o Super-Constellation batizado de Mouzinho de Albuquerque. Quando o aparelho se aproximava já da Portela, induziram o comandante José Marcelino a simular a aterragem e a voltar para trás, sobrevoando a cidade de Lisboa a baixa atitude. Despressurizada a cabina, lançaram então sobre a capital, o Barreiro, Setúbal, Beja e Faro milhares de panfletos impressos em papel de seda.



Salazar, espumando de raiva, mostrou uma vez mais que tinha pelos no coração. Dois caças a jato Sabre da base de Monte Real foram incumbidos de perseguir e abater o avião de passageiros. Um, porém, não levantou voo e o outro recebeu ordem para subir a uma cota demasiado elevada. A Força Aérea, sem o admitir, recusava-se a acatar a diretiva do ditador. Mas claro que o Super-Constellation – com passageiros americanos, ingleses, franceses, belgas e espanhóis – tivesse sido derrubado, o regime tê-lo-ia sido com ele.


Ao começar o sobrevoo do mar, frente ao Algarve, rumo a Tânger, onde pousaria finalmente, o Mouzinho de Albuquerque ainda se cruzou com dois navios de guerra, cujos tripulantes lhe acenaram. Estavam ali à espera do pretenso desembarque dos guerrilheiros “castristas”…
Palma Inácio libertado da prisão de Caxias a 26 de Abril de 1974
Este foi o primeiro desvio de um avião de passageiros de toda a História. Nos anos seguintes, auge da revolução cubana, tornar-se-ia prática corrente voos comerciais ocidentais serem desviados para Havana.
Texto: Luís Almeida Martins, in “365 DIAS com histórias da HISTÓRIA de PORTUGAL”, páginas 487/488.
Título e Digitação: JP

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