sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Lygia Cabus: A Estrela Some

Ernesto Ribeiro
Lygia Cabus é jornalista, webmaster do site internacional de notícias esotéricas mais acessado do mundo.

Mas o principal é:


Lygia Cabus foi uma estrela do teatro e do rock baiano nos anos 80 e 90

Atriz de peças adultas de autores como Jean-Paul Sartre e Paulo Ponte, dirigida por Eduardo Cabus e outros dramaturgos de renome. Trabalhando na Europa, a companhia de teatro Cabus foi a Portugal, onde ela apresentou-se nos palcos de Lisboa. Atuou em Huis Clos — o texto mais poderoso de Sartre, com o aforisma eterno de que "O Inferno São os Outros" — no papel que foi de Cacilda Becker e depois como o papel masculino que fez as platéias chorarem com tal atuação trágica.

(Isso numa montagem ousada de Entre Quatro Paredes, com ambientação e trilha sonora dark punk dos Sex Pistols, Joy Division, David Bowie, Stooges e outros, fazendo jus à visão dilacerante do existencialismo francês.)  

Em 1988, acumulou o cargo de autora de peças teatrais, brilhando no Teatro Gamboa como a jóia da elite cultural da metrópole.

Em 1989, tornou-se cantora de rock’n’roll na primeira formação da Treblinka, iniciando sua parceria com o gênio compositor e muti-instrumentista Sergio Belov. No mesmo ano, participaram da coletânea em vinil Rock Conexão Bahia. As canções "Vida em Carne Viva" e "A Queda de Sodoma" ficaram entre as mais tocadas nas FMs.

Em 1990, Lygia Cabus e Sergio Belov formaram o THC — Típicos Habitantes da Cidade, a grande banda de rock perfeccionista que Salvador já conheceu. Em letras poéticas, filosóficas e existencialistas, eles casaram a sofisticação intelectual com o apelo pop e a força do rock em arranjos musicais elegantes. O sucesso foi tão estrondoso que culminou nos inesquecíveis shows no Rio Vermelho na casa de espetáculos Off The Wall e no grande Teatro Gamboa, com todas as lotações esgotadas e filas dando voltas no quarteirão com mais gente querendo entrar.

As ligações telefônicas diárias da imprensa com convites de programas de TV e rádio, e a exposição constante nos jornais e revistas marcaram o nome de Lygia Cabus ao mesmo tempo nas páginas dos cadernos culturais, de música e teatro, como jurada de programas de auditório na TV e também como personalidade nas colunas sociais.  

Durante anos, ela foi a musa inspiradora absoluta do lendário colunista Béu Machado, que a defendia com entusiasmo contra os ataques da invejosa editora do Caderno Cultural. 

Infelizmente, nesse nível intermediário de sucesso, os artistas ficam completamente expostos a todo tipo de invasões, cobranças e assédios. Todo dia. O dia todo. Eles ainda não contavam com nenhum agente ou empresário para administrar a situação e gerir os negócios, para se poupar do desgaste diário e da pressão crescente de serem assediados em suas vidas pessoais, corroendo as relações entre os músicos e expandindo o sofrimento para suas famílias. Para completar, as intrigas internas, ambições desmedidas e ciúmes por parte da namorada de Belov levaram ao fim da banda. 

Em 1993, Lygia formou a banda Blue Velvet, com uma proposta de back to basics em termos de rock’n’roll mais pesado, cru e brutal. O grupo atuou firme por 7 anos, priorizando as performances ao vivo, sem gravações e sem concessões. Em um show histórico que foi matéria de reportagem no jornal, um metaleiro ajoelhou-se e beijou a bota de Lygia Cabus. 

Finalmente, em 2000, quando a cena do rock baiano recebeu o beijo da morte do Papai-Estado e a extrema-unção da Secretaria da Cultura, diante do quadro de absoluta FALÊNCIA do circuito cultural baiano (e brasileiro), ela usou de sua proverbial força de vontade e auto-disciplina para uma mudança de rumos ao abraçar outra carreira que a deixasse fora do radar da imprensa.  

Lygia Cabus conheceu toda a pressão do sucesso e do assédio permanente da mídia e do público ao administrar duas carreiras simultaneamente, no teatro e na música. Por isso mesmo tomou a decisão corajosa e ponderada de abandonar o show business. Pois faz questão de lembrar que “todas as artes são marciais.” Ela sabe tudo sobre as armadilhas dessa terra movediça. E aprendeu a nadar com os tubarões.
Título, Imagem e Texto: Ernesto Ribeiro, 01-08-2014

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