POLITBURO COMUNISTA DA VENEZUELA BUSCA MEDIDAS PARA AUMENTAR O CONTROLE
SOCIAL DO GOVERNO SOBRE O CIDADÃO.
Francisco Vianna
O Palácio Miraflores, em
Caracas, anunciou um mecanismo de combate ao contrabando que se constitui na
instalação de um sistema de identificação biométrica em supermercados, bancos,
e até em cinemas venezuelanos, que aparentemente tem a finalidade de se tornar
num asfixiante mecanismo de intimidação e controle social que vida aumentar em
muito a dependência do cidadão ao estado ‘bolivariano’ e sufocar a disposição
da maioria em protestar.
Os entendidos em economias
estatizadas e centralizadas consideram tais planos de instalar um polêmico
sistema eletrônico de identificação biométrica, inicialmente nos supermercados,
não passam de passos iniciais para pôr em prática o chamado “racionamento
computadorizado”, aproveitando a forma como Havana distribui uma miséria
igualitária ao povo cubano, que, em última análise, servirá para subjugar a
vontade de dissentir dos venezuelanos.
Um desses especialistas é
Jaime Suchlicki, diretor do Instituto de Estudos Cubanos e Cubano-Americanos
(IECCA), que afirma: “Na Venezuela o
regime trata de imitar ao máximo as medidas adotadas pelo regime comunista
cubano. A influência cubana, por via de intensa assessoria dirigida pelos
Castros, é fundamental e intensa dentro do chavezismo”.
Tal medida é apenas a
aplicação da experiência do regime cubano em termos de repressão à tecnologia
atual. Membros do alto escalão do regime de Caracas dizem que “será uma espécie
de sistema de racionamento novo do Século XXI”, pelo qual o politburo comunista
“vai poder controlar o indivíduo ainda muito mais do que se controla em Cuba”.
Ao racionar a comida e os artigos de primeira necessidade da população, o
sistema, que deixou profundas marcas na população cubana, terá a finalidade
precípua de submeter à vontade do regime de forma completa a vontade pessoal
dos venezuelanos.
“Como em Cuba, por quase
cinquenta anos, não havia empresas privadas, todo mundo dependeu do “carão de
racionamento” para viver e comer, mecanismo que Fidel Castro sempre utilizou
para controlar a população”, acrescentou Suchlicki, dizendo ainda que “trata-se
de um mecanismo não apenas de controle social, mas também de manipulação e
distribuição de uma miséria igualitária, típica dos regimes socialistas. Se a
pessoa não se conforma e não aceita o que o governo manda, não come. Caso a
pessoa se ‘porte mal’, não terá seu cartão de racionamento renovado a cada mês
ou tê-lo-á cassado, simplesmente”.
O sistema também se mostrou
eficaz para restringir a mobilidade dentro da ilha-cárcere dos Castros. “O uso
do cartão de racionamento só é válido na área onde o cubano reside, de modo
que, quando viaja, ele não pode usá-lo em outras cidades, um meio de, na
prática, proibir que a pessoa viaje”.
Ora, é claro que nada disso é
comentado no discurso oficial do regime de Nicolás Maduro, que atribuí a grave
crise de desabastecimento na Venezuela ao ‘contrabando’ e argumenta que o
sistema biométrico é necessário para evitar que os produtos comprados “em
excesso” acabem na Colômbia e outros países vizinhos.
Na semana passada, o
mandatário disse num discurso que “a identificação biométrica não é um sistema
de racionamento, mas o fim do racionamento. Ao contrário, é para que tudo o que
se produz na república seja adquirido pelo povo […] e que o sistema biométrico
não se destina prejudicar as famílias, mas sim a ajudá-las”. Só não disse que a
Venezuela importa quase tudo e produz quase nada, vivendo, agora
deficitariamente, do petróleo cuja extração e refino está em queda livre pela
estatal PDVSA.
Em seu discurso populista e
demagógico, Maduro afirma que “seu governo está em guerra da mais alta
intensidade contra as máfias contrabandistas [...] Tem havido toda uma operação
para irritar e atingir o povo com uma guerra econômica [...] que busca
convencer as pessoas que a culpa é do governo e que o governo não tem como
controlar a economia e, por isso, temos que evitar que tal coisa aconteça”.
Andrés Eloy Méndez,
superintendente de “Preços Justos” disse que o novo sistema estará instalado
nos supermercados até o próximo dia 30 de novembro, inclusive em cidades
distantes das fronteiras. “O sistema vai também funcionar internamente” em todo
o território nacional, onde prolifera o chamado ‘mercado negro’ e onde “se
revendem a preços mais altos os produtos que escasseiam nos mercados estatais
‘regulares’”.
Segundo o governo, esse
sistema biométrico ou de capta-digitais permitirá que cada venezuelano “faça
suas compras semanais com uma extensão de quantidades bastante tolerante e ampla
e assim evitar que uma pessoa compre até vinte vezes mais do que necessita”,
explicou Méndez.
A verdade, no entanto, por
trás de tudo isso, consiste no fato de que, mesmo que o sistema seja
suficientemente tolerante para que o consumidor compre tudo o que necessita –
segundo os analistas –, o venezuelano automaticamente passará a viver sob o
controle estatal, com o chavezismo decidindo o que, o quanto, e com qual
frequência poderá comprar, perdendo no processo seu direito de decidir.
“Ora, isso não visa absolutamente
frear o contrabando, mas sim implantar um mecanismo de controle social diante
da forte crise de abastecimento que se observa no país”, comentou Antonio De La
Cruz, outro analista, que é diretor executivo da empresa de assessoria Inter American Trends. Afirmou ainda que
“não apenas a medida vai permitir que o governo aplique o racionamento, como
também permitir que um estado controlador saiba o que cada venezuelano compra,
usa, coma, calce, vista, e adquira e finalmente permitir que controle cada um
deles, exigindo-lhe a obediência em troca do acesso a um pacote de arroz ou a
um litro de leite”, acrescentou De La Cruz.
Os venezuelanos dizem que
vivem no país mais inseguro do mundo, não apenas com relação à sua segurança
pessoal, mas principalmente com relação à segurança jurídica de quem se
aventura em empreender e montar um negócio, uma indústria, ou uma empresa
privada de serviços. Com isso, a Venezuela está cada vez mais se privando de
sua mão de obra capacitada, que foge para o exterior, assim como dos capitais
privados que praticamente não existem mais fora da curriola do politiburo
comunista. Toda essa malversação da economia pelo chavezismo mantém o país cada
vez mais isolado do mundo e privado de investimentos externos, que hoje são
considerados essenciais ao desenvolvimento e ao crescimento do PIB. Somente a
Coreia do Norte, Cuba, algumas republiquetas miseráveis africanas, e agora a
Venezuela, insistem nessa receita de atraso e miséria social de seus povos.
Ainda não existe, com relação
à Venezuela, uma política de bloqueio e de sanções econômicas por parte dos EUA
e demais países desenvolvidos como ocorre com Cuba, mas qualquer venezuelano
razoavelmente informado sabe que, mais dia, menos dia, a persistir o
aprofundamento da cubanização do país, isso fatalmente acontecerá.
Título e Texto: Francisco Vianna, 25-08-2014
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