quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Avaliação do debate presidencial da Band em 26 de agosto

Luciano Ayan
A primeira coisa que podemos dizer sobre Aécio Neves no debate da Band ontem, 26/08, é que dentre os três principais candidatos, ele foi o vencedor, mas apenas por ligeira margem sobre Marina. A segunda coisa a ser dita é que essa vantagem não significa absolutamente nada. É mais ou menos quando um crítico de cinema disse que o filme Hulk era melhor que Batman, de Tim Burton (não o de Christopher Nolan). No que foi questionado: “Então o filme é bom?”. Resposta: “De jeito algum, eu apenas disse que é melhor do que Batman de Tim Burton. E isso não significa absolutamente nada”.

Verdade seja dita, Aécio Neves foi claro e objetivo em suas respostas, mesmo que eu não concorde com muitas delas, como aquela tal poupança do estudante. Em uma vantagem considerável se comparado aos candidatos do PSDB nas eleições anteriores, ao invés de fugir do legado de FHC, ele abraçou-o, no que fez muito bem. Ele sempre lembrava que sem a estabilidade conquistada naquele governo, não haveria nenhuma chance de Lula dar sequência apenas ao que FHC tinha iniciado. Sentíamos falta deste tipo de discurso na oposição.

Na demonstração de sua superioridade em relação a Dilma, bem que poderia usar a técnica da metralhadora giratória de comparações favoráveis a ele. O site Implicante deu uma dica mostrando como isso poderia ser aproveitado por Aécio. Quem sabe em uma próxima oportunidade.

Em um momento estilo Joe Biden (famoso por destruir oponentes com ótimaas sacadas), Aécio disse que o povo brasileiro tem um sonho: “viver na propaganda do PT”. Também é digna de nota a dura questão lançada em direção à Dilma sobre a Petrobrás, ao final da qual ele ainda questionou se não era momento dela pedir desculpas ao povo brasileiro por ter reduzido a empresa à metade de seu valor de mercado na era pré-sal, transformando-a em um caso de polícia.

Todavia, me decepcionei com sua postura em relação ao Decreto 8243, pois quando Dilma foi questionada sobre isso, era momento de fazê-la ficar sem chão. É muito fácil apresentar este decreto como uma abominação para a democracia e principalmente para o povo brasileiro. Farei um post somente com dicas a respeito especificamente sobre como não apenas Aécio mas qualquer outro candidato pode colocar Dona Dilma na parede em relação a temas como Decreto 8243, censura de mídia, Petrobrás e segurança, dentre outros.

No geral, Aécio conseguiu misturar propostas com ataques políticos que se não foram a maior maravilha da Terra pelo menos deram um sinal de que ele ainda está vivo na campanha. Respirando por aparelhos, mas ainda está vivo. Uma pena que em seu programa de TV ele não demonstre a mesma assertividade. Os programas do horário eleitoral do tucano estão precisando de Viagra.

Já Marina entrou em campo para vencer na malandragem. E antes que me digam que isso é um defeito, argumento em contrário: política é um jogo misturando xadrez e pôquer. É importante reagir bem diante da imprevisibilidade dos eventos, entre eles as questões e respostas de adversários. Nesse quesito em específico ela se deu muito bem. (Atenção: neste blog já defendi o voto em Aécio no primeiro turno, mas avalio o debate de forma técnica, pois com isso estimulamos que estratégias e táticas de nossos adversários possam ser assimiladas por nós)

Como definir Marina? Não é fácil. Ela diz “rejeitar a política” e critica tanto a “esquerda arcaica como a direita obsoleta”. Não necessariamente nessas palavras, é claro. Na direita, muitos a chamam de iludida ao professar a “superação da política”. A meu ver, isso é pura malandragem, ao invés de ilusão. Para mim, a melhor definição do padrão de sua campanha é que ela se tornou o Obama versão tupiniquim. E isso não é pouca coisa.

As mensagens sub-comunicadas por Marina querem dizer que ela está acima dos interesses “mesquinhos de partidos como PT e PSDB”, que com sua sanha por fazer política ultra-partidária, tem destruído as boas conquistas de cada um no passado. Segundo ela, isso é irreversível e a solução é alguém que supere estas picuinhas. A partir daí, ela recheia seu discurso com vaguezas muito bem planejadas. Praticamente um bagre ensaboado. E quanto ao conteúdo de suas propostas? Aí você já está pedindo demais…

No que diz respeito à Dilma, tudo correu conforme o previsto: ela foi inconvincente e demonstrou nervosismo, mesmo que tenha acertado uma ou outra vez ao usar a tática de metralhar méritos (criamos X empregos, reduzirmos Y desigualdade, etc.), quase todos eles falsos e raramente contestados pelos oponentes de forma assertiva o suficiente. Não sei se assessores de Marina e Aécio andaram lendo este blog, mas já conseguiram colocarem descrédito de forma resumida essa mania que Dilma tem de apregoar méritos inexistentes, assim como a incapacidade de reconhecer os próprios erros.

Se Dilma e Aécio pegarem o jeitão da coisa, na próxima vez que a Dilma disser “não há nada de errado em nenhum aspecto do meu governo, fizemos X, Y e Z”, basta darem risada dizendo “Eu não falei? Ela não tem jeito!” e em seguida ridicularizar o parangolé.

Resumo da ópera dilmesca: ela foi uma catástrofe. Isso pode ser medido pela reação imediata da BLOSTA diante do debate. Pânico geral e alguns poucos elogios comedidos. E olhe que eles antes tiveram a cara de pau de dizer que Dilma “calou” William Bonner no debate do JN, quando na verdade ela foi demolida pelo entrevistador. Mas em relação ao desempenho dela ontem, não há açúcar suficiente para torná-lo palatável até mesmo para seu séquito de fiéis.

Para termos uma ideia do desastre, veja o que disse Eduardo Guimarães no Brasil 247: “Dilma se defendeu como pôde. Particularmente, o Blog julga que passou bem pelo corredor polonês dos adversários. Manteve postura digna, apesar do nervosismo que não a abandona nunca.” Como já disse, qualquer coisa menos do que uma comemoração de vitória suprema por parte dessa gente é sinal de que a coisa realmente foi muito ruim. Certo momento dava a impressão de que Dilma queria pedir para cagar e sair. Aliás, muito boa a ideia de Marina de jogar o frame “enroladora” em cima da presidente. Marina também mencionou um “mundo cinematográfico” inventado pela campanha do PT. Fato: Dilma só se garante em horário eleitoral, pois ao vivo se resume a enrolar sem o menor conteúdo. Fica parecendo ritmo minimalista de música trance para hipnotizar o público.

Auditores são acostumados a notar quando alguém sob questionamento enrola e foge do assunto, no intuito de tomar o tempo da equipe de investigação. A expectativa geralmente é a de que o tempo da reunião termine e o auditor não tenha tempo de fazer as perguntas mais comprometedoras. Enfim, é uma tática. Que no caso de Dilma já começa a ficar manjada. É um dos raros momentos onde sentimos pena dos militantes governistas, obrigados a ter que aturar e apoiar tando discurso sem conteúdo, fingindo elogios imerecidos. Não passa de uma legião de zumbis, com certeza.

Nervoso como de costume (e sem motivo para tal, pois não é vidraça de forma alguma), o Pastor Everaldo continuou com seu discurso de livre mercado e livre iniciativa, que mais parece decorado do que outra coisa. Para que um candidato tenha consistência no que diz, é preciso que realmente acredite em suas próprias palavras. Ok, eu sei que muitos não “acreditam” de fato, mas é aquele negócio que os PUAs chamam de “fake til you make it”.

Caso você não acredite de fato em algo, é preciso se comportar como se suas crenças fossem reais até o ponto em que ninguém o identifica como um oportunista ao professá-las.

Eu não estou necessariamente chamando o Pastor Everaldo necessariamente de picareta, mas de alguém que parece ter descoberto um novo discurso há pouco tempo e ainda não consegue sequer nos convencer da credibilidade de sua convicção no que defende. Quando ele falava das vantagens do livre mercado, parecia estar acessando uma “cola” guardada na manga.

Também faltou assertividade e tarimba ao Pastor, pois quando Luciana Genro o questionou sobre homofobia, lançando sobre os pastores a culpa sobre assassinatos de gays, ele poderia derrubá-la com extrema facilidade. Toda pessoa que inflar as estatísticas de mortes de gays (200 mortes por ano, enquanto 60.000 assassinatos ocorrem no país), assim como inventar homofobia onde não existe e fazer discurso de ódio e difamação contra religiosos, pode ser trucidada em qualquer debate moral. Lamentavelmente ele ficou na defensiva.

Os outros três candidatos (Levy Fidelix, Luciana Genro, Eduardo Jorge) geraram os momentos mais engraçados do programa. Levy Fidelix conseguiu a proeza de só bater e não ser atingido um momento sequer. Luciana Genro só batia na mesma tecla dizendo que PT, PSDB e PSB são “servos do capital” e ainda se opôs à redução da maioridade penal. Ninguém a transformou em pó. E seria muito fácil. Fica um desconto pois ela não era o adversário a ser derrotado.

Mas e o Eduardo Jorge? Com certeza, uma figura carimbada, mesmo que tenha cometido um deslize imperdoável. Quando Boris Casoy questionou Dilma sobre os projetos de regulação da mídia, dizendo que é coisa “do PT mas Dilma não concorda”, Eduardo, ao invés de falar sobre o assunto afirmou algo como: “Ah, eu concordo com Dilma”. Como é? Eis que vergonhosamente o discurso de regulação econômica da mídia (pelo qual se implementa a censura sutil) que a própria Dilma reconheceu apoiar não foi explorado. Muita gente acha que ele foi ao debate de “cabeça feita”. Definitivamente, foi o candidato da zoeira.

Diante desse apanhado, o debate foi bem mais divertido do que eu esperava, embora menos contundente do que poderia ser. Os embates entre candidatos foram muito melhores do que as partes onde os jornalistas faziam perguntas.

Fica a menção para um aspecto positivo: finalmente ideias da direita, como privatização e redução de impostos, foram tratadas sem pudor. Isto é com certeza um avanço do qual nós somos corresponsáveis, ao atuar nas redes sociais expondo argumentos por que a iniciativa privada é melhor que a intervenção estatal.

Mas o que mais me incomodou foi a oportunidade que todos os opositores de Dilma perderam para coloca-la em maus lençóis de forma muito mais devastadora. Quando Dilma falou da segurança pública, ninguém lhe disse que nos estados administrados pelo PT a violência se tornou endêmica. Ninguém definiu o Decreto 8243 e a censura de mídia nos termos reais: como manifestação totalitária de um regime prestes a destruir seu povo. Ninguém apontou o dedo para Dilma em todas as vezes em que ela se recusou a falar de corrupção. Fico imaginando o que ocorreria se Paulo Martins fosse candidato à presidência no lugar do Pastor Everaldo ou de Levy Fidelix. Talvez essa se tornasse uma noite inesquecível para Dilma Rousseff, principalmente pelos temas relacionados ao Decreto 8243 e censura de mídia terem vindo à tona.

Dilma foi a maior perdedora deste debate, sem dúvida alguma. Mas dá para desmascará-la com muito, mas muito mais intensidade. Hoje em dia, Dilma não passa uma figura tentando defender o indefensável. Ela é vulnerável. Se considerarmos o paradigma da política norte-americana, até mesmo um candidato do Partido Republicano (geralmente muito mais ingênuos do que aqueles do Partido Democrata) teria condições de fazer a presidente dar um soco na bancada e se perder definitivamente.

Para o debate da Globo, resta a nós pressionarmos os opositores de Dilma para realmente colocá-la contra a parede. Este blog vai colaborar com conteúdo neste sentido.
Título e Texto: Luciano Ayan, Ceticismo Político, 27-04-2014

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2 comentários:

  1. Assisti ao debate. Muito bom. Como li algures, terá servido mais a consolidar posições e opções do que propriamente a decidir.

    Não entendi Eduardo Jorge. Uma vergonha para o PV!

    Luciana Genro, é ‘aquilo’.

    Uma pena que os brasileiros ainda não tenham a educação política mínima necessária para perceber o que está por trás da eloquência de um ou de outro candidato. Isto é, não sabem captar os valores político-ideológicos que estão por trás deste ou daquele candidato. Deixam-se embalar pelos discursos, não sabem o que aquele partido representado por este ou aquele bonitinho, é anti-capitalista, defende os mesmos valores e conceitos do que, por exemplo, Cuba, Coreia do Norte…
    E aí, elegem e reelegem os que estão em Brasília há doze anos.

    Marina Silva é sonsa e hipócrita.
    Veja a entrevista relâmpago após o debate: não deixou de alfinetar o PSDB, contrariamente ao seu discurso contrário à polarização, à desqualificação, etc…
    É isso.

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  2. O debate me surpreendeu. Achei que os três principais saíram-se bem, dentro das metas a que se proporam. O Aécio, que estava treinado para bater na Dilma, buscou, ainda tateando, o melhor jeito de bater na Marina. Estava bem preparado, seguro e plugado. A Dilma nem lembrava a Dilma dos debates de 2010. As frases tinham início, meio e fim, recheadas de muitos números, necessários para se defender do chumbo grosso contra ela dirigido por todos os outros. Passou segurança. E a Marina surfou na onda que é dela, dona da estratégia mais confortável e eficiente, que foi mostrar-se como terceira via, criticando PT e PSDB e sublinhando o cansaço, que é real, dos eleitores com esta polarização. Vale lembrar que, principalmente em 2010, foi de péssimo nível os debates, de torcer no nariz.

    Da Marina, porém, não veio nada de minimamente consistente em termos de propostas. Ela ainda surfa na onda emocional, capitalizando a memória de junho de 2013, capturando o desejo de mudança com a promessa de ser ela a agente desta ruptura. Mas não apresentou nada de concreto que demonstre sua tese. A meu ver, esta eleição é imprevisível, mais que as anteriores. Grande abraço,
    Chico Mendonça

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