Sobre a lucubração filosófica do senhor Rocha, de fato honesta e sincera, quero acrescentar
comentário que considero pertinaz.
O reconhecimento de uma
inteligência inicial, criadora do universo, pode ser sentido e atingido por
diversas ocasiões da vida, mas a noção de espiritualidade decorre
principalmente do fato de que a cada resposta que a humanidade consegue dar aos
seus questionamentos, por si só, dá origem a um número ainda maior de mistérios
e dúvidas que precisam ser respondidas... Assim, supomos que, enquanto o nosso
conhecimento cresce em progressão aritmética, as nossas dúvidas e mistérios
surgem em progressão geométrica!
As dúvidas, e as angústias que
elas causam ao espírito humano, são de fato as forças que levam o homem a
pensar através da ciência, mas, ironicamente, quanto mais respostas a
humanidade consegue para dissipar suas dúvidas e mistérios, mais esses sentimentos
se multiplicam. A atitude científica é pois altamente angustiante e o máximo
que ela consegue fazer é deixar questões pendentes para que mais tarde possam
ser respondidas. A crença, a fé, são altamente apaziguadoras. Quando se crê,
pode-se dormir tranquilo...
Por outro lado, Lavoisier
nunca disse que "na natureza, nada se cria e nada se perde, mas tudo se
transforma", um erro corriqueiro que muita gente boa comete. Quem disse
isso pela primeira vez foi o filósofo grego Thales, de Mileto. O Teorema das
Massas, enunciado por Lavoisier, diz que "num sistema químico isolado, a
soma das massas dos reagentes é igual à soma das massas dos compostos". Com
a sua Teoria da Relatividade, Albert Einstein disse, bem mais tarde, que
"nesse mesmo sistema químico isolado, a soma das massas dos reagentes
difere para mais ou para menos da soma das massas dos compostos dependendo de
haver ganho ou perda de matéria sob a forma de energia e que a balança capaz de
medir essa variação teria que ter uma sensibilidade de acusar variações de
1/106 gramas", noção que deriva de sua famosa equação e=mc2, ou seja, a
energia liberada pela matéria é igual ao produto da massa pelo quadrado da
velocidade da luz...
Se considerarmos a Teoria do Big Bang (ou da Pulsação Universal), segundo a qual o universo em que vivemos
está em expansão, ou "diástole", podemos pressentir - apenas
pressentir - a imensa variedade de formas de energia que deve existir e das
quais conhecemos apenas uma meia dúzia delas. Gosto muito de citar, como prova
da pré-existência dessa inteligência inicial criadora (mesmo porque a mente
humana não consegue acomodar na lógica e na razão a noção de eternidade, ou
seja, de que algo que exista tenha existido desde sempre e que existirá para
sempre sem fazê-lo dentro de uma noção de espiritualidade e de crença), da
existência de Deus, como se possa querer, o questionamento seguinte:
"Qual o tipo de energia
que faz com que o núcleo de uma meia célula, que teria apenas algumas horas de
vida, ao se juntar com o núcleo de outra meia célula, que também teria uma
existência extremamente fugaz, produz uma célula inteira com um potencial
biológico de tal ordem que é capaz de produzir um indivíduo completo formado de
bilhões de células que formam tecidos altamente especializados e ógãos e
sistemas que permitem que esse novo indivíduo dure quase um século, como no
caso do homem?"
Imaginem que, se um dia
descobrirmos que tipo de energia é essa, quantos mais mistérios e dúvidas tal
descoberta trarão à tona!
Sob o ponto de vista físico,
nada é apenas estático ou o movimento é apenas cinemático, mas tudo é dinâmico,
ou seja a massa (ou energia concentrada) em movimento, em ação. Daí procede a
noção enunciada por Thales de Mileto, e depois corroborada por Lavoisier,
Ostwald e Einstein, cada qual à sua maneira científica de apreciar a mesma
fenomenologia. Essa permanente movimentação e transformação da matéria e da
energia é que garante o devir, o vir a ser, que também é momentâneo,
principalmente se comparados aos números universais.
Considero, como diz o Rocha, o
predicado de ser honesto, primeiro para com a sua própria consciência, e
segundo para com os demais seres vivos e o ambiente, algo essencial para a
nossa vida gregária, em sociedade, e se considerarmos a pequenez de nossa dimensão
no universo, a atitude ateia, eminentemente materialista, alijando da nossa
vida a noção de espiritualidade (não de religião, veja bem) me parece antes de
tudo uma atitude desonesta com relação aos nossos próprios sentimentos, emoções
e capacidade de lucubrar filosoficamente, ou seja, de pensar em busca da
verdade.
Espero que o devenir, ou o
devir, ou o vir a ser, próprio da dinâmica da existência, venha a mostrar ao
senhor Rocha como a existência de Deus é algo tão evidente e como há pessoas
que, mesmo assim, não conseguem perceber tais evidências e são até capazes de
construir sistemas religiosos de tal forma capciosos que justificam o
extermínio de quem não pensa da mesma forma, em nome e pela "glória"
de Deus...
Num deus assim, criado pelo
homem como justificativa moral de dominação e hegemonia, eu também não
acredito!
Título e Texto: Francisco Vianna, 26-08-2014
Senhor Vianna,
ResponderExcluirCreio que chamei-lhe às turras, o que me deixa lisonjeado.
Bem, EU, o Rocha sou um ateu diferente, não frequento sociedades ateias que manipulam tanto quanto as religiosas.
Há ateus que confundem o ateísmo com uma religião ou associação contra a existência de um deus.
Eu não discuto a existência de deus, é tão difícil provar-se o sim e o não, e isso leva a celeumas que são de discutíveis razões como o clubismo futebolístico.
Eu não acredito em almas e espíritos.
Se você crê em deus, porque destruímos sua maior criação que é a natureza.
Digamos que nosso planeta seja uma aeronave de voo infinito, voando pelo espaço sideral, com recursos finitos, que teimamos em transformar em seres humanos. Cada ser humano é fruto dos recursos naturais e utiliza eles por cerca de 70 anos.
Ao mesmo tempo que os humanos crescem e se multiplicam, outras espécies desaparecem, poluem-se os oceanos e rios, desmatam-se florestas, e a água desaparece dos grande centros. Nossos rios estão morrendo.
Matando a mãe natureza conflitamos com a célebre frase:
Deus está morto.
Fiz uma tentativa, como disse de iniciativa filosófica de que poucas coisas importam quando somos honestos, e temos altos conceitos morais e éticos.
Sou simplesmente um descrente de almas e espíritos, e como digo aos ateus:
No dia que eu crer em almas e espíritos acreditarei num deus pro-forma.
No momento considero tudo ciências, digamos não muito coerentes, tais como, horoscopia ou numerologia para citar algumas.
bom dia...
Bom texto para reflexão. Levo muito em conta a teoria do evolucionismo darwinista como explicação plausível para os fenômenos biológicos e o dinamismo da vida. É claro que ela não explica a origem da vida em si, mas dispensa um Criador como sendo o causador da origem do universo e dos organismos vivos. Talvez possamos anuir a um 'elan vital' (segundo Henri Bergson) - um impulso vital - que estaria no devir das coisas, impondo sua ação criadora. Tudo estaria em movimento criador, e se a isto pudermos chamar de Deus, Deus estaria inacabado e se fazendo infinitamente, cavalgando no lombo do movimento evolucionista criador. Ao meu ver não podemos antropomorfizar um Deus Criador, segundo as religiões, mas aceitar a Natureza como força viva na qual estamos inseridos. O 'Deus sive Natura' de Espinosa nos traça esta perspectiva metafísica. Era ele ateu? Muitos o tem como ateu, mas, em verdade, ele era teísta, um teísta da Natureza.
ResponderExcluirValdemar Habitzreuter
Eu então vou me considerar com tal Valdemar, se existe um deus para ser adotado e não dispersado é GAIA. Ela não precisa de orações, pastores, papas e santos, ela precisa de ações, de atitudes para preservá-la dos danos humanos.
ResponderExcluirEscrevi ADOTADO, não adorado. Muitos defendem os animais de estimação, eu adoro animais, mas ao contrário do que alguns pensam, alem de uma super população humana, estamos a produzir duas outras, os animais de de estimação e os de criação alimentar.
E nós humanos mais os outros dois produzimos cerca de 20 bilhões de quilos de lixo orgânico por dia, além de USUFRUIR DOS RECURSOS NATURAIS NECESSÁRIOS.
As árvores que controlam a temperatura do planeta são destruídas, e os plânctons, produtores do oxigênio dos oceanos e rios são destruídos pela poluição.
Já há estudos científicos sobre a utilização dos aquíferos, que leva a acomodação das camadas e ao aquecimento das regiões.
Gostei das palavras "teísta da natureza".
natura deus est,