quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Avaliação: Marina Silva no JN em 27-08

Luciano Ayan
Eu já comentei por aqui as entrevistas de Aécio Neves (12-8), Dilma Rousseff (18-08) e Pastor Everaldo (19-08). Agora é a vez de Marina Silva, a entrevistada de hoje, quarta-feira, 27-8.

A entrevista começou com Bonner fazendo perguntas duras a respeito do fatídico acidente de avião que vitimou Eduardo Campos. Como a mídia tem divulgado, a contratação do avião foi irregular e fez uso de laranjas. Marina disse que houve apenas o empréstimo de um serviço, dando a entender que ela não tinha como saber de qualquer irregularidade dos empresários responsáveis pela prestação do serviço. Bonner desde o começo tentava mostrar uma contradição entre o uso de um avião irregular e o discurso da “nova política” (aliás, ele pegou no pé dela em relação a isso o tempo todo). No fim das contas ela jogou tudo nas costas da investigação e foi firme em manter a hipótese de que apenas existiu a contratação de um serviço por empréstimo.

Na última pergunta deste tema Bonner disse: “Não lhe faltou o rigor que a senhora exige dos seus adversários?”. Ou seja, desde o começo o frame a ser associado à Marina seria “vazia”  (em termo de discurso) e “anti-ética”. Mas após dar sua resposta, onde ela manteve o discurso, Marina concluiu com: “William, eu não uso de dois pesos e duas medidas”. Os frames de Bonner foram neutralizados.
J
á eram seis minutos quando Patricia Poeta entrou em um tema espinhoso:  a baixa popularidade de Marina em 2010 quando terminou em terceiro no Acre, seu estado de origem. Marina deu vários argumentos, como “Há um provérbio que diz: ‘é muito difícil ser profeta em sua própria terra’, pois temos que confrontar os os interesses.Contrariei muitos interesses no Acre ao lado de Chico Mendes, índios e seringueiros”.

Quando Patricia Poeta insistiu que isso poderia ser uma rejeição dos acreanos a alguém que conheciam, Marina respondeu que ela concorreu com duas máquinas para financiar campanhas (PT e PSDB) enquanto ela própria não tinha nada disso. Com a insistência de Patrícia, Marina disse que provavelmente a entrevistadora não a conhecia direito. A candidata concluiu dizendo que não era filha de político tradicional nem de algum empresário, e que era comum que no estado dela somente pessoas com esses requisitos se elegessem. Marina também lembrou que não tinha jornal e TV para apoiá-la, ao contrário dos oponentes.

Patrícia tentou uma cartada: “É culpa dos acreanos então?”. Marina disse: “Não é culpa dos acreanos, é culpa das circunstâncias”.  Em sequência disse: “Cheguei a ficar quatro anos sem andar no meu estado. Eu não podia trocar o futuro das futuras gerações pelas próximas eleições. Preferi pagar o preço de perder os votos”.

Quer dizer, Patrícia tentou impor à Marina o frame “mal avaliada pelos seus”. Marina neutralizou o frame e ainda se vendeu como  “vítima das circunstâncias, contra os poderosos”. No Brasil, este frame cala ao coração do povo, com certeza. E ainda de lambuja ela mostrou-se desinteressada em lutar por votos momentâneos quando existem objetivos maiores. Em suma, até quando se defendeu, Marina conseguiu “se vender” bem.

Bonner voltou à tentativa de questionar a “nova política” de Marina, dizendo que o vice Beto Albuquerque discorda dela em relação às pesquisas com células tronco e os transgênicos. Em relação a isso, Marina não apenas se defendeu como reforçou o frame da nova política.

Veja o que ela disse: “Nós somos diferentes, mas a nova política sabe trabalhar na diversidade. Há uma lenda de que eu sou contra os transgênicos, mas eu defendia a coexistência: áreas com transgênicos e áreas livres de transgênicos. Infelizmente, no Congresso, não passou a proposta de coexistência e o Beto votou na que avançou”. Ao final ela apontou convergências entre os dois, para passar a mensagens de que a associação dela com Beto só envolve pequenas divergências de ideias, e não alianças com inimigos.

Eu sei que muitos eleitores de Aécio ou Pastor Everaldo não vão gostar de minha avaliação, mas assim como fiz com as outras entrevistas, estou usando o mesmo critério: o da análise de frames.

Marina foi muito mais consistente do que no debate de ontem (e na minha avaliação ela havia sido a segunda melhor, praticamente em empate técnico com Aécio) e a melhor das entrevistadas, pois nenhum dos frames negativos que tentaram impingir a ela ficaram grudados em sua testa. Ao contrário, todos foram neutralizados e até em sua defesa ela anexou a si própria novos frames positivos, como “oprimida lutando contra poderosos”.

Uma outra medida do desempenho de Marina pode ser obtida a partir da navegação pela BLOSTA. Ninguém está comemorando ou tripudiando em cima dela, como fizeram após a entrevista de Aécio em 12/8. Estão calados. Silenciosos. Por que sabem que a Marina foi a melhor das entrevistadas pelo JN. Disparado.

Eu não quero entrar no mérito de se as respostas delas são corretas ou não. Este não era o objetivo destas análises. Eu próprio não gosto de vitimismo, e ela usou esse recurso. Mas o fato é que ela usou os frames que funcionaram. E se o objetivo é ganhar a eleição, esse é o caminho.
Dilma e Aécio, podem ficar ainda mais preocupados.
Título, Imagem e Texto: Luciano Ayan, Ceticismo Político, 28-08-2014

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