1. Na política se usa indistintamente duas expressões como se
quisessem dizer a mesma coisa: sedimentação e decantação. Por exemplo: uma
pesquisa aponta certos resultados e os comentários afirmam tanto que “isso vai
decantar”, como que “isso vai sedimentar”, indistintamente.
2. Na verdade, são dois movimentos contrários. A sedimentação é
como se algo fosse para a base de um espaço e ali cristalizasse, ou seja, se
solidificasse por muito tempo. Nenhum movimento de ar ou água afetará esse
corpo sedimentado. A decantação é como se algo flutuasse e fosse para cima da
linha da água, ou flutuasse e fosse carregado pelo vento como uma pluma.
3. Inequivocamente, a morte de Eduardo Campos – candidato a
presidente – produziu um forte impacto na opinião pública brasileira, seja pelo
inesperado, seja pela brutalidade, seja por sua juventude, seja por sua
família. Sua vice-presidente, Marina Silva, assumiu a candidatura a presidente.
4. Já tendo sido candidata a presidente com votação expressiva e
presença com destaque nas pesquisas de opinião antes de se saber que não
poderia registrar o seu partido, era natural e esperado que seu nome incluído
em novas pesquisas retornasse ao patamar da eleição e das pesquisas anteriores.
Digamos: 20% das intenções de voto, como mostrou o Datafolha.
5. Mas sobre esse patamar, produto de sua vida pública, seria
agregado o impacto da morte de seu companheiro de chapa. A pesquisa do
Datafolha realizada logo após a tragédia não captou o impacto, pois foi fechada
na sexta-feira, antes dos funerais e das imagens e coberturas relativas. As
novas pesquisas do Ibope e do Datafolha, desta semana, captarão esse impacto.
Certamente aos números anteriores de Marina serão adicionados novos números,
produto do impacto e da emoção. Ela poderá subir 5 a 10 pontos, vindo para o
entorno dos 30% ou dos 25%.
6. Sábado, 23 de agosto, Marina entrou no programa de TV de corpo
inteiro. A partir daí iniciam-se os fluxos de formação de opinião pública.
Estima-se que em 15 dias saberemos a direção desse processo. Esses 30% ou 25%
serão corpos em flutuação. A partir do dia 8 de setembro, quando as pesquisas forem
a campo, saberemos que rumo tomou a flutuação da opinião pública, em relação ao
agregado adicional. Se sedimentar, teremos um quadro novo com Marina fortemente
competitiva.
7. Se decantar, o rio ou o vento leva. Se decantar, teremos Marina
garantindo o segundo turno, mas sem criar novidades no quadro eleitoral, além
das de 2010. E terá sido um processo passageiro sem sedimentação de opinião
pública. Este Ex-Blog analisará as pesquisas do Ibope e do Datafolha desta
semana, procurando entender os primeiros sinais de flutuação, de forma a que
possa antecipar essas tendências.
8. Os assessores açodados – de um lado e de outro – podem
desorientar as candidaturas a presidente, seja pelo otimismo, seja pelo
pessimismo.
Título e Texto: Cesar Maia, 25-08-2014
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