terça-feira, 26 de agosto de 2014

Técnica de eleição em dois turnos

Cesar Maia
           
1. A ballotage, ou eleição em dois turnos, tem sido analisada pelos pesquisadores acadêmicos europeus. É mais comum nos países com sistema pluripartidário, presidencial e com esta previsão. As análises procuram entender o melhor caminho para a vitória no segundo turno, em função da forma de participação na dinâmica do primeiro turno.
            
2. Para raciocinar, suponhamos uma eleição com quatro candidatos relevantes, ou seja, com força para influenciar no segundo turno. Mais que a posição formal de um dos candidatos derrotados no primeiro turno, o estudo aponta para o comportamento de seus eleitores no segundo turno.
           
3. De que forma, o candidato C deve se comportar em relação aos candidatos A, B, e D no primeiro turno. Em primeiro lugar, há que se avaliar se há um favorito inevitável para o segundo turno. Se há, se deve polarizar com este já no primeiro turno e tratar com elogios os demais para atrair os votos dos eleitores desses no segundo turno. Esse comportamento implica em um risco, mas é o que aumenta em muito a probabilidade de vitória no segundo turno. Exemplo: Rio, eleição para prefeito em 2000.
           
4. Se não há um favorito, há que se escolher entre os demais aquele mais difícil de derrotar no segundo turno por maior capacidade de agregação e apontar para este as críticas e aliviar os demais com reconhecimentos e elogios, de forma a atrair os seus eleitores no segundo turno.
           
5. Exemplo de ballotage mal preparada. Na medida em que SP teria claramente uma eleição com segundo turno, Serra deveria ter apontado suas baterias para Haddad e deixado Russomanno fazer solto sua eleição, dedicando a ele até elogios e compreensão. Estava claro que Russomanno seria um candidato mais fácil de derrotar no segundo turno que Haddad. Mas Serra apontou para Russomanno e abriu caminho para Haddad e para a derrota no segundo turno.
       
6. Exemplos de ballotages bem preparadas. a) Haddad aplicou a mesma tática, mas sabia que seria mais fácil derrotar Serra no segundo turno. b) Fruet em Curitiba. Apontou para Ducci e deixou Ratinho Jr escapar em primeiro. Ambos se tornaram imediatamente favoritos no segundo turno. 

7. Agora, em 2014, no Brasil, em nível presidencial, com três candidatos competitivos, é difícil definir a tática a ser adotada. Se Aécio e Dilma apontarem um para o outro supondo a hipótese que Marina irá para o segundo turno, será o caminho da vitória de Marina por agregação automática do apoio de quem não passou para o segundo turno.

8. Mas se o caminho for deslocar Marina do segundo turno, a equação é mais complexa. Quem a escolherá como adversária no primeiro turno e abrir as críticas? E se o fizerem e Marina for para o segundo turno com quem a criticou, será difícil a vencer no segundo turno. Uma disjuntiva extremamente complexa pelas circunstâncias da eleição de 2014 após o falecimento de Eduardo Campos e com a competitividade dos três.         

9. Enquanto Dilma mantiver pesquisas que lhe deem preferência para ir ao segundo turno, ela esquecerá Marina. A solução para Aécio será ir forte na crítica a Dilma e esquecer Marina.
Título e Texto: Cesar Maia, 26-08-2014           

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