sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Brasil em recessão: o país à espera de Godot. Será que ele usa xale e colares indígenas?

Reinaldo Azevedo
O Brasil está em recessão técnica. Segundo o IBGE — que não é o PSDB, que não é Aécio Neves, viu, presidente Dilma? —, o PIB do segundo trimestre encolheu 0,6%. Como o Produto Interno Bruto revisado do primeiro trimestre havia caído 0,2%, então se tem esta chancela: recessão técnica. Por que esse nome? Porque, neste exato momento, o país já pode ter saído da recessão e voltado a crescer, mas o encolhimento da economia foi óbvio. Ainda que esteja aí a retomada da expansão, ela recomeça de um patamar, evidentemente, mesquinho.

E o que diz Guido Mantega, ministro da Fazenda? Segundo ele, trata-se de mero efeito estatístico, como se os números não estivessem assentados em dados da economia real. Parece piada! Nesta quinta, ele saiu atirando contra Armínio Fraga, que será ministro da Fazenda de Aécio caso o tucano seja eleito presidente. Mantega o desqualificou de modo bronco, afirmando que, sob o comando de Armínio, a economia poderia entrar em… recessão! Parece piada, não? Ele e Dilma, afinal, produziram o quê? Ocorre que, junto com a retração da economia, temos a paralisação dos investimentos, o descontrole dos gastos, inflação alta e juros estratosféricos.

O país está parado. Como na extraordinária peça de Samuel Beckett — e aqui vai o meu abraço saudoso para o meu querido amigo Gerald Thomas, seu grande intérprete —, estamos “esperando Godot”. Ou, então, como no maravilhoso poema do grego Constantino Kaváfis, somos os romanos do fim do império, à espera dos bárbaros. Boa parte do país está na expectativa de este governo passe logo: com sua incompetência, com sua truculência, com sua inexperiência.

Inexperiência? É disso que se trata. Mantega e Dilma atribuem as dificuldades econômicas e a paralisia do Brasil ao cenário internacional. Mas, por acaso, esse cenário é diferente para os demais países da América Latina? Quem enfrenta severas dificuldades hoje na região? Curiosamente, Venezuela, Argentina e Brasil: uma ditadura, um regime aloprado e nós. A culpa não está nos outros. Está aqui dentro mesmo.

O país paga o preço de o governo de turno ter fechado os olhos e os ouvidos aos muitos chamados da realidade. A recessão técnica em que entrou a economia, o crescimento ridículo deste ano e a expansão mixuruca prevista para o ano que vem decorrem da inexperiência de Dilma Rousseff.

Na peça de Beckett, Godot é uma resposta que viria para tirar as pessoas da paralisia, de sua vida mesquinha. Só que ele não vem. Não dá as caras. Não se sabe quem ou o que é Godot. Somos mais carnavalizados e esperançosos do que o gigantesco Beckett. Por aqui, há quem ache que Godot — a grande saída — costuma usar xales nos ombros e exibir colares com sotaque indígena, além de ser hábil na glossolalia da natureza.

Será mesmo?

É a inexperiência de Dilma que conduziu o país à recessão. O Brasil tem de se perguntar: quem virá em seu lugar? O nosso Godot pode se dar ao luxo de nem mesmo saber fazer contas?
Título e Texto: Reinaldo Azevedo, 29-08-2014


Economia brasileira entra em recessão técnica


A economia brasileira registrou contração de 0,6% no segundo trimestre de 2014 na comparação com os três meses anteriores, informou nesta sexta-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado do primeiro trimestre foi revisado para queda de 0,2%, o que significa que o país entrou em recessão técnica, quando há dois resultados trimestrais seguidos negativos. Antes, os dados indicavam que o Produto Interno Bruto (PIB) tinha crescido 0,2% no primeiro trimestre, em relação ao quarto período do ano passado.

O Brasil não entrava em recessão técnica desde a crise financeira global de 2008/2009. Os dados divulgados nesta manhã pelo IBGE reforçam o pior momento econômico vivido pelo Brasil dentro da gestão da presidente Dilma Rousseff (PT), que tenta a reeleição nas eleições de outubro. A recessão já era esperada pelo mercado, dado o cenário ruim que o país se encontra, com baixa confiança da indústria, do comércio, do setor de serviços e do consumidor, fraca geração de emprego e investimentos retraídos.

O que é recessão técnica?
Os economistas consideram que um país entrou em recessão técnica quando a soma de tudo o que é produzido (PIB) em seu território registra dois trimestres seguidos de queda na comparação com o período anterior.

Em comparação ao segundo trimestre de 2013, o PIB caiu 0,9%, de acordo com o IBGE, e o crescimento acumulado no ano foi de 0,5% em relação ao mesmo período do ano passado.

O PIB é analisado pelos economistas sob duas óticas distintas: a da oferta, representada pelo setor produtivo (agropecuária, indústria e serviços) e a dos gastos, representada por investimentos, consumo das famílias, gastos do governo e balança comercial (exportações menos importações).

No olhar da oferta, o principal impacto negativo no resultado do trimestre passado foi da indústria. A atividade do setor recuou 1,5% no segundo trimestre em relação ao primeiro e caiu 3,4% ante o mesmo período de 2013.

Considerando a soma de todas as riquezas produzidas pela economia do país entre abril e junho, de 1,27 trilhão de reais, o setor de serviços respondeu por 750,1 bilhões de reais (59%), seguido por indústria (255 bilhões; 20%) e agropecuária (82,5 bilhões; 6,5%), segundo o IBGE.

No caso do setor de serviços, o mais importante para o PIB, houve um recuou 0,5% na comparação com o primeiro trimestre e um crescimento bem tímido, de apenas 0,2%, em relação ao período de abril a junho de 2013. Já o PIB da agropecuária até chegou a crescer 0,2% ante o trimestre anterior, mas não foi suficiente para conter o resultado negativo. Um dos fatores que pesaram na economia no segundo trimestre foi a realização da Copa do Mundo, devido ao menor número de dias úteis em razão de feriados. ()

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