Marina Silva acaba de conceder
a sua entrevista ao Jornal Nacional. Quem presta atenção ao sentido das
palavras percebeu o tamanho do desastre. Os entrevistadores quiseram saber o
óbvio: como se justifica o discurso da “nova política” quando a rede de
empresas fantasmas e laranjas que envolve o avião em que viajavam Eduardo
Campos e ela própria é a evidência escancarada da velha política? A candidata,
é claro, não conseguiu achar uma resposta porque resposta não há.
Em nenhum momento, revejam a
entrevista depois no site do Jornal Nacional, ela admitiu que crimes óbvios
foram cometidos. Mais do que isso: tentou desqualificar, ainda que com aquele
seu jeitinho simples, de apelo telúrico, o trabalho da imprensa. Segundo disse,
a verdade não virá das reportagens, mas da investigação da Polícia Federal.
Como assim? Imprensa, de fato, não é a última instância na apuração de crimes.
Nesse caso, no entanto, ela já chegou mais longe do que a polícia. As empresas
fantasmas e seus laranjas vieram à luz. Como explicar? Pior ainda: com um
discurso oblíquo, Marina sugeriu que a apuração da verdade pode ser um
desrespeito à memória de Eduardo Campos.
Até aí, Marina estava na fase
da enrolação, mas ainda não havia atingido o patético. William Bonner lembrou
que ela e seu vice, Beto Albuquerque, divergiram sobre algumas questões
essenciais, como as culturas transgênicas e a pesquisa com células tronco
embrionárias. Como posições inconciliáveis se juntam numa chapa? Isso é “nova
política”? Marina, então, se saiu com a cascata de que o jornalista se fixava
apenas nas divergências, não nas convergências… É mesmo?
A contradição óbvia estava no
ar. Então, quando os adversários da candidata fazem composições entre
divergentes, estamos diante da evidência da “velha política”; quando é ela
própria a fazê-lo, aí se tem a prova da “nova política”? O que Marina respondeu?
Que os jornalistas estavam equivocados. Por que estavam? Ela não disse. Nem
tinha o que dizer.
Patrícia Poeta lembrou que, em
2010, Marina ficou em terceiro lugar na eleição em seu Estado, o Acre, que a
conhece bem. Mais uma vez, a candidata tentou acusar a ignorância dos
jornalistas: “Talvez você não conheça direito a minha trajetória…” Ora, quem
não sabe? A agora candidata do PSB saiu-se com uma frase feita: “Ninguém é
profeta em sua própria terra…” Ah, entendi: ela é profeta no resto do Brasil,
menos no Acre. Listou os interesses que teve de contrariar e coisa e tal.
Chegou a sugerir que enfrentou a máquina do governo do Acre. Aí estamos no
terreno da piada. Ela participa, por meio de aliados, do governo do Estado
desde 1999. É parceira dos Irmãos Viana. Seu marido era secretário de estado
até à semana passada.
Na mensagem final, Marina
pediu votos e disse que não é do tipo de política que faz a luta do poder pelo
poder… Certo! Isso é para os outros. A entrevista terminou, e ficou claro que a
tal “nova política” só é explicável com o auxílio da velha enrolação.
Transgênicos
Quem não conhece o assunto não se deu conta do tamanho de uma das besteiras que disse. Afirmou que nunca foi contra os transgênicos (o que é falso, mas vá lá), mas que defendia que houvesse áreas livres dessa modalidade de cultura, numa coexistência entre os dois modelos. Felizmente, perdeu a batalha.
Quem não conhece o assunto não se deu conta do tamanho de uma das besteiras que disse. Afirmou que nunca foi contra os transgênicos (o que é falso, mas vá lá), mas que defendia que houvesse áreas livres dessa modalidade de cultura, numa coexistência entre os dois modelos. Felizmente, perdeu a batalha.
Qual é o objetivo dos
transgênicos? Aumentar a produção com sementes que já são imunes a determinadas
pragas. Ora, imaginem o que aconteceria se, em certas áreas, os transgênicos
fossem proibidos e, em outras, permitidos. O resultado óbvio: as terras
sujeitas a veto teriam de receber doses cavalares de agrotóxico. Mais: ainda
que a proibição atingisse apenas uma parte das terras férteis, é claro que o
Brasil não exibiria o robusto desempenho que exibe na agricultura.
Mas eis Marina. Ela se tornou
especialista em assuntos sobre os quais ninguém – nem ela própria – entende
nada.
Em tempos normais, a
entrevista poderia ser devastadora pra ela. Nestes dias… Estamos voando no
escuro. A gente sabe em que isso costuma resultar.
Texto publicado
originalmente às 21h47 desta quarta
Título e Texto: Reinaldo Azevedo, 28-08-2014
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