Há leitores que recebem as
opiniões alheias com uma ferocidade particular, dispostos a tresler o que foi
escrito e sem qualquer tolerância para a simples tarefa de ler com atenção. Se
o autor não é vedeta da TV ou poeta fofinho, a assinatura é provavelmente
irritante.
Falando do meu caso, o que
escrevo não é dirigido a leitores incapazes ou que partem para a leitura com
preconceitos inabaláveis. Li um texto muito inteligente de uma autora que escreve no Jornal de Negócios,
Eva Gaspar, e ela falava deste maldizer pouco informado que tomou conta do
espaço mediático e que se espalha nas redes sociais como uma infestação de
cogumelos tóxicos. (Texto abaixo).

Não faltam razões para a maledicência superficial e cruel, mas julgo que um dos motivos da crispação é razoavelmente racional: foi criado um clima pessimista e negativo, as notícias trazem sistematicamente o lado mau da sociedade e visam sempre a vertente escandalosa dos supostos factos. Algumas pessoas acreditam ingenuamente que, sendo o mundo assim, a liberdade de expressão deve funcionar como valor absoluto, incluindo apenas a irresponsabilidade e o vazio.
Título e Texto: Luís Naves, Fragmentário,
20-08-2014
Bem-digo
Eva Gaspar
Muito se maldiz. Dá gozo, rende aplausos, não compromete e, acima de
tudo, é muito fácil maldizer. Mais ainda quando feito em matilha - todos a ladrar
e a morder sem correr riscos demasiados.
Para não destoar, vou maldizer
– os maldizentes. O que me move é ajudar a esclarecer. E começo por esclarecer
que nunca estive com ela. Nunca sequer respirei o mesmo ar que ela. Conheço-a
basicamente a partir do que me mostram os seis écrans de tv que rodeiam o ponto
em que me sento neste momento (lá em casa, tv é quase só para mostrar futebol).
Há uma mentira que se lhe cola
há mais de um ano por causa dos contratos swap.
Diz-se que mentiu porque disse
que tinha "começado do zero" quando, afinal, o anterior Governo já
tinha reunido e entregue ao actual alguma informação sobre o assunto.
Bem sei que, nestes tempos de
redes sociais, o que está a dar é ter opiniões rápidas e impiedosas. Não
consegui ter opiniões rápidas (embora não tão lentas que demorassem um ano a
formar) nem tirar conclusões definitivas pelo que ouvi e li (ainda na semana passada,
o Expresso escrevia que as suas contradições levaram à instauração de uma
comissão de inquérito pela Assembleia da República). Na dúvida, acabei a ler as
longas actas da comissão parlamentar de inquérito que, de facto, existiu: a
Comissão Eventual de Inquérito à celebração de contratos de gestão de risco
financeiro por empresas do sector público. E, na longínqua página 76, o que
está lá é isto:
"O Sr. Paulo Sá (PCP): -
A Sr.a Secretária de Estado quase que disse que teve de começar o trabalho do
nada, que não vinha do anterior Governo nenhum trabalho feito nesta área. É
isto que quer dizer?
A Sr.a Secretária de Estado do
Tesouro: - Sr. Presidente, Sr. Deputado, de facto, relativamente a esta matéria
e para lidar com o problema, não havia nenhum trabalho feito e ele começou do
zero, sim. Confirmo isso. Tirando o reporte da informação, que tinha já sido
estabelecido na vigência do Governo anterior, tirando o reporte da informação
nos relatórios da DGTF, de facto, nada mais estava feito."
Omitir parte do que é dito
para, com a restante, alimentar acusações de mentira pode ser má-fé, preguiça,
distração, vai-na-onda, ou tudo junto. Bom serviço público, é que não é.
Sobra o sentido de Estado de
Maria Luís Albuquerque.
Bem-digo, portanto.
Texto: Eva Gaspar, Jornal de Negócios, 20-09-2014
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