Reinaldo Azevedo
Vai prosperar? Não sei!
Considerando a simpatia meio bovina com que já conta na imprensa, é até
possível que o petismo — disfarçado de OAB, de CNBB e de um tal MCCE (Movimento
Contra a Corrupção Eleitoral) — consiga levar adiante a sua impressionante
pauta da reforma política. Trata-se de uma estrovenga que, se aprovada,
avançará nos cofres públicos, aumentará brutalmente o dinheiro clandestino nas
campanhas e entregará o país, definitivamente, a burocracias partidárias —
ainda que fantasiadas de “movimentos sociais”.
Essas entidades que cito
formaram uma tal “Coalizão para a Reforma Política”, sob a inspiração do PT,
sim, senhores! Segundo pretensão noticiada pela Folha, os valentes acham que
podem criar um “movimento como as Diretas-Já” e intimidar o Congresso. A turma
quer se apresentar como voz da sociedade civil — curiosamente, essa “sociedade
civil” tem a mesma pauta de Dilma, que é a pauta do… PT. Eu sinto uma vergonha
alheia da OAB!…
Querem ver que mimo? Se for
para fazer uma reforma política pra valer, é evidente que o mais avançado “no
que se refere” (como diria aquela senhora…) à participação do eleitor seria o
voto distrital: um grupo “x” de eleitores, pertencentes a um território
delimitado (o distrito), faria a sua escolha entre as opções oferecidas pelos
vários partidos. Assim, os moradores de determinada região saberiam que o
deputado Fulano de Tal é o seu representante. Para ser mais preciso: São Paulo
tem 70 deputados na Câmara. O Estado seria dividido em 70 distritos e cada um
teria o seu eleito.
Em vez disso, o PT e a tal
Coalizão comparecem ao debate com uma esdrúxula forma de eleição da Câmara em
dois turnos: no primeiro, os eleitores votariam no partido — e assim se
definiria quantas vagas cada legenda teria. Num segundo turno, votariam num
nome segundo uma lista partidária. É o caminho para levar para o Congresso
burocratas de sindicatos, de movimentos sociais e de ONGs que não seriam
eleitos nem síndicos de seu edifício.
Como é preciso embalar uma
estupidez com o embrulho da demagogia fácil, a turma quer que a lista de
candidatos do partido tenha o mesmo número de homens e mulheres. Trata-se de
uma forma de forçar uma presença feminina maior no Congresso pela via da
burocracia.
Os valorosos amigos do povo
também querem proibir a doação de empresas a campanhas. Essa história nasce da
mentira de que escândalos como o petrolão têm origem no financiamento de
campanha. É mentira! Safadezas como aquela nascem da prerrogativa que tem o
Executivo de nomear quem lhe der na telha. Aquilo é roubo, não é política. De
toda sorte, se a lei vetar doações de empresas, elas continuarão a ser feitas
por baixo dos panos. Aí, sim, de maneira inequívoca, o processo político
brasileiro vai para a clandestinidade.
Os petistas disfarçados querem
que as doações privadas se restrinjam a pessoas físicas. Essa modalidade
constituiria, no máximo, 40% dos gastos; o resto viria do Tesouro. Atenção: as
eleições deste ano custaram algo em torno de R$ 100 bilhões. O Tesouro tem esse
dinheiro sobrando? Quer dizer que, quando a lei proibir doações de empresas, as
empreiteiras e os bancos ficarão fora do processo eleitoral? É uma piada!
Mais: o dinheiro público seria
distribuído segundo qual critério? Evidentemente, terá de levar em conta a
densidade eleitoral dos partidos, não é? O modelo privilegia as grandes legendas
e ferra as menores. Quando o PT era minoria na Câmara, jamais aceitaria esse
modelo. Agora que é maioria, pretende implantá-lo.
Mais: os petistas têm hoje sob
seu controle uma vastíssima rede de sindicatos que faz campanha ilegal para o
partido. Ilegal porque a Lei 9.504 proíbe entidades sindicais de fazer doação
em dinheiro ou estimável em dinheiro. Quando a CUT mobiliza a sua tropa em
favor do PT, incluindo a infraestrutura que serve à central, aquilo é ou não
estimável em dinheiro? A Justiça Eleitoral é incompetente até para tolher esses
óbvios abusos. Imaginem se teria condições de coibir as doações de empresas
privadas, que passariam, então, a ser totalmente ilegais.
Como essa gente faz entre si
competição de bobagem, uma das propostas prevê que se dê mais dinheiro ao
partido que apresentar candidatos indígenas. Já posso ver os dirigentes de
legendas estacionando seus carros no acostamento da Rio-Santos, em São Paulo,
em busca de “companheiros silvícolas”. Por que não incluir os gays, os míopes,
os muito magros, os muito gordos, os amarelos, os superdotados, os subdotados?…
Parece piada, mas é verdade.
No fim das contas, essa besteirada
toda surge de uma falácia criada pelo petismo — endossada, na prática, por OAB,
CNBB etc. — segundo a qual os companheiros só são notavelmente corruptos por
culpa do… sistema! Uma ova!
A próxima tarefa das pessoas
empenhadas em defender a democracia, acreditem!, é lutar contra a proposta de
reforma do PT, que vem disfarçada com as batinas da CNBB, os terninhos mal
cortados da OAB Nacional e o ongueirismo que não ousa dizer seu nome.
Eles querem é começar a dar o
golpe das urnas.
Título e Texto: Reinaldo Azevedo, 01-11-2014
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