quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Macroscópio – Um homem solo





Uma fotografia. A deste Macroscópio. Uma só palavra: “Solo”. Era assim que ontem, a toda a largura da sua homepage, o Huffington Post sintetizava a noite eleitoral dos “midterms”. A vitória republicana foi maior do que se esperava: reforço da maioria na Câmara dos Representantes, conquista da maioria no Senado, importantes avanços nos governos dos Estados. Barak Obama, o Presidente mais impopular, o orador que ninguém, no seu partido, quis a fazer-lhe companhia durante a campanha eleitoral, era realmente um homem só.
 
Seis anos depois de muitos terem julgado que, com a chegada de Obama à Casa Branca, tudo iria mudar, a realidade revelou-se bem diferente. Comecemos por tentar compreender o que se passou nestas eleições intercalares.
 
Para o Wall Street Journal, estivemos perante um julgamento dos anos Obama: For Obama, a Harsh Referendum. E recordou uma sondagem: “In a Wall Street Journal/NBC News poll released this week, 67% of registered voters said they want to see Mr. Obama change the direction he is leading the country “a great deal” or “quite a bit,” while just 42% approved of the job he is doing. The president now finds himself seeking to rebound with a public that, however they voted Tuesday, is deeply dissatisfied with his leadership.
 
A leitura do New York Times não foi muito diferente. Numa notícia intitulada Republican Gains Grow as New Election Results Come In, escrevia que “the full magnitude of the Republican Party’s success in reshaping the national political landscape at President Obama’s expense became clearer Wednesday morning as the party seemed headed toward an even longer list of electoral victories in Senate and governor races that had been too close to call before dawn.” Mais adiante tirava algumas ilações sobre as consequências desta onda republicana: “The results are an immediate blow to the administration’s hopes to further broaden the president’s health care law by expanding Medicaid in additional states. Some of those states will now be controlled by Republican governors who are unlikely to agree to an expansion of the health care law.”
 
Passando para o Washington, destaco um artigo onde se procura analisar a forma como os republicanos arquitectaram a sua vitória: “Battle for the Senate: How the GOP did it”. É uma daquelas reportagens realizadas por dentro das máquinas partidárias que revela alguns dos segredos da campanha. Por exemplo, eis como detetaram e planearam tirar proveito de uma gaffe de um candidato democrata:
Republican research efforts weren’t just paying off against their own. On a Monday morning in March, a new video arrived at America Rising’s war room. It showed Rep. Bruce Braley, the Democratic Senate candidate in Iowa, speaking at a Texas fundraiser next to a cart of whiskey. Braley disparaged Sen. Charles E. Grassley (R-Iowa), a popular figure in line to chair the Senate Judiciary Committee, for being “a farmer from Iowa who never went to law school.” Watching the video, Rhoades thought, “That’s pretty bad, man.” Tim Miller sent the footage to Dave Price, the political reporter and anchor at WHO-TV in Des Moines. A scoop was born. “Iowa was not on people’s radar at all,” Rhoades said. “But after that, it was ‘Braley this,’ ‘Braley that.’ ”
Bruce Braley acabou por perder a eleição – e um lugar no Senado que era dos democratas passou a ser dos republicanos.
 
Continuando no Washington Post, destaque para esta análise: A Republican wave election, to be sure. É um texto onde, depois de descrever a dimensão da vitória republicana, se faz uma recomendação: “On a state and federal level, the GOP has the chance to prove it can govern and solve problems. It should avoid chest-beating and get down to work so as to lay the foundation for a new Republican Party, one more diverse and constructive, and to set the stage for 2016.
 
Referência agora para dois editoriais. No New York Times titula-se Negativity Wins in 2014 e argumenta-se que isso sucedeu porque “every Republican candidate campaigned on only one thing: what they called the failure of President Obama”.

No Wall Street Journal as palavras são, sobretudo, dirigidas a Obama: A Shellacking for Obama. A forma como começa esse editorial é bastante cruel:
On the night of his 2012 re-election triumph, following his victory speech, President Obama walked off the stage and made separate phone calls to Nancy Pelosi and House Democratic campaign chairman Steve Israel . He told them he would spend the next two years helping Democrats retake the House in 2014, and he pledged to raise $50 million and devote his 2012 campaign manager Jim Messina to the task. Two years later we know how that turned out.
 
Deixem-me interromper esta ronda pela imprensa americana para vos referir uma das primeiras análises a surgir na imprensa portuguesa – aqui no Observador, como não podia deixar de ser. Rui Ramos começou por notar, em Depois de Obama vem o quê?, a desilusão com o Presidente: “Ao fim de seis anos, nada é como previsto. Nunca se falou tanto das fracturas raciais na América, nunca a polarização política foi tão forte, e nunca, desde 1989, a primazia americana no mundo foi tão contestada.” Para concluir: “A ascensão e queda de Obama é um aviso de que carisma e inteligência, mesmo à frente da maior potência, não bastam para dar ao planeta a sensação de controle e direcção. O mundo está a mudar tanto, que uma eleição já não muda o mundo.
 
Olhando para o futuro, algumas publicações norte-americanas foram procurar paralelos ao passado, procurando pistas sobre o que pode acontecer e sobre erros a evitar. O Politico, por exemplo, recordou a última grande vitória republicana, a de 1994, quando Newt Gingrich explorou a impopularidade dos primeiros dois anos de administração Clinton para conquistar o Capitólio: The revolution last time. Eis uma das conclusões deste texto escrito por um estrategista republicano:
The issues facing Boehner and McConnell are at least as complex as those that faced Gingrich and Republican Senate Leader Bob Dole. Spending, immigration, tax reform, and, of course, Obamacare are all looming issues. But they need to impose a sense of reality on their over-eager caucuses: There is no chance, for example, that Obamacare will be repealed. It would never get 60 votes in the Senate and even if it did it is impossible to imagine the President would sign a bill repealing his signature legislative accomplishment. So leave it alone, and move onto other fights.

Outra análise interessante é a publicada por Jonathan Freedland, do Guardian, no New York Times: Europe Looks Beyond Obama. É o texto de alguém a quem o mandato do actual Presidente desiludiu muito:
In other words, it is not just Americans who are delivering their verdict on Mr. Obama. The rest of the world has, with a heavy heart, reached the conclusion that his power is fading. The midterm results will only confirm it.
 
Aqui no Observador preparámos uma análise breve das principais consequências políticas destas eleições - Republicanos conquistam Senado. E agora, Hillary? -, mas para quem quiser mais detalhes num texto muito esquemático mas interessante, recomendo este do Vox: 9 takeaways from the 2014 election. Destaque para um deles - There are a few policies that might be easier to pass after the election.
 
Naturalmente que haveria muito mais a referir, e não posso deixar de recomendar, a quem se interessa por política norte-americana, que passe algum tempo em sites como os do New York Times (com requintes de detalhe quase inimagináveis), Wall Street Journal ou Washington Post a explorar os resultados com um nível de detalhe e de sofisticação gráfica inexcedível. Para quem quiser apenas uma coisa mais divertida – e bem divertida – então passe pelo Mashable e veja, com a ajuda de uma sala do Senado reconstruída em Lego, como mudou e como foi mudando ao longo da noite eleitoral.
 
Por hoje é tudo. Tenham boas leituras.
Título e Texto: José Manuel Fernandes, 5-11-2014

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.

Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.

Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-