Uma fotografia. A deste Macroscópio. Uma só palavra: “Solo”. Era assim que
ontem, a toda a largura da sua homepage, o Huffington Post sintetizava a noite
eleitoral dos “midterms”. A vitória republicana foi maior do que se esperava: reforço da maioria na Câmara dos
Representantes, conquista da maioria no Senado, importantes avanços nos governos
dos Estados. Barak Obama, o Presidente mais impopular, o orador que ninguém, no
seu partido, quis a fazer-lhe companhia durante a campanha eleitoral, era
realmente um homem só.
Seis anos depois de muitos terem julgado que, com
a chegada de Obama à Casa Branca, tudo iria mudar, a realidade revelou-se bem
diferente. Comecemos por tentar compreender o que se passou nestas eleições
intercalares.
Para o Wall Street Journal, estivemos perante um
julgamento dos anos Obama: For Obama, a Harsh Referendum. E recordou uma sondagem: “In a Wall Street
Journal/NBC News poll released this week, 67% of registered voters said they
want to see Mr. Obama change the direction he is leading the country “a great
deal” or “quite a bit,” while just 42% approved of the job he is doing. The
president now finds himself seeking to rebound with a public that, however they
voted Tuesday, is deeply dissatisfied with his leadership.”
A
leitura do New York Times não foi muito diferente. Numa notícia intitulada Republican Gains Grow as New Election Results Come In, escrevia que “the full
magnitude of the Republican Party’s success in reshaping the national political
landscape at President Obama’s expense became clearer Wednesday morning as the
party seemed headed toward an even longer list of electoral victories in Senate
and governor races that had been too close to call before dawn.” Mais
adiante tirava algumas ilações sobre as consequências desta onda republicana:
“The results are an immediate blow to the administration’s hopes to further
broaden the president’s health care law by expanding Medicaid in additional
states. Some of those states will now be controlled by Republican governors who
are unlikely to agree to an expansion of the health care
law.”
Passando para o Washington, destaco um artigo onde se procura
analisar a forma como os republicanos arquitectaram a sua vitória: “Battle for the Senate: How the GOP did it”. É uma daquelas reportagens realizadas
por dentro das máquinas partidárias que revela alguns dos segredos da campanha.
Por exemplo, eis como detetaram e planearam tirar proveito de uma gaffe de um
candidato democrata:
Republican research efforts weren’t just paying off
against their own. On a Monday morning in March, a new video arrived at America
Rising’s war room. It showed Rep. Bruce Braley, the Democratic Senate candidate
in Iowa, speaking at a Texas fundraiser next to a cart of whiskey. Braley
disparaged Sen. Charles E. Grassley (R-Iowa), a popular figure in line to chair
the Senate Judiciary Committee, for being “a farmer from Iowa who never went to
law school.” Watching the video, Rhoades thought, “That’s pretty bad, man.” Tim
Miller sent the footage to Dave Price, the political reporter and anchor at
WHO-TV in Des Moines. A scoop was born. “Iowa was not on people’s radar at all,”
Rhoades said. “But after that, it was ‘Braley this,’ ‘Braley
that.’ ”
Bruce Braley acabou por perder a eleição – e um lugar no Senado
que era dos democratas passou a ser dos republicanos.
Continuando no
Washington Post, destaque para esta análise: A Republican wave election, to be sure. É um texto onde, depois de descrever a
dimensão da vitória republicana, se faz uma recomendação: “On a state and
federal level, the GOP has the chance to prove it can govern and solve problems.
It should avoid chest-beating and get down to work so as to lay the foundation
for a new Republican Party, one more diverse and constructive, and to set the
stage for 2016.”
Referência agora para dois editoriais. No New York
Times titula-se Negativity Wins in 2014 e argumenta-se que isso sucedeu porque “every Republican
candidate campaigned on only one thing: what they called the failure of
President Obama”.
No Wall Street Journal as palavras são, sobretudo,
dirigidas a Obama: A Shellacking for Obama. A forma como começa esse editorial é bastante
cruel:
On the night of his 2012 re-election triumph, following his
victory speech, President Obama walked off the stage and made separate phone
calls to Nancy Pelosi and House Democratic campaign chairman Steve Israel . He
told them he would spend the next two years helping Democrats retake the House
in 2014, and he pledged to raise $50 million and devote his 2012 campaign
manager Jim Messina to the task. Two years later we know how that turned
out.
Deixem-me interromper esta ronda pela imprensa americana para
vos referir uma das primeiras análises a surgir na imprensa portuguesa – aqui no
Observador, como não podia deixar de ser. Rui Ramos começou por notar, em Depois de Obama vem o quê?, a desilusão com o Presidente: “Ao fim de seis anos,
nada é como previsto. Nunca se falou tanto das fracturas raciais na América,
nunca a polarização política foi tão forte, e nunca, desde 1989, a primazia
americana no mundo foi tão contestada.” Para concluir: “A ascensão e
queda de Obama é um aviso de que carisma e inteligência, mesmo à frente da maior
potência, não bastam para dar ao planeta a sensação de controle e direcção. O
mundo está a mudar tanto, que uma eleição já não muda o
mundo.”
Olhando para o futuro, algumas publicações norte-americanas
foram procurar paralelos ao passado, procurando pistas sobre o que pode
acontecer e sobre erros a evitar. O Politico, por exemplo, recordou a última
grande vitória republicana, a de 1994, quando Newt Gingrich explorou a
impopularidade dos primeiros dois anos de administração Clinton para conquistar
o Capitólio: The revolution last time. Eis uma das conclusões deste texto escrito por um
estrategista republicano:
The issues facing Boehner and McConnell are at
least as complex as those that faced Gingrich and Republican Senate Leader Bob
Dole. Spending, immigration, tax reform, and, of course, Obamacare are all
looming issues. But they need to impose a sense of reality on their over-eager
caucuses: There is no chance, for example, that Obamacare will be repealed. It
would never get 60 votes in the Senate and even if it did it is impossible to
imagine the President would sign a bill repealing his signature legislative
accomplishment. So leave it alone, and move onto other fights.
Outra
análise interessante é a publicada por Jonathan Freedland, do Guardian, no New
York Times: Europe Looks Beyond Obama. É o texto de alguém a quem o mandato do actual
Presidente desiludiu muito:
In other words, it is not just Americans who
are delivering their verdict on Mr. Obama. The rest of the world has, with a
heavy heart, reached the conclusion that his power is fading. The midterm
results will only confirm it.
Aqui no Observador preparámos uma
análise breve das principais consequências políticas destas eleições - Republicanos conquistam Senado. E agora, Hillary? -, mas para quem quiser mais detalhes
num texto muito esquemático mas interessante, recomendo este do Vox: 9 takeaways from the 2014 election. Destaque para um deles - There are a
few policies that might be easier to pass after the
election.
Naturalmente que haveria muito mais a referir, e não
posso deixar de recomendar, a quem se interessa por política norte-americana,
que passe algum tempo em sites como os do New York Times (com requintes de detalhe quase inimagináveis), Wall Street Journal ou Washington Post a explorar os resultados com um nível de detalhe e de sofisticação
gráfica inexcedível. Para quem quiser apenas uma coisa mais divertida – e bem
divertida – então passe pelo Mashable e veja, com a ajuda de uma sala do Senado reconstruída em Lego, como mudou e como foi mudando ao longo
da noite eleitoral.
Título e Texto: José Manuel Fernandes, 5-11-2014
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-