José Carlos Sepúlveda da
Fonseca
Está na memória de todos o momento em que o
País passou a acompanhar o escrutínio do segundo turno da disputa eleitoral
para Presidente. A estranheza se estabeleceu em inúmeros espíritos. A apuração
decorrera em absoluto sigilo até que estivessem computados quase 90% dos votos.
O que para muitos parecia impossível, confirmava-se: Dilma Rousseff seria
reeleita.
O choque veio somar-se a uma campanha eleitoral
muito disputada, com reviravoltas impressionantes, lances trágicos, com uma
violência verbal desmedida e uma avalanche de mentiras e de ameaças inaudita.
Vitória
de Pirro
A vitória de Dilma foi por bem pequena margem.
Muitos a classificaram como vitória de Pirro.
Tive oportunidade de fazer palestras em
que analisei, com dados, os resultados das eleições. Nelas demonstrei que:
— o PT não representa metade do País, mas é um
partido minoritário que, com conchavos e alianças e uma base aliada
titubeante, conseguiu mais um mandato presidencial;
— o PT, além de minoritário, é uma força
declinante, o que se revelou na sua grande perda de parlamentares em todos
os níveis;
— não há um País dividido ao meio, mas uma
minoria grande (38% do total de eleitores) que elegeu a presidente, por muitas
razões sem conteúdo ideológico;
— a densidade ideológica revelada pelos
eleitores que votaram no candidato da oposição era muito mais acentuada;
— a principal força política que emergiu das
urnas foi o antipetismo, que não concorreu oficialmente às eleições numa
agremiação política.
Fruto
envenenado
Por isso tive também oportunidade de acentuar
que a vitória de Dilma além de ser uma vitória de Pirro, era um fruto
envenenado e que logo se voltaria contra a vitoriosa (Dilma), contra seu
partido (PT) e contra seu mentor (Lula).
Passou-se pouco mais de um mês da posse de Dilma e
o desastre político se configura no horizonte, com o antipetismo se alastrando
pela sociedade. O estelionato eleitoral praticado pelos marqueteiros do PT
ficou patente. Dilma enganou e mentiu nos números da economia, acusou os outros
de quererem tomar as medidas que ela está tomando agora, convidou para um
diálogo que não ocorreu, tentou inverter os escândalos da máquina de corrupção
petista.
É fácil, com doses cavalares de propaganda enganosa
(coadjuvados pelos misteriosos métodos do voto eletrônico e da apuração
sigilosa), vencer uma eleição. O problema é mudar a realidade do País e da
sociedade.
A
esquerda perde a batalha da popularidade
Reinaldo Azevedo escrevia há dias no seu
blog: “Eu anuncio aqui a morte da sociedade sonhada pelos petralhas”.
Sim, o lulo-petismo, bafejado por todas as máquinas
burguesas da propaganda, quis assaltar o poder e conformar a sociedade a sua
ideologia, mas a sociedade o rejeitou. E essa rejeição é a realidade mais
profunda da atual situação política.
Como bem assinalou Plinio Corrêa de Oliveira, a
esquerda sempre se enganou com o Brasil, não soube auscultar as camadas
profundas da sociedade que, por vezes, podem ser ludibriadas, mas quase nunca
são conquistadas pelos seus delírios ideológicos:
“Se a esquerda for açodada na efetivação das
reivindicações ´populares´ e niveladoras com que subiu ao poder; se se mostrar
abespinhada e ácida ao receber as críticas da oposição; se for persecutória
através do mesquinho casuísmo legislativo, da picuinha administrativa ou da
devastação policialesca dos adversários, o Brasil se sentirá frustrado na sua
apetência de um regime bon enfant, de uma vida distendida e
despreocupada. Num primeiro momento, distanciar-se-á então da esquerda. Depois ficará
ressentido. E, por fim, furioso. A esquerda terá perdido a partida da
popularidade” (Cuidado com os pacatos, Folha de S. Paulo, 14.12.82).
A esquerda petista perdeu a batalha da
popularidade. O desprestígio de Dilma, de Lula e do PT está nas ruas. Agora até
as pesquisas de opinião constatam aquilo que há muito se observa.
Com
ferro foi ferida
Convido-os a ler o artigo de Dora Kramer, publicado no jornal O
Estado de S. Paulo (10.Fev.2015), intitulado Com ferro foi ferida:
“A notícia de
que a perplexidade tomou conta do Palácio do Planalto com a derrocada dos
índices de popularidade e confiabilidade da presidente da República é prima
irmã daquela irritabilidade que recai sobre a pessoa de Dilma Rousseff quando
algum fato tem repercussão negativa na opinião pública.Ambas são versões
oficiais destinadas a criar um espaço de prudente (embora falsa) distância
entre ela e a má nova. Ou velha, tanto faz. Algum ato de governo pegou mal?
“Dilma ficou muito irritada”, avisa a assessoria.O brasileiro não gostou de
constatar que Dilma mentiu na campanha eleitoral a respeito de rigorosamente
todos os principais temas em debate com os oponentes? Mais que depressa o
departamento de propaganda do governo informa que foi um choque para ela saber
disso.
Ora por quem sois. A pesquisa do Instituto
Datafolha explicitou em números uma realidade que os fatos estavam contando por
si todos os dias. Ou alguém no Palácio do Planalto poderia esperar algo de
diferente quando uma presidente da República recentemente reeleita simplesmente
some de cena enquanto são anunciadas medidas que, segundo a candidata a
conquistar votos, não seriam tomadas em hipótese alguma?
Ou, por outra, seriam impostas cruelmente ao País
caso o eleitorado optasse por escolher um de seus adversários. Qualquer um dos
dois, Marina Silva ou Aécio Neves, seriam os culpados por graves agruras. Ela,
Dilma Rousseff, seria o caminho das soluções. Note-se o silêncio pós posse que
contrariou até o discurso da noite da vitória em que ela conclamava a Nação à
união e ao “diálogo”.
Daí em diante não explicou mais nada. Quando falou,
limitou-se a monólogos fantasiosos seguindo a mesma toada da agenda ilusória
montada para a campanha eleitoral. A roubalheira na Petrobrás era culpa de um
ou outro funcionário; a crise econômica, decorrência da situação internacional;
a inflação, inexistente e o que mais não vá bem, produto de pessimismo.
Deixou o ponto crucial que era o ajuste na economia
ao encargo do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, como quem tenta se preservar e
aqui de novo, se distanciar da má notícia. Deu a seguinte impressão: se sair
errado, a culpa é dele.
A se acreditar que a presidente da República e seu
grupo fechado de conselheiros foram realmente pegos de surpresa com o efeito
dessa conjunção de desastres nem todos citados, pois de conhecimento
geral, é de se concluir pela gravidade da situação de isolamento total do
núcleo governante.
Não há no tão competente departamento de
comunicação governamental um acompanhamento permanente de pesquisas? E aquela
consulta que o PT anunciou que contrataria para detectar as razões do
claudicante desempenho eleitoral? Dela nunca mais se ouviu falar.
A julgar pela reação improvisada e repetitiva do
anúncio da montagem de uma “agenda positiva” como se a agenda negativa não
fosse fruto do choque de ações do governo com a agenda ilusória da
campanha, há um apagão de sensatez no Palácio do Planalto. Ou um surto de
ingênua credulidade no poder eterno do ilusionismo.
E ausência de noção de limite. João Santana, o
marqueteiro, extrapolou, exagerou e ganhou a eleição. Entregou a mercadoria. O
dia seguinte é serviço de quem ganhou. Há um dado terrível para a
presidente na pesquisa do Datafolha: 47%, 54% e 50% dos consultados consideram
que ela é desonesta, falsa ou indecisa.
Produto de quê? Da exacerbada contradição entre o
discurso de campanha e as ações logo depois. Portanto, talvez não seja um
exagero concluir que, se não tivessem sido tantas e tão flagrantes as mentiras,
se a campanha de Dilma não tivesse procurado colocar na boca dos opositores
palavras que nunca disseram, possivelmente a crise não atingiria tão gravemente
a imagem da presidente“.
Título e Texto: José Carlos
Sepúlveda da Fonseca, ABIM,
13-2-2015
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