sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Crônica de Shangri-La: 365 dias de absenteísmo

José Manuel
De terça-feira, 4 de março de 2014, a  terça-feira, 18 de fevereiro  de 2015, será praticamente um ano em que o povo de Pindorama foi submetido a um espasmo cerebral sem precedentes na história da República, ou seja, o país resolveu ausentar-se de si mesmo.

São dois carnavais e suas prévias, uma Copa do Mundo de futebol, um escândalo do Petrolão sem par no planeta, e uma eleição para presidente, governadores, senadores e deputados federal e estadual.

Depois disso tudo fica difícil a um país aguentar um tranco forte e negativo à sua economia tão fragmentada como está, e o resultado, como se pode ver, são os índices econômicos e sociais que o país está atravessando, com a gestação de uma crise politica já esperada face ao que vem ocorrendo.

Se quisermos tentar decodificar o que significa um ano zero de crescimento e quantificar alguma coisa neste período, o que é muito fácil, pois, para começar, se um carnaval já faz tremer os alicerces econômicos pelos dias em que o país fica parado, vamos imaginar dois, mais a falta de chuva, o gasto excessivo de água nestes períodos, mais o consumo exorbitante de energia, consumo extraordinário em combustíveis nos deslocamentos em longos feriados, o apagão social e político pelo povo nesta época momesca, e pelos fatos que estão por aí noticiados, que vão acontecer na pátria educadora, sem o menor retorno econômico ao país e tudo isso em menos de 365 dias.

Se pudéssemos medir hipoteticamente em um placar  virtual os males que isto vem acarretando à nação, poderíamos começar dizendo que o resultado parcial, estaria em 1 para a crise, 0 para o país

Depois da primeira abstinência e a luxúria dos famosos "carne vale" desde 2014, logo a seguir, bem no sexto mês do ano, mais trinta dias de falso pragmatismo de que "a taça do mundo é nossa", com gastos que saem fora da nossa compreensão e sem relação alguma com o nosso real crescimento, desaba-se em um resultado pífio e vergonhoso ao final da competição. Mais uma vez nenhum retorno econômico, em contrapartida aos absurdos gastos no evento esportivo, pois a entrada do capital esperado ficou absurdamente longe do que foi investido em uma festa perdida e largamente anunciada.
Continuando parcial o resultado, 2 para a crise, 0 para o país.

Logo após a perda das dignidades esportiva e econômica, e não muito longe, em setembro, estoura um escândalo de proporções intercontinentais, fazendo com que a principal empresa petroleira, com contratos ao redor do planeta, perca o seu valor de mercado sendo rebaixada por agências internacionais e hoje tenha até o seu prédio sede e ícone de uma pujança nacional penhorado por uma pequena refinaria do Rio de Janeiro, tendo em causa a falta de pagamento em compromisso financeiro assumido.

O escândalo atinge  em cheio não só a petroleira, bem como o partido  do governo vigente, pelos políticos envolvidos e com sérias implicações politico-institucionais.
Ainda parcial, 3 para a crise, 0 para o país.

Trinta dias depois, em outubro, acontece aquela que seria a eleição que além de um gasto indecifrável, incomunicável à sociedade e que poderia tentar colocar nos eixos novamente a economia e a decência. Mais uma vez, e com trinta milhões de eleitores válidos não comparecendo às urnas, ou seja uma abstenção recorde de 20% em um universo de Cento e Quarenta e Dois milhões de habitantes, ou melhor, uma Argentina inteira, a oposição com 49% dos votos não consegue se eleger e o partido ora no poder ganha as eleições. Inimaginável  que por causa de uma ausência irresponsável o país tenha que passar pelo que está ocorrendo no momento.
Aqui, o resultado é inquestionável, sendo 4 para a crise, 0 para o país.

Mas, tudo o que aqui está escrito, não são meras observações ou sinais do cotidiano de uma nação sintomática, pois é explicado pelo renomado cientista americano, Noam Chomsky, especialista em abordagem matemática dos fenômenos da linguagem, quando descreve a técnica usada por alguns governos para a manipulação das populações. Vejamos:

A estratégia da distração
O elemento primordial do controle social é a estratégia da distração que consiste em desviar a atenção do povo, dos problemas importantes e das mudanças decididas pelas elites, políticas e econômicas. Manter a atenção do povo distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais e atraída por temas sem importância real. (Carnaval, copa do mundo.)

Criar problemas e depois oferecer soluções 
Se cria um problema, uma situação prevista para causar certa reação no povo, a fim de que este seja o suplicante das medidas que se deseja aceitar.
Deixar que se desenvolva ou se intensifique a violência urbana, a fim de que o povo seja o requerente de leis de segurança e políticas, em prejuízo das liberdades. Criar uma crise econômica, para que o povo aceite como um mal necessário, o retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços públicos. (Nossa violência de cada dia, alta da inflação, escândalos).

A estratégia da gradualidade
Para fazer que se aceite uma medida inadmissível, basta aplicá-la gradualmente em conta-gotas, num prazo ampliado.
Dessa forma, as novas condições impostas, as mudanças radicais são aceitas sem provocar revoltas. (Prometido antes, não realizado depois).

A estratégia do adiar
Uma decisão impopular é a de apresentá-la como "dolorosa e necessária", obtendo a aceitação pública no momento, para uma aplicação futura.
É mais fácil aceitar um sacrifício futuro que um sacrifício imediato.
Primeiro porque o esforço não é imediato, segundo porque a massa ingenuamente crê,  "que amanhã tudo irá melhorar" e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. (Vaselina de resultados dos novos ministros). 

Dirigir-se ao povo como criaturas de pouca idade
Dirigir-se ao povo utilizando discursos, argumentos, personagens e entonações particularmente infantis, muitas vezes, próximos à debilidade, como se o expectador fosse uma criatura de pouca idade ou um deficiente mental. Quanto mais tente-se enganar o povo, mais tende-se a adotar um tom infantil, porque dirigir-se a uma pessoa como se tivesse doze anos, tenderá por sugestão, a adotar reações ou respostas mais infantis e desprovidas de sentido crítico. (Discursos confusos ou absolutamente irracionais).

Utilizar o aspecto emocional, muito mais que a reflexão
Fazer uso do aspecto emocional, é uma técnica clássica para curto-circuitar a análise racional e neutralizar o sentido crítico dos indivíduos. (Doença dos dirigentes pré e pós).

Manter o povo na ignorância e na mediocridade
A qualidade da educação dada às classes sociais inferiores deve ser a mais pobre e medíocre possível, de forma que a distância entre estas e as classes altas permaneça inalterada no tempo e seja impossível alcançar uma autêntica igualdade de oportunidades para todos. (Qualidade péssima da educação pública, cotas raciais em faculdades).

Estimular o povo a ser complacente com a mediocridade
Fazer crer ao povo que está na moda a vulgaridade, a incultura, o ser mal falado, ou admirar personagens sem talento ou mérito algum, o desprezo ao intelectual, o exagero do culto ao corpo e a desvalorização do espírito de sacrifício e do esforço pessoal. (Falta de controle à exposição indevida e desprezo pela meritocracia no serviço público).

Reforçar o sentimento de culpa pessoal
Fazer crer ao indivíduo, que ele é o único culpado pela sua própria desgraça, por insuficiência de inteligência, de capacidade ou de esforço.
Assim, em lugar de rebelar-se contra o sistema econômico e social, o indivíduo se desvaloriza, se culpa, gerando em si um estado depressivo, que inibe a sua capacidade de reagir. (Falta de apoio técnico e financeiro ao empreendedorismo da iniciativa privada).

Conhecer melhor os indivíduos do que eles mesmo se conhecem
Graças à biologia, à neurobiologia e à psicologia aplicada, o sistema tem desfrutado de um conhecimento avançado do ser humano, tanto de forma física como de psicológica.
Isto significa que, na maioria dos casos, o sistema exerce um maior controle e poder sobre os indivíduos, superior ao que pensam que realmente têm. (A monitoração do indivíduo é exercida com mensagens subliminares, segundo critérios pouco ortodoxos).

Qualquer semelhança com a realidade vigente em Pindorama nos últimos anos é apenas mera coincidência. 
Título e Texto: José Manuel, trabalhando no carnaval, 20-2-2015

Nota: a descritiva nas crônicas por mim publicadas é o resultado de pesquisa em notícias veiculadas em mídia nacional idônea, apenas compondo um pensamento lastreado em liberdade de expressão e ancorado no Artigo 5 inciso IX, da constituição Federal de 1988.

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Um comentário:

  1. Bom texto, José Manuel. A menção de Chompsky realça sua capacidade de escrever um texto seriamente fundamentado. Parabéns!
    www.youtube.com/watch?v=s7nhcOShzYM
    Habitz

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