quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Crônica de Shangri-La: o país que não gosta de ser país

José Manuel
Por ocasião do quinquagésimo aniversário do assassinato da Panair, acabo de rever o vídeo que contém relatos de ex-funcionários, de figuras proeminentes à época, artistas, enfim, muita gente, e cada vez mais me convenço do absurdo cometido contra uma empresa sólida que representou internacionalmente o país durante décadas.

Emoções e simpatias à parte, a Panair não era só uma empresa de aviação com equipamentos de ultima geração, mas a responsável pela instalação de todos os sistemas de comunicação ao longo da imensidão continental, dona dos aeroportos mais importantes do país, desbravadora da Amazônia com os seus Catalina, dona da maior empresa de insumos técnicos para a aviação, a Celma em Petrópolis e até hoje operando em parceria com a GE, que fazia inclusive a manutenção não só de aeronaves estrangeiras bem como da FAB.
 
Constellation PP-PCG, dentro do hangar no Aeroporto Santos Dumont, no início da década de 1950. Esse hangar ainda existe, como parte das instalações do 3º COMAR. Fonte: Cavok Brasil

Isso, se imaginarmos, só para exemplificar, nas décadas de 50 e 60 era um feito espetacular em relação a outros países, inclusive Estados Unidos e Alemanha.

Aí, em 1965, não vou entrar em detalhes porque absurdos não têm paternidade, resolveram, com uma assinatura, decretar a falência de uma empresa vitoriosa, sem dívidas com ninguém, com caixa positivo e muito estruturada.

Com uma simples assinatura colocaram no olho da rua da amargura milhares de funcionários, centenas de técnicos em aeronáutica civil, pilotos, comissários, enfim, uma plêiade de gente gabaritada tecnicamente, levando ao sofrimento centenas e centenas de famílias.
 
Aeromoças da Panair acampadas e à espera de uma audiência com o presidente, em 1965, ano em que a empresa encerrou suas atividades. Acervo: UH/Folhapres

Anos após a sua absolvição, no levantamento da falência, ninguém consegue responder o porquê de tal arbitrariedade, tampouco liberam  a certidão de óbito, muito menos a causa mortis.

Não satisfeito, o país que não gosta de ser país, muito menos dos seus ativos mais valiosos, quarenta e cinco anos depois, em uma situação totalmente oposta, mas também arbitrária, repetindo o rosário de sofrimento anterior, decreta a falência da Varig, que superava algumas das melhores empresas aéreas do mundo, novamente colocando no olho da rua mais de vinte mil funcionários, e provocando a segunda maior diáspora de pilotos e técnicos em aviação comercial de que se tem notícia no planeta.

Hoje os céus estão abertos ao mundo, que os explora magnificamente enviando divisas para a suas matrizes, e as empresas maiores já não são genuinamente nacionais pois a maioria é de capital estrangeiro, mas o país dá mostras alegres e sorridentes de que essa é a situação ideal para uma economia de Estado.

Saindo de um passado vergonhoso e entrando num presente mais ainda, o país que não se suporta, ao ver que uma empresa petrolífera genuinamente Pindoramense se atreveu a chegar a ser uma das mais importantes no cenário mundial, caiu de tapas e bofetões na desdita, até que a coitada perdeu o seu valor de mercado, vale menos do que uma cervejeira e está sendo processada nas terras do tio Sam, por falcatruas inimagináveis a seus acionistas gringos.

Conheço um microempresário, aqui em Pindorama, que tem uma pequena empresa, funcionando e com endereço reconhecido, CNPJ atualizado, sem dívidas para com o Estado ou bancos oficiais, vem há anos solicitando um cartão BNDES, tendo sempre como resposta, a negativa de que o seu faturamento não comporta  a liberação do referido cartão.

Pois bem, o ex-presidente do banco oficial do país, com vários problemas judiciais, não fala inglês, não tem formação tecnológica, recentemente foi promovido a presidente da Petrobras, uma multinacional em que o idioma inglês é recorrente, sem entender a diferença entre petróleo e gasolina, mas se aposentando pelo fundo de pensão estatal anterior com R$ 60.000,00 mensais.

Ora, como deverá ganhar lá na Avenida Chile, cerca de 150 , mais os 60 da aposentadoria, vai dar uma pancada nos cofres públicos de mais ou menos 210 mil mensais, numa empresa que hoje está com a sede ícone, aquela da Avenida Chile, penhorada por falta de pagamento a uma refinaria de pequeno porte.

Foto: Felipe Borges

Porém, antes de fazer as malas para a petroleira, conseguiu um empréstimo para uma amiga, a Val, através do mesmo BNDES no valor de dois milhões e setecentos mil, cliente essa inadimplente no banco oficial, sem comprovar faturamento adequado e dando como endereço de fachada uma agência do próprio banco. Portanto, aqui fica evidenciada a confirmação de que o país realmente se odeia.

Recentemente, a  valorosa Polícia Federal comandada por um juiz patriota e firme em seus objetivos, uma das poucas exceções do universo Pindorama, resolveu dar um basta na festa de arromba que há décadas infringe os mais duros golpes, sem que o país se importe com isso, e mandou prender os reis ou, talvez, imperadores das bandalhas empreiteiramente nacionais.

O rombo e os saques criminosos nos cofres públicos já passam de mais de CEM bilhões e as operações para tirar tudo a limpo não param  tanto aqui como no exterior.

Pois bem, como isso iria tirar o país das páginas sujas do mundo e livrar a cara dos Pindoramenses sem culpa, eis que de repente, não mais do que de repente, surge um The Flash em pleno carnaval e em apenas quatro horas, numa velocidade incrível, articula com o TCU junto à AGU, uma normativa para passar a ser o avalista dos acordos com as empreiteiras. Está claríssimo que isso irá prejudicar o andamento da operação lava-jato.
Também um ex-Ministro do mesmo TCU (tribunal de contas da União), surge agora dizendo que a presidência nas mãos do PT, deixou de contabilizar 2,3 trilhões de Reais. Por que, Ministro, não relatou à sociedade essa manobra há mais tempo?
Por onde anda esse dinheiro, ninguém sabe, porque segundo a própria presidência é segredo de Estado.

Lamento mas isso não é segredo, é uma bomba de efeito retardado.

E assim, ao longo dos anos, empresas gigantes e genuinamente nacionais, importantíssimas em sua história pela criação de empregos e tecnologia desenvolvida aqui em Pindorama, foram sendo abatidas e entregues aos abutres internacionais, com a remessa de lucros ao exterior cada vez crescendo mais. Nenhuma dessas empresas estrangeiras aplica os lucros aqui, porque sabem que não haverá retorno governamental e porque também sabem que correm o risco de perderem o que investiram.

Bem, isto tudo parece ser uma espécie de síndrome de automutilação, auto sabotagem em que o ente não gosta de si próprio, infringindo a si as mais variadas formas de golpes contra a sua própria integridade.
Talvez fosse o caso de termos a pasta ministerial da Psiquiatria e um ministro médico com expertise no assunto, que tentasse resolver de vez estes mistérios insondáveis através de uma psicanálise aplicada.
Quem sabe?

Título e Texto: José Manuel, não é borderline, tampouco bipolar, 18-2-201

Vídeo:

Nota: a descritiva nas crônicas por mim publicadas é o resultado de pesquisa em notícias veiculadas em mídia nacional idônea, apenas compondo um pensamento lastreado em liberdade de expressão e ancorado no Artigo 5 inciso IX, da constituição Federal de 1988.

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