terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Um Minuto de Silêncio pela Assembleia da República

Cristina Miranda
É incompreensível o que aconteceu na Assembleia da República Portuguesa, aquele lugar onde supostos representantes do povo decidem as nossas vidas. Como foi possível aprovar, em pleno século XXI, dois votos de pesar pela morte de Fidel Castro, ditador sanguinário, mas ficarem sentados a fazer o “manequin challenge” na ovação ao Rei de Espanha, país vizinho, democrático e amigo de Portugal? Que criaturas são estas a representar-nos no Parlamento?

Vergonha. Uma profunda vergonha. É o que sinto como cidadã de um país europeu, livre e democrático (por enquanto) quando vejo centenas de deputados a matarem os princípios de liberdade e democracia pela qual o Mundo inteiro tanto lutou ao apoiar abertamente ditaduras sanguinárias, onde não faltou elogios e semânticas românticas. Homenageia-se um ditador tirano que tem mais sangue nas mãos que todos os outros juntos, que fez de uma ilha uma cadeia, que levou seu povo à miséria enquanto acumulava uma fortuna, que manteve o povo refém da sua vontade impedindo eleições livres e democráticas, que transferiu o poder para o irmão como se de uma dinastia se tratasse. Um assassino. Um tirano. Um opressor. Um hipócrita capitalista. Que senilidade é esta?

Se no passado havia desculpa por não se saber as consequências destes nacionalistas obcecados, hoje ninguém tem dúvida sobre a malvadez destes homens dispostos a tudo para assegurar o poder, instaurando um regime opressivo para limitar qualquer liberdade que possa provocar a sua derrocada. Não se trata de uma doutrina. É um embuste encapuzado, tão-somente para atingir um fim: o poder absoluto. Onde depois, longe dos olhares dos povos, vivem de acordo com o modelo capitalista. Pensem: se eles acreditassem no modelo comunista, que impõem ao seu povo, não viveriam de acordo com ele? Pois…

A única evocação que deveria ter sido feita era “Fidel morreu. Vamos ajudar agora o povo cubano a recuperar a liberdade e dignidade humana que lhes foi negada”. Ponto final. Porque a única homenagem digna seria ao povo que heroicamente resistiu à macabra ditadura que separou famílias, matou entes queridos, exilou milhares e fez mirrar os que ficaram. E nós, os parvos do costume, patetas assumidos, a enaltecer, junto com a Coreia do Norte, Venezuela e Rússia, este monstro cubano, enquanto em Cuba o povo vira as costas em manifesto, às cinzas do Fidel. Vergonha.

Perante isto, o que tem de ser feito, isso sim, é um minuto de silêncio pela nossa Assembleia, que esta semana matou a liberdade, matou a democracia, matou a defesa pela igualdade, desrespeitou os direitos humanos num inqualificável louvor a um ditador sanguinário.

Mataram ainda o direito de algum dia se pronunciarem em nome da liberdade e democracia. Porque a hipocrisia tem limites.
Título e Texto: Cristina Miranda, Blasfémias, 5-12-2016

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