Cristina Miranda
É incompreensível o que
aconteceu na Assembleia da República Portuguesa, aquele lugar onde supostos
representantes do povo decidem as nossas vidas. Como foi possível aprovar, em
pleno século XXI, dois votos de pesar pela morte de Fidel Castro, ditador
sanguinário, mas ficarem sentados a fazer o “manequin challenge” na ovação ao
Rei de Espanha, país vizinho, democrático e amigo de Portugal? Que criaturas
são estas a representar-nos no Parlamento?
Vergonha. Uma profunda
vergonha. É o que sinto como cidadã de um país europeu, livre e democrático
(por enquanto) quando vejo centenas de deputados a matarem os princípios de
liberdade e democracia pela qual o Mundo inteiro tanto lutou ao apoiar
abertamente ditaduras sanguinárias, onde não faltou elogios e semânticas
românticas. Homenageia-se um ditador tirano que tem mais sangue nas mãos que
todos os outros juntos, que fez de uma ilha uma cadeia, que levou seu povo à
miséria enquanto acumulava uma fortuna, que manteve o povo refém da sua vontade
impedindo eleições livres e democráticas, que transferiu o poder para o irmão
como se de uma dinastia se tratasse. Um assassino. Um tirano. Um opressor. Um
hipócrita capitalista. Que senilidade é esta?
Se no passado havia desculpa
por não se saber as consequências destes nacionalistas obcecados, hoje ninguém
tem dúvida sobre a malvadez destes homens dispostos a tudo para assegurar o
poder, instaurando um regime opressivo para limitar qualquer liberdade que
possa provocar a sua derrocada. Não se trata de uma doutrina. É um embuste
encapuzado, tão-somente para atingir um fim: o poder absoluto. Onde depois,
longe dos olhares dos povos, vivem de acordo com o modelo capitalista. Pensem:
se eles acreditassem no modelo comunista, que impõem ao seu povo, não viveriam
de acordo com ele? Pois…
A única evocação que deveria
ter sido feita era “Fidel morreu. Vamos ajudar agora o povo cubano a recuperar
a liberdade e dignidade humana que lhes foi negada”. Ponto final. Porque a
única homenagem digna seria ao povo que heroicamente resistiu à macabra
ditadura que separou famílias, matou entes queridos, exilou milhares e fez
mirrar os que ficaram. E nós, os parvos do costume, patetas assumidos, a
enaltecer, junto com a Coreia do Norte, Venezuela e Rússia, este monstro
cubano, enquanto em Cuba o povo vira as costas em manifesto, às cinzas do
Fidel. Vergonha.
Perante isto, o que tem de ser
feito, isso sim, é um minuto de silêncio pela nossa Assembleia, que esta semana
matou a liberdade, matou a democracia, matou a defesa pela igualdade,
desrespeitou os direitos humanos num inqualificável louvor a um ditador
sanguinário.
Mataram ainda o direito de
algum dia se pronunciarem em nome da liberdade e democracia. Porque a
hipocrisia tem limites.
Título e Texto: Cristina Miranda, Blasfémias,
5-12-2016
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