Luciano Ayan
Ferreira Gullar, Buenos Aires, 1975 |
Sem querer tirar outros méritos de Ferreira Gullar, que foi de fato um grande poeta e escritor – entre outras coisas -, ao menos em seu último artigo sobre política ele vacilou. Aqui, colocarei os principais trechos de seu artigo e minha posterior análise para comparação.
“Frequentemente me pergunto
por que certas pessoas indiscutivelmente inteligentes insistem em manter
atitudes políticas indefensáveis, já que, na realidade, não existem mais. Estou
evidentemente me referindo aos que adotaram a ideologia marxista…”
Sim, são políticas
indefensáveis moralmente, mas são eficientes para quem quer poder.
“Não tenho dúvida alguma em
afirmar que Karl Marx foi uma personalidade excepcional, tanto por sua
inteligência como por sua generosidade, pois dedicou a sua vida à luta
por um mundo menos injusto.
Graças a homens como
ele, as relações de capital e trabalho – que, na época, eram simplesmente selvagens
– mudaram, alcançado as conquistas que as caracterizam hoje. Marx
contribuiu para mudar a sociedade humana, muito embora o seu sonho da sociedade
proletária se tenha frustrado.”
Obviamente, Gullar acreditava
que Marx era um homem bem-intencionado. No entanto, ele não dedicou sua vida a
ajudar ninguém. Muito pelo contrário. Marx abandou filhos. Alguns deles
morreram até de fome, enquanto ele próprio foi sustentado por uma esposa e um
amigo que eram muito ricos. Marx viveu como nobre enquanto sua própria prole
viveu nas piores condições possíveis.
Outra loucura é dizer que foi
Marx quem ajudou a melhorar as relações trabalhistas. Muito pelo contrário,
aliás. O que tornou tudo isso muito mais humano foi o próprio advento do
capitalismo. Antes de as fábricas nas grandes cidades serem um “problema
trabalhista”, crianças e idosos trabalhavam no campo em condições sub humanas.
“Mas, para que esse avanço
prossiga é necessário reconhecer que o sonho marxista estava errado, ainda
que bem-intencionado. Se insistirmos nos dogmas ditos revolucionários
– como a luta de classes e a demonização da iniciativa privada –, não sairemos
do impasse que inviabilizou o regime comunista onde ele se implantou.”
Aqui fica em evidência a fé
cega na crença. Gullar crê absolutamente que os marxistas são pessoas bem-intencionadas
e que eles acreditam mesmo no que dizem ser o melhor para o mundo. O próprio
Gullar viveu tempo suficiente para ver que não é bem assim, na prática. O que
acontece em boa parte das vezes é o exato oposto. Temos pessoas espertas,
cientes de que a experiência socialista soviética foi cruel e nefasta, e que
ainda assim defendem a mesma coisa.
O que ocorreu com todos –
absolutamente todos – os revolucionários que chegaram ao poder? Eles se
tornaram ditadores, começaram a agir de forma cruel, castigaram o povo,
praticaram crimes desumanos e mataram milhares, muitas vezes milhões de
pessoas. Não há sequer uma só exceção para esta regra. Em meados da década
passada muitos acreditaram que a Venezuela seria diferente, mas não foi. Hugo
Chávez, discípulo de gente como Marx, fez exatamente o mesmo que Stalin,
Hitler, Pol Pot, etc. Sim, em proporções menores, mas de modo igualmente
execrável.
O fato é que Gullar era um
homem culto e inteligente, mas evidentemente inocente quanto a política. Ele
acreditava piamente na ideia de que a extrema-esquerda realmente acha
estar fazendo o bem, mesmo que todas as evidências apontem o oposto. Isso é a
fé cega na crença: é acreditar que o seu inimigo, aquele mesmo que te
decapitaria se tivesse chance, é apenas alguém “errado”, alguém que
acredita estar fazendo bem ao mundo.
Que bem trouxeram ao mundo as
milhões de mortes de Holodomor?
Título, Imagem e Texto: Luciano Ayan, Ceticismo Político, 5-12-2016
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