domingo, 26 de novembro de 2017

A maldição da revista IstoÉ

Filipe Garcia Martins

Luciano Huck não irá sobreviver ao que chamarei, a partir de hoje, de "maldição da revista Isto é" — a sina de ter que carregar nos ombros uma candidatura biônica e artificial, maquiada para aparentar muito mais força do que de fato possui.

O apresentador global certamente tem muitos recursos que o tornariam um candidato forte e competitivo em determinadas circunstâncias, além de contar com conselheiros que o amparam com uma boa retaguarda estratégica, mas o desespero e a sanha da grande mídia para fazer com que ele pareça mais forte do que de fato é irão resultar no oposto do esperado, convertendo-o em um candidato ainda mais frágil do que ele já é.

A maior evidência disso talvez seja a pesquisa do Instituto Ipsos, cantada em prosa e verso pelo establishment midiático como se representasse algo além de uma pesquisa mercadológica, construída sob medida para fazer crer que há alguma correlação entre a popularidade de uma celebridade televisiva e os votos que ela obteria em uma disputa eleitoral.

Ao se deparar com a manchete vergonhosa do Estadão ou com a capa patética da Isto é, o leitor desavisado pode concluir que o apresentador é de fato um "fenômeno", um candidato "incrível", que mal insinuou seu desejo de concorrer à presidência e já obteve 60% das intenções de voto.

Evidentemente não é isso o que a pesquisa, uma medição malfeita* da aprovação de algumas figuras públicas, diz; mas é isso o que o Estadão e a Isto é tentam, deliberadamente, fazer com que seus leitores acreditem — as escolhas das palavras nas chamadas e o conteúdo das matérias não dão espaço para dúvidas.

Diante disso, é possível afirmar com tranquilidade que a mídia está tentando plantar um candidato forte, mas colherá um candidato frágil, vulnerável e incapaz de sobreviver a uma campanha em que terá, a um só tempo, que defender as contradições e os muitos defeitos da Rede Globo e que se esquivar das investidas dos demais candidatos. Partindo de uma posição extremamente frágil, ele terá que lidar com candidatos resilientes como Lula, Alckmin e Ciro Gomes e, também, com pelo menos um candidato anti-frágil, representado pela figura do deputado Jair Bolsonaro.

Pensem por um instante no esposo da Angélica, essa ilustração singular de como é possível construir uma imagem de bom moço com marketing e hipocrisia, na mira da retórica cortante de um Ciro Gomes, da malícia acusatória de um Lula ou do discurso moral de um Jair Bolsonaro. Imaginou? Pois é...

Ao falsificar a força de Luciano Huck, a mídia o condenou à dependência de fatores externos (sobretudo, da manutenção constante de sua imagem falsa e enfeitada); à necessidade de um super-gerenciamento de riscos e de danos (algo impossível com as redes sociais, que deixaram claro que os riscos e os danos são a regra e não a exceção); e à indispensabilidade de uma megaoperação de campanha (para tentar manter azeitadas todas as engrenagens da máquina de farsas).

Isso tudo faz do apresentador global um candidato extremamente frágil. Assim, se hoje a popularidade dele pode ser traduzida, generosamente, em algo em torno de 10% nas intenções de voto, muito em breve ele não poderá contar nem com uma coisa nem com outra.

Emmanuel Macron não teria chegado à presidência se não tivesse despontado como opção viável apenas na véspera das eleições. Pelo mesmo motivo, é pouco provável que Huck se torne o presidente do Brasil.

Os estrategistas dele, dentre os quais estão pessoas muito competentes como o Guillaume Liegey, podem tentar reverter isso tudo, mas, hoje, certamente é mais seguro dizer que Huck não irá sobreviver à maldição da "revista Isto é". 

Digo que a medição é malfeita porque o Instituto Ipsos utiliza uma amostra por quota, realizando um recorte prévio da população consultada e fazendo opções esdrúxulas como, por exemplo, a de deixar de fora a totalidade da população rural. 

2 comentários:

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