Luiz Gonzaga Schroeder Lessa
Nos últimos dias, a América do
Sul foi sacudida por considerável instabilidade política na Venezuela,
precipitada pela entrada no país da chamada “ajuda humanitária”.
Capitaneada pelos Estados
Unidos da América, formou-se, em muito pouco tempo, uma sólida cooperação de
cerca de 60 países, Brasil incluído desde a primeira hora, que reconheceram
como legítima a autoproclamação de Juan Gaidó como presidente interino da Venezuela.
E chegamos ao tão propalado dia 23 de fevereiro, data previamente marcada para a
entrada da ajuda humanitária em território venezuelano, a partir das fronteiras
do Brasil e da Colômbia, o que foi considerado por Maduro como uma
interferência indevida nos assuntos internos do país. Discordâncias à parte, é
difícil não considerar essa ação como, de fato, uma interferência no país
vizinho, por mais que a diplomacia tente descaracterizar essa condição.
A união episódica dos Estados
Unidos da América com países da Comunidade Europeia e da América Latina,
caracterizou o que sempre tememos possa
ocorrer para a Amazônia: a imposição, por organismos internacionais, de medidas
restritivas que afetem a nossa soberania, por supostamente contrariar eventuais
políticas relacionadas ao meio ambiente, à problemática indígena ou a ocupação
espacial. O entusiástico apoio da nossa diplomacia à essa intervenção abre um
perigoso precedente para o Brasil.
A quase unanimidade da
comunidade internacional reconhece que o
governo corrupto de Maduro não pode continuar e que isso só ocorrerá com a
tomada de posição das forças armadas
bolivarianas, disputadíssimas por todas as partes envolvidas: o governo tentando, a todo custo, manter
a sua lealdade, e a oposição buscando fracionar a sua unidade e angariar a sua confiança.
Ao reconhecer Gaidó como
presidente interino, Brasil, Estados Unidos da América e demais países esperavam
por uma rápida deterioração do governo Maduro, o que não ocorreu. Além do
aumento das pressões norte-americanas já existentes, foi planejada a ajuda
humanitária, que serviria para amenizar as agruras da população, mas, também e
principalmente, como um teste de lealdade das forças armadas bolivarianas.
Apesar dos violentos protestos
que resultaram em vários mortos e feridos, a ajuda humanitária não logrou
adentrar o território venezuelano, fato que reforça a solidez do governo
Maduro, comprovada por milhares de fiéis seguidores que compareceram ao comício
por ele promovido em Caracas, e
enfraquece Gaidó, que terá que buscar novas formas de luta.
E chegamos ao D+1. O que
fazer? Os Estados Unidos e os demais países da coligação devem aumentar as
suas pressões diplomáticas e econômicas
e podem, até mesmo, pautar eventuais aventuras militares. O objetivo é um só:
derrubar Maduro.
E
quanto ao Brasil? Difícil prever, mas não deveríamos continuar seguindo a
orientação norte americana. Os objetivos dos Estados Unidos são muito diversos
dos nossos, e longe de querer simplesmente a queda de Maduro buscam interromper
a crescente influência russa e chinesa em área geopolítica tradicionalmente do
seu interesse. O conflito da Venezuela trás para a América Latina, especialmente
para o Brasil, a problemática europeia e os germes de uma nova e imprevisível
guerra fria do século 21, que julgávamos há muito ultrapassada.
Por outro lado, os interesses
brasileiros de convivência pacífica, conciliação, respeito e autodeterminação
dos povos, princípios basilares da nossa diplomacia, aplicam- se, com alta
prioridade, aos nossos vizinhos. Aqui, uma pergunta crucial: o que fez ou tem feito a nossa diplomacia
para aliviar as tensões com a Venezuela, país de longas e profícuas relações
com o Brasil?
Já foi dito que a diplomacia é
a arte do impossível, e enquanto houver disposição para conversar sempre haverá
possibilidade de se encaminhar e resolver os litígios. Exemplo mais contundente
dos dias de hoje é a península coreana, que evoluiu de quase uma guerra nuclear
para um ambiente de relativa paz, com sensível redução da tensão mundial. Parece
que temos atuado muito timidamente na busca de uma solução que melhor atenda
aos interesses brasileiros.
O governo de Juan Gaidó é
ainda um sonho quimérico, uma grande promessa, mas faltam-lhe os instrumentos
básicos do Estado para que possa, efetivamente, exercer a sua autoridade de
presidente. É grande a sua força moral e o respaldo político granjeado na
comunidade internacional. Mas fica nisso. À medida que o tempo passa, agrava-se
cada vez mais a situação venezuelana, com severas e imprevisíveis consequências
para o Brasil. Pouco provável, mas não fora de cogitações, pode até mesmo
ocorrer uma tresloucada incursão militar venezuelana no Brasil.
O balão das pressões infla a
todo momento, e só há um caminho para esvaziá-lo: conversando! Conversando com todos, venezuelanos e cubanos.
E por que não fazê-lo com o próprio Maduro? Já chegamos ao ponto do
não-retorno? Não creio. Qualquer solução que se queira para a Venezuela, nas
presentes condições, passa por Maduro. Essa a tarefa que a diplomacia pode e
sabe fazer, valendo-se, até mesmo, da diplomacia militar, pelos excelentes
contatos que ao longo dos anos mantivemos com os oficiais venezuelanos. Quando
comandei o Comando Miliar da Amazônia tínhamos, periodicamente, encontros com
os nossos congêneres fronteiriços, que em muito facilitavam as ações de
coordenação a implementar.
Agora, após esse 23 de
fevereiro, é o momento mais propício para conversar. Tornou-se evidente que o
governo Maduro está enfraquecido, tanto internamente como a nível
internacional. Mas ainda tem fôlego para durar. Os altos chefes militares e os
principais líderes políticos venezuelanos, muito provavelmente, têm esse
sentimento. Uma séria e convincente conversa diplomática pode abreviar a sua
saída de cena sem traumatismos.
A ação diplomática junto a
Maduro não exclui Gaidó e outros importantes próceres presos, como Leopoldo
Lopes e Henrique Caprilles, até chegar a tão desejada convocação para eleições
gerais.
A crise venezuelana deixa uma
importante lição para as forças armadas brasileiras. É imperativo reforçar o
nosso dispositivo militar, particularmente, em Manaus e Boa Vista. No tocante
ao Exército, há que se dotar a 1ª Brigada de Infantaria de Selva, entre outros
meios, com um regimento de carros de combate, um grupo de artilharia antiaérea e
um batalhão de infantaria mecanizado ( seja por criação ou transformação).É o
mínimo, capaz de permitir uma pronta
resposta a possíveis ameaças sobre a nossa fronteira norte.
Título e Texto: Gen Ex R1 Luiz Gonzaga Schroeder Lessa, Rio de
Janeiro, 24 de fevereiro de 2019
Não é bem assim.
ResponderExcluirO efetivo militar brasileiro é de 400000 militares, e cerca de 30 milhões de reservistas.
Temos 56 F5, e mais de 300 aviões entre AMX, tucanos e supertucanos.
23 kc-130
12 MI-24
16 Sikorsky UH-60
102 ENTRE NAVIOS E SUBMARINOS NA FORÇA NAVAL
80000 MIL HOMENS
AINDA SOMOS A MAIOR FORÇAS ARMADAS DA AMÉRICA DO SUL.
O TAL DE MADURO NÃO VAI INVADIR O BRASIL, NEM A COLÔMBIA o máximo é a Guiana Inglesa. Imitando a Argentina com as Malvinas.
Depois a Inglaterra vem e dá um couro nele.
A VENEZUELA TEM 30 SUKHOY-30 JÁ EM FASE DE DEPENAGEM.
A Venezuela não tem ARMAS para a suposta força de 1 milhão de homens.
O Sukhoi tem autonomia de 3000 km ou seja 1500 para ir e 1500 para voltar, Manaus fica a 1700 km e Brasília 4700 km.
O máximo que vão fazer é abrir crateras na Amazônia.
fui