domingo, 1 de maio de 2011

As contradições de José Sócrates: ao falar no congresso de Matosinhos, prometeu o que nunca fará. Ou: já fez ou está fazendo o que acusa outros de querer fazer.


No congresso do PS, em Matosinhos, José Sócrates avisou, em tom apocalíptico, que o PSD pretende criar uma ”total insegurança nas relações laborais”. Mas foi o Governo de José Sócrates que este ano decidiu, por exemplo, reduzir as indenizações dos trabalhadores em caso de despedimento. E é José Sócrates quem está a negociar com o FMI um pacote de austeridade que incluirá, sem dúvida nenhuma, maior facilidade nos despedimentos.
No mesmo discurso, Sócrates acusou, apoplético, o PSD de ser “pelo recuo da proteção social do Estado” e de estar “contra os serviços públicos”. Mas foi o Governo de José Sócrates que no famoso PEC IV propôs, por exemplo, que o salário mínimo passasse a “depender da situação económica” e anunciou fusões e extinções de vários organismos que prestam serviços públicos. E é José Sócrates quem está a negociar com o FMI medidas que incluirão, sem qualquer dúvida, a diminuição de serviços públicos e a redução de prestações sociais.
Ainda no discurso de Matosinhos, José Sócrates acusou o PSD de querer “privatizar, privatizar, privatizar”. Mas foi o Governo de José Sócrates que em março de 2010 defendeu no Parlamento um programa de privatizações, argumentando que “o País enfrenta hoje novos riscos que não enfrentava” e que era essa “a pura e cristalina das verdades”. E é José Sócrates quem está a negociar com o FMI uma intervenção na economia que incluirá, sem qualquer margem para dúvidas, um extenso programa de privatizações.
O primeiro-ministro ganhou as últimas eleições com uma técnica simples, que consistia em esconder a verdade das finanças públicas. Prepara-se agora para fazer outra campanha de ilusionismo político. O que José Sócrates diz não tem nenhuma aderência à realidade – mas também não precisa de ter. Basta-lhe dizer aquilo que os eleitores querem ouvir: que o futuro é radioso, que o Estado tomará conta deles e que não faltará dinheiro a ninguém. Se as pessoas já acreditaram nisso uma vez, podem perfeitamente acreditar uma segunda.
Editorial, Sábado nº 363, 14 a 20-04-2011

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