domingo, 8 de maio de 2011

As escolhas de Sócrates que deixaram o País exangue serão comparáveis à escolha infeliz de um cabeça de lista do PSD para Lisboa?

Cartaz de propaganda soviética

Maria João Avillez
Propaganda e pesada. De repente, portugueses de carne e osso, como eu, cabeça, tronco e membros, olhos, nariz e boca, têm como plausível, verosímil (e quem sabe se “bom”) que “Sócrates limpe ‘isto’ outra vez” e que “o PSD afinal, perca”.
Aparentemente não ocorrendo a nenhum dos meus conterrâneos que por muitos erros, debilidades e gafes que pratique, exiba ou promova o PSD, nenhuma delas é sequer comparável às já praticadas, exibidas e promovidas pelo PS em Portugal durante os últimos anos.
As escolhas de Sócrates que deixaram o País exangue serão comparáveis à escolha infeliz de um cabeça de lista do PSD para Lisboa? Acenar com a (eventual) venda parcial da Caixa tem o mesmo alcance e consequência que esconder défices e mentir sucessivamente sobre as contas públicas? A obssessiva teima em não ver a crise, a demora doentia em lhe responder, a esquizofrénica reação de que “estávamos no bom caminho”, o sistemático recurso a medidas que nunca chegavamm e dois dias depois eram substituídas por outras, é igual a um mau rascunho de um projeto de revisão constitucional? Insistir na terceira auto-estrada e persistir no TGV é igual à exibição de contradições? Mentir é igual a não mentir?

A propaganda dita-nos o aplauso e impõe-nos o regozijo face à “capacidade de luta” de Sócrates, vetando – obviamente – o exercício de questionar a utilidade, o destino e a consequência dessa luta: que ganhou, melhorou ou cresceu o país com a “energia” de Sócrates, o “empenho” de Sócrates, a “persistência” de Sócrates? Da Saúde à Educação, da Administração Pública à Justiça, com PRACE, Simplex e Magalhães pelo meio, que sobra do consulado socialista além da ruína, do desalento, de uma nova vaga de emigração?
Reformas, mudaanças, “diferenças”, não houve (ou quase) mas a propaganda diz que “houve”. Défice, dívida, buracos e descalabro das contas houve, mas a propaganda ontem dizia que “não” e agora, perante o já indisfarçável incêndio, diz que “a culpa é do PSD”. Diz até que não fora o seu veto ao PEC 4 e o FMI nunca teria vindo! Falso, como muito bem sabe quem é sério, quem se informou na boa fonte, quem está de boa-fé, mas não são esses os caminhos da propaganda.
Ela porém diz mais e por isso é perigosa: decidiu quem são os bons e os maus, arregimentou o exclusivo do patriotismo e da verdade, separou os campos entre servidores e oportunistaS, experientes e amadores, sérios e desonestos. O PS tem o exclusivo do bem-servir-a-Pátria, o PSD não tem sequer direito de cidade: de cada vez que abre a boca – seja para o que for – saltam-lhe ao caminho os profissionais da propaganda para desfazer em pó projetos, ideias, propostas (por frágeis ou incompletas que ainda sejam). Horas depois, os media normalmente zelosos imprimem que o PSD é um deserto de ideias ou amplifica que não se percebe o que ele quer.
Mas há mais: esta propaganda, bem organizada e muito profissionalizada – tem agenda diária, meios poderosos, profissionais sem frio nos olhos e um inesgotável uso do poder -, redescobriu ainda o filão do autoritarismo. E ressuscitou-o sem custo, o português sempre se reviu – e obedeceu – a uma voz três oitavas acima.
A propaganda está tão bem adubada que conseguiu virar o bico ao prego em duas vergonhas de Sócrates: 1) a pública humilhação de Teixeira dos Santos, expulsando-o do clube restrito e sancionando-o pelas más cumplicidade com Belém ou com o Banco de Portugal, por ecemplo. Como um esfregão, foi usado atá ao fio, “culpado” até fazer jeito e agora cuspido ao chão: eis o que eloquentemente fala pelos autores da façanha; 2) dar feriados, pontes e folgas como tem sido “habitual”.
Mas haverá algo “habitual” à beira do abismo? Fechado para férias o País parou, os portugueses foram para Cancún ou Albufeira, envidaram-se mais, mas o PS é patriota e Sócrattes um bom amigo.
Gente perigosa, digo-lhe seu. Tão perigosa que está a caminho de convencer meio País e de comover a outra metade de que estão inocentes do descalabro, do vexame e da miséria.
Ao pé disto, os erros dos PSDs deste mundo são como ramos de flores.
Maria João Avillez, Sábado, nº 365, de 28 de abril a 4 de maio de 2011

E podem deixar de nos mentir?

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