Em Portugal usa-se a
classificação “social” como uma espécie de desculpa quanto à responsabilidade
individual dos membros de um qualquer “movimento” nos atos que praticam. O
vandalismo das claques de futebol tem sempre um sociólogo qualquer a explicar
que não se trata de crime, mas sim de um “protesto social” qualquer de jovens
desenraizados, desempregados, com uma qualquer “subcultura juvenil”, que
explica as pedradas e as violências sobre a polícia e os adeptos do outro
clube.
![]() |
Captura de tela: JP |
No caso dos distúrbios de
Londres, o mesmo tipo de interpretações sociológicas, que já ouvimos para os
queimadores de carros em Paris, vem ao de cima. Estamos perante um “movimento
social” que não se resolve prendendo, julgando os seus membros, nem varrendo a
rua com a polícia à bastonada. Pelo contrário, é preciso respeitar as “comunidades”
(cá são os bairros da periferia) e nem tocar com uma pena nos “jovens”
envolvidos, porque os “movimentos sociais” só se confrontam com medidas “sociais”
de integração.
Sucede que eu também penso que
há fatores “sociais” envolvidos nos distúrbios e que a homogeneidade dos seus
atores, o modus operandi, a mistura de violência gratuita contra a propriedade,
mesmo dos pequenos lojistas, o roubo de telemóveis e plasmas, a jactância das
filmagens para o Facebook e o Youtube de pôr um carro a arder, tudo isto aponta
para algo que pode ser classificado como “movimento social”. Só que penso
igualmente que nenhuma sociedade civilizada pode permitir que a ordem e a
segurança dos seus cidadãos, incluindo o direito de propriedade, seja posto em
causa por uma qualquer “subcultura juvenil” criminosa, pelo que uma das coisas
que tem faltado, e muito, em Londres é polícia, prisões e, para os culpados,
condenações. E, pelos vistos, faltam também canhões de água, um método bastante
civilizado de conter tumultos, que pelos vistos os ingleses só usam na Irlanda
do Norte.
Eu sei bem que palavras como “civilização”,
“ordem”, “crime” estão nos antípodas da sociologia da desculpa social, que as
consideram uma variante da linguagem do poder, mas sempre podemos ver as coisas
de outro modo sem sair do “social”. Se daqui a meia dúzia de dias os tumultos
continuarem, aparcerá outro “movimento social”, constituído por cidadãos
locais, pequenos comerciantes, lojistas, que se vão organizar em milícias para
defender as suas casas e as suas lojas. Nessa altura, um encapuçado a contar as
suas aventuras ao telemóvel ao mesmo tempo que apedreja uma montra corre o
risco de levar um tiro de caçadeira, ou uma sova monumental com barras de
ferro. Não é bonito de se ver, mas também é “social”.
Título e Texto: José Pacheco
Pereira, Professor, revista Sábado, nº 380, 11 a 17-08-2011
Edição: JP
Relacionados:
Os "sociólos" deveriam escutar Pauline Pearce...
ResponderExcluir(Claro que a viram e a escutaram, mas não lhes interessa ver, pois mostra-lhes o que eles não podem ver sob pena de revelar ao mundo o vazio e a hipocrisia das suas teses...)
Qual será a opinião da Sra. Suzella sobre as "pessoas zangadas e infelizes" da Síria??
ResponderExcluirE os esfomeados da Etiópia, coitados!, não podem contar com o apoio, ajuda e solidariedade das "pessoas zangadas e infelizes" que moram em Londres para lhes ensinar e instigar a derrubar os governos (ou arremedo de) que os deixam no estado lamentável que assistimos nos televisores...