terça-feira, 9 de agosto de 2011

"A fala de Sarney é menos inocente do que parece"


Sarney aproveita a aula de Arnaldo Jabor sobre a crise americana e dá a moral da história
Quando um colunista da Folha Online chegou à conclusão de que o que faltou a Barack Obama foi um PMDB, Sarney esfregou as suas mãos antediluvianas e pensou: “Eu sabia! Um dia o meu trabalho em favor da estabilidade seria reconhecido…” E aí o homem pôs para funcionar aquela mente aguda, capaz de análises realmente surpreendentes, que nos conduz a paisagens ignotas do pensamento. Leiam o que informa Gabriela Guerreiro, na Folha Online. Volto em seguida.
Sarney diz que negociações da dívida dos EUA foram “vergonhosas”
O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), classificou nesta segunda-feira de “vergonhosas” as negociações nos Estados Unidos que resultaram na elevação do limite da dívida do governo americano. Sarney disse que o país deu um “péssimo exemplo” ao usar politicamente o episódio na disputa entre Democratas e Republicanos. “No momento de uma luta política visivelmente destinada já com olhos nas eleições do ano que vem, eles ofereceram ao mundo esse vergonhoso exemplo de que os partidos políticos sacrificam (…). Foi um exemplo nada construtivo e eles estão pagando caro por isso”, afirmou.
Segundo Sarney, a crise nos EUA é “artificial” e provocou consequências em todo o mundo. “A Europa está com problemas sérios. Em alguns países, há problemas de liquidez, como a Grécia, a Irlanda começa a ter esses problemas, Itália, a Espanha. Isso tudo os Estados Unidos tomando a decisão que tomaram tem repercussão na Europa.” O presidente do Senado disse que a disputa política em meio à crise ganhou força com o crescimento do Tea Party - a corrente mais conservadora do Partido Republicano - nos EUA.

O peemedebista disse não acreditar em impactos imediatos no Brasil nem no Congresso Nacional. “Em todos os momentos de dificuldades do país, temos encontrado um terreno comum no qual protegemos os interesses do país e abandonamos essa luta dilacerante de partidos. Assim foi na Independência, assim foi na República, assim foi em 1930 e assim foi em 1985.” Sarney disse que o Brasil está preparado para enfrentar a turbulência no mercado internacional. “Estamos absolutamente preparados. Isso não significa que não tenha conseqüência no Brasil qualquer grande crise mundial. Mas até o momento, essa crise ainda não está configurada”, afirmou.
Voltei
Sarney concorda com Arnaldo Jabor: “É tudo culpa do Tea Party”. O que faltou a Barack Obama? Ora, um Michel Temer, um Wagner Rossi, um Renan Calheiros, um Romero Jucá, essas expressões do “pensamento moderado” brasileiro, que tanto bem têm feito ao chamado “presidencialismo de coalizão”, com suas disposições para a negociação.
O presidente do Senado e do Congresso brasileiro nem mesmo sabe — talvez finja não saber; de fato, eu acredito na ignorância e no cinismo conjugados de Sarney — que a crise européia tem vida própria e não decorreu da americana, não. Os desacertos são coordenados, sim, mas o Tea party não tem nada a ver com a forma como a Grécia, a Espanha ou a Itália resolveram conduzir suas respectivas economias.
Quanto ao rebaixamento da nota dos EUA, decidida pela S&P, quem leu o relatório sabe que a agência — que também não é a voz de Deus, tanto que os títulos continuaram a ser negociados normalmente — considerou que o corte de gastos aprovado pelo Congresso, no acordo possível entre republicados e democratas, foi considerado pequeno, tímido, insuficiente. Ora, os democratas queriam cortar ainda menos… Ou por outra: se a turma de Obama tivesse vencido a parada e aprovado a sua proposta original, as razões para o rebaixamento seriam ainda mais evidentes. Ademais, na reta final, quem radicalizou o discurso e a posição foram os democratas.
Eu sei que Sarney parece desimportante. Sob muitos aspectos, é mesmo! Mas é o homem que preside o Congresso brasileiro. Ao investir nessa vigarice política e intelectual de acusar o confronto político dos EUA como o responsável pela crise mundial — e, nesse sentido, acaba endossando a análise de muitos bestalhões no Brasil —, investe, se querem saber, contra a VIRTUDE da política americana, não contra o DEFEITO.
De fato, tivesse Obama uns ministérios e umas estatais para distribuir; vigorasse nos EUA o “presidencialismo de coalizão” à moda brasileira, talvez não se chegasse àquela crise da dívida… A corrupção é que já teria levado a economia americana para o buraco. A propósito: foi o excesso de consenso na economia, que vem lá do governo Clinton e vigorou em boa parte do governo Bush, que levou os EUA à beira do precipício. Não fosse o Tea Party uma conseqüência da crise, eu diria que ele apareceu tarde demais. Faltou confronto. De certo modo, a esquerda republicana e a direita democrata, que  estão, na prática, no comando desde o governo Clinton, fizeram o papel de “PDMB”… Deu no que deu!
A fala de Sarney é menos inocente do que parece. Nosferatu está alertando para a importância de ser “prudente”, de se manter o ambiente da “negociação”, de evitar “radicalizações”… Os EUA estariam perdidos, mas o Brasil teria encontrado o caminho, sem “lutas dilacerantes”: na Independência, na República, em 1930… Foi assim que nos tornamos um país governado por uma casta de vampiros.
Reinaldo Azevedo, 08-08-2011

Este último parágrafo do texto de Reinaldo Azevedo é DEFINITIVO. Só não compreenderá quem não quiser!...

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