Ontem recebi a notícia do
falecimento de um velho companheiro de trabalho. Quando eu era controlador da
Escala de Voos da VARIG, nos idos de 1962, assumindo o meu turno de serviço a
partir das 18 horas, naquela tarde/noite de 27 de novembro, o colega que me
antecedia ao serviço, informou-me sobre os voos internacionais da noite (854,
800, 810, etc). Naquela época ainda não voávamos para a Europa, já estavam
fechados com as suas tripulações todas confirmadas, exceto o 810, B-707,
GIG/LIM/LAX, isto porque o M/V escalado, NUNHOFER, base POA, não havia se
apresentado no Rio de Janeiro para efetuar o voo. Ele estava previsto vir
POA/RIO no voo 100 e segundo relato do colega não tinha vindo. Naquela época,
falar-se ao telefone era muito difícil, mas assim mesmo consegui contato com a
Escala de Voos POA e me informaram que ele havia vindo fazer o voo, mas não
sabiam de que maneira, pois não tinha embarcado no voo 100 como era de praxe.
Diante disto acionei o M/V de prontidão, que era o M/V GONÇALVES. Este era um
dos mais antigos na senioridade de M/Vs da empresa, morava no Rio e um dos
poucos que tinha telefone em casa. Diante da emergência liguei para ele e o
coloquei "stand-by" para fazer o voo, e ele de pronto confirmou,
ficando muito feliz por se tratar de fim do mês, e uma ida noturna a Los
Angeles garantiria um bom somatório nas suas horas extras. O voo, se não me
engano, decolava às 23 horas e isto já era por volta das 19 horas e o "véio"
GONÇALVES insistia para que eu tomasse logo uma decisão pois tinha que se
preparar para a jornada. Ao redor das 20 horas me telefonam do Galeão (DO dizendo-me que o M/V NUNHOFER já estava lá, cerca de 3 horas antes da
decolagem, se apresentando para o voo, e ao falar comigo disse-me que havia
vindo via São Paulo e tinha avisado à Escala POA, só quem estava lá em POA à
tarde, não avisou-nos. Diante disso confirmei ele no seu voo de Escala Fixa e
telefonei novamente para o GONÇALVES liberando-o da programação, sendo a reação
dele de muito aborrecimento, alegando, principalmente, o prejuízo financeiro
que ele teria, inclusive ameaçando-me de comunicar à chefia esta minha
decisão, na ótica dele, errada. Tudo bem, à meia-noite encerrei o meu turno,
com serviço 100%, voos previstos decolando e com os voos da manhã todos "checados",
indo para casa, pois no dia seguinte assumiria na Escala o turno das 12 horas.
Ao chegar na VARIG no outro
dia deparo no setor um tumulto muito grande, inclusive lá estava o M/V
GONÇALVES que ao me ver, com os olhos cheios de lágrimas, agradecia de eu ter
tomado a decisão de não colocá-lo no voo 810 e que seria eternamente grato a
mim, como sempre foi durante estes quase 50 anos passados, isto porque o
PP-VJB, avião do voo 810, havia se acidentado na chegada a Lima e não havia
sobreviventes.
Ontem, recebo a notícia triste
do falecimento do amigo "véio" GONÇALVES, acho eu que beirando os 90
anos (ou mais), mas feliz, porque, indiretamente, fui o responsável pela
sobrevivência dele durante estes anos todos.
Descanse em paz, amigo
"véio", porque nós continuaremos, enquanto pudermos, trabalhando pela
nossa vitória jundo ao AERUS.
Texto: Nelson Pereira Ribeiro/APRUS
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Boeing 707, PP-VJA, Varig,
1958, foto: DR. Colaboração: Rodolfo Waltemath
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Prezado Sr. Nelson:
ResponderExcluirInteressante esse "causo" acerca do M/V Gonçalves e de como o Sr. acabou, sem saber, salvando a vida do mesmo qdo do fatídico acidente com o PP-VJB.
Aliás, interessante que o 'VJB voou de janeiro a junho de 1961 arrendado para a EL AL, voando com trip. técnica brasileira e sem títulos "Varig" na fuselagem e cauda.
Estou escrevendo um livro sobre o 707 na Varig e no Brasil e gostaria de saber se poderíamos trocar msgs acerca do clássico avião e sua operação na saudosa Varig.
Atenciosamente,
Marcelo Magalhães
(707ppvja@gmail.com)
Marcelo,
ResponderExcluirNelson Ribeiro já foi comunicado sobre este seu comentário.
Obrigado./-