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Mão de Deus – escultura no
deserto do Atacama, Chile,
entre as cidades de Antofagasta e Copiapó em viagem
de 2008
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Após adquirir minha primeira
motocicleta, cerca de vinte anos atrás, quando achei que já tinha juízo
suficiente para adquirir uma, nos finais de semana me aventurava em minhas
primeiras viagens, até as cidades mais próximas, iniciando com as que estavam a
20, depois 50, 100, 200 quilômetros de distância.
Eram passeios totalmente
descompromissados, sem nada para fazer no destino, hora para partir ou
retornar. Mal chegava a um lugar já voltava, só interessado na liberdade, no ar
batendo no corpo e nas sensações que só quem já viajou de moto conhece.
Como diferença marcante entre
as viagens de carro e de moto, o que mais me chamava à atenção eram os
detalhes. Mesmo em caminhos por onde já havia passado dezenas de vezes de
carro, começava a enxergar árvores, desvios, entradas, topografias, paisagens e
detalhes que nunca havia percebido.
Esse talvez seja um dos
motivos que mais explique a paixão dos que gostam de viajar de moto. Além das
sensações, enxerga-se muito mais do que quando estamos de carro, talvez pelo
enclausuramento provocado pela própria estrutura do carro, as colunas, os
vidros fechados e a música, que praticamente nos isolam do que se passa do lado
externo.
Enganam-se os que acham que os
motociclistas são loucos, que correm demais, usam drogas, arrumam brigas e
coisas do gênero. Isso é coisa de filme americano, de bandos de velhos
arruaceiros, que andavam em bandos com suas motos, arrumando confusões e
amedrontando todos por onde passavam, mas isso não existe por aqui.
Existem, é claro, diversos
tipos de motocicletas e usuários de diversas idades, cultura e educação, que
delas se utilizam de formas distintas, mas basta observar um pouco para
percebermos que “loucuras” com motos só são realizadas pelos motoboys, com
motos pequenas, que realizam verdadeiro zigue-zague no trânsito ou pelos jovens
que possuem motos esportivas enormes, mais “tensas”, que fazem barulho, dão
grandes aceleradas e atingem velocidades enormes em apenas uma quadra de onde
partiram, disputam arrancadas em ruas e avenidas, correm muito e morrem
bastante.
Quem gosta de viajar de moto
raramente anda na cidade e se anda, é muito lentamente, curtindo sua máquina.
São os que já possuem os cabelos brancos, com estabilidade financeira
suficiente para investir entre cinquenta e cem mil dólares em uma dessas
máquinas do tipo Custom, Big Trail ou Touring, para passear, viajar, enfim,
aproveitar a vida em seus momentos de laser, e com elas partem, só com as
esposas, ou em companhia de vários outros casais, em busca de lugares tão
distintos quanto uma cidade próxima, ou até outro país, em viagens que podem
durar dias, semanas – como uma de vinte e oito dias que realizei até o Chile -,
ou meses.
Pressa é o que menos possui quem
se dispõe a realizar uma viagem dessas. Vamos parando, conhecendo, tirando
fotografias, descobrindo locais, vegetações, animais, alimentos, pessoas,
idiomas e culturas diferentes da nossa. A obrigatoriedade de chegar a
determinado local em data e horário pré-determinado nunca existiu nessa minha
viagem. Não havia nenhum hotel reservado. Chegando a uma cidade é que procurava
aposentos e os centros de informações públicas, onde obtinha as dicas de locais
turísticos. Se gostasse, ali permanecia por um, dois ou três dias, passeando,
conhecendo. Caso contrário, partia no dia seguinte, sem hora para acordar ou
para a saída.
As experiências vividas em
viagens assim jamais serão esquecidas, pois são maravilhosamente ricas em
detalhes. Os que viajam de carro não percebem as mudanças de ares, da
temperatura, dos cheiros dos campos e matas, mas de moto, sentem tudo em sua
plenitude.
Enxergar o que existe entre dois pontos, as paisagens e detalhes que
poucos viram, é a grande diferença entre viver a vida ou passar por ela.
Título, Imagem e Texto: João
Bosco Leal, Jornalista, escritor, articulista político e produtor rural, 02-03-2012
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