Isabel Stilwell
Deixem-me ser um bocadinho provocadora neste
Dia da Mulher. Sei perfeitamente que estamos longe de uma igualdade de
direitos, mais do que merecida, das injustiças que se cometem contra as
mulheres, e dos crimes de que são alvo em países onde ainda não passam
de “coisas”, mas nada disso
invalida que no mundo ocidental nos tornámos nas piores inimigas de nós mesmas.
O nosso quadro mental não muda
com a facilidade com que desejamos, como provam os comportamentos de risco que
se vão mantendo, apesar de racionalmente o seu actor saber e tornar a saber que
são perigosos. Da mesma maneira, embora com a cabeça fria sejamos perfeitamente
capazes de rebater os estereótipos de género que herdamos, na prática
continuamos a exigir de nós mesmas ser a melhor das mulheres, mães e profissionais.
Impedindo muitas vezes os homens de
partilhar muitas das “nossas” tarefas, porque quando os deixamos cumpri-las
sentimo-nos culpadas. Preferimos deter o poder e delegá-lo a gosto e,
francamente, não admira que muitos homens desistam de fazer o jantar, vestir os
filhos ou arrumar um quarto se depois passamos em revista o seu trabalho, como
a senhora do anúncio do teste do algodão. Os mais espertos, aliás, aproveitam
rapidamente a desculpa de que não são de facto dotados para tarefas femininas,
argumento que elas aceitam como se fosse natural que um gestor, um ministro ou
um profissional de outra área qualquer fosse tão mentecapto que missões como
fritar umas iscas ou mudar uma fralda o ultrapassasse.
O pior é que as mulheres nesta
ânsia de serem supermulheres caem na armadilha que elas próprias criaram, e andam
de língua de fora, sem um minuto para si mesmas, exaustas e desanimadas.
Ou, igualmente tristes,
convencem-se que só podem desempenhar um dos papéis, abdicando de ser mãe em favor
da carreira, ou da carreira em favor de ser mãe, e por ai adiante. Hoje é um
dia tão bom como outro qualquer para começar a acreditar que felicidade e
perfeição não são sinónimos, e ainda bem.
Título e Texto: Isabel
Stilwell, jornal "i"
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